4.O PRIMEIRO MÊS

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Oficialmente não éramos namorados. Não houve um pedido. Não houve declarações, mas havia amor, disso eu tinha a certeza. Precisamente um mês depois daquele primeiro olhar na discoteca, eu perdi aquilo que, dizia a minha avó, era mais valioso em mim. A minha pureza. A folha de papel que era branca e lisa, ficou amarrotada. Não foi nada como eu esperei. Não foi num quarto de hotel cheio de pétalas de rosas e iluminado à luz das velas. Não foi no banho. Não foi numa cama. Não foi na parede das traseiras de um bar imundo. Foi num carro. Num parque de estacionamento abandonado.
- Vem para o meu colo. - disse ele, depois de estacionar o carro e sentir que estávamos seguros naquele lugar, mas eu hesitei. - Vem para o meu colo, Eva. Quero-te. Agora. - a voz dele era urgente, apaixonada, mas fria.
- Agora? - eu não sabia o que fazer, o que pensar, não sabia se lhe havia de dizer que não estava pronta, não sabia se ele sabia que eu ainda era virgem, não sabia nada. Mas fiz o que ele pediu.
Ele sorriu e, de início, foi muito querido para mim. Senti-me uma princesa no meio dos seus beijos, mas depois algo mudou. Ele desapertou as calças com pressa. Meteu a mão por baixo do meu vestido com brutidade e com urgência. Entrou dentro de mim de uma forma horrível. Magoou-me. Mas eu não conseguia falar. Não consiga olhá-lo nos olhos. Não senti magia nenhuma. Sentia-me a própria espectadora do momento que devia ser um dos mais especiais da minha vida. Fiquei aliviada quando ele acabou e quando percebi que não ficou nada dentro de mim, porque de tanto lutar, o motor não ficou a trabalhar como deve ser.
- Leva-me para casa. - pedi-lhe, mas ele não ouviu porque estava numa luta interior. Com as mãos a segurar a cabeça, a culpar-se pela vulnerabilidade da sua masculinidade.
Saí do carro sem me despedir e fui para casa. Não estava ninguém em casa e isso deixou-me mais tranquila. Pela primeira vez em dois meses, entrei no quarto da Verónica, a minha falecida irmã. Peguei numa t-shirt e, depois de perceber que o seu cheiro ainda estava presente, levei-a para o meu quarto e fechei a porta. Tomei um banho, esfreguei-me o mais que pude até sentir que a minha pele não estava impregnada com o cheiro e toque dele. Vesti um par de cuecas, enfiei a camisola da minha irmã e tomei uma mão cheia dos primeiros comprimidos que encontrei na farmácia da casa de banho. Eu só queria paz.

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