Capítulo 27

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André

Enquanto Maria ia para a cozinha resolver com as meninas o que elas fariam de almoço, eu e meus irmãos voltamos para o escritório para começar a esquematizar o plano de ação.

— Ela mudou da água para o vinho — Álvaro comentou assim que fechei a porta.

— Ela é assim, a versão que conheciamos era o escudo de proteção contra tudo que foi feito a ela.

— Imagino que não tenha sido fácil reviver tudo — por um momento fiquei pensando em tudo que ela tinha me contado, em todos os medos que eram tão nitidos em seus olhos. Na forma como ela sofreu. — E tenho certeza que isso também afetou você — Antônio continuava me olhando de perto.

— Eu nunca pensei que alguém pudesse sofrer tanto. — olhei para ele e para Álvaro que tinham suas próprias batalhas e mesmo assim continuavam dia após dia — Não sei como conseguiram passar por tudo isso sem surtar.

— Quando o amor está presente, não conseguimos parar até ver a pessoa bem. Emma precisava de mim desesperadamente e eu fiz o que foi possível para que ela ficasse bem. Rose acabou conhecendo o Antônio por um erro de percurso, mas acho que no final, conseguimos achar os nossos caminhos.

— Erro de percurso? — Antônio o olhou irritado e comecei a ri.

— Não vou dizer que foi intensão minha casar minha cunhada com você, mas já que ela se apaixonou, ia fazer o que? — ele se sentou na cadeira debochando da cara de nosso irmão mais velho.

— Eu nem sei porque ainda escuto você — ele negou com a cabeça e voltou a me olhar. — Vamos voltar ao que realmente é importante.

— Eu não quero comprar nada nessa cidade — falei de uma vez. — Eu quero tirar Maria Rita daqui agora. Nem que isso faça com que eu perca alguma fortuna com a quebra de contrato.

— Irmão, não podemos pensar apenas em sua esposa, ela não é a única a sofrer por aqui. Como investigador da coroa eu tenho que informá-los da situação da cidade e eles resolveram as medidas a serem tomadas.

— Então eu a levo embora e volto — falei me sentando. — Dúvido que você colocaria a sua esposa em risco desse jeito.

— Eu não achei que havia tanta coisa assim — ele falou me encarando — Me desculpe por ter achado que seria mais simples.

— Antônio, você não imagina a dor que ela carrega, as marcas fazem com que ela lembre disso sempre.

— Marcas? — Tanto ele quanto Álvaro me encararam esperando o restante da história. Suspirei, eu não sabia se queria contar sobre isso a eles.

— Ele lacrou a casa onde ela morava, com ela e os pais dentro e colocou fogo. Os pais dela morreram tentando abrir um buraco para ela sair. Ela se queimou no processo e demorou a conseguir socorro apropriado. Quase morreu — fechei os olhos me lembrando dela.

—Esse homem maldito colocou fogo nela? — Álvaro estava abismado.

— Essa parte eu não sabia, os registros dizem apenas que a casa pegou fogo e que nenhum corpo foi encontrado, mas mesmo assim os deram como mortos.

— Os três? — o olhei de relance.

— Os três — Antônio confirmou.

— Mas se não acharam os corpos, pode ser que os pais tenham conseguido fugir, não pode? — isso era uma coisa que eu queria muito poder dizer a ela.

— Não achei nada nas buscas que fiz na região. Se eles conseguiram fugir, devem ter mudado de nome e podem estar muito longe.

— Mesmo assim, se houver uma chance eu gostaria de tentar achá-los.

— Vamos deixar isso para depois que resolvermos o caso com o Coronel. Precisamos de provas para que a coroa mande prendê-lo, já que a cidade inteira é comprada por ele.

— Eu acredito que não será fácil, ele sempre tem um álibi, sempre tem alguém que o defenda.

— Eu acredito que vamos encontrar um ponto fraco. — Antônio retrucou.

— Posso mandar minha esposa de volta para Antunes?

— Se ela quiser ir, eu não irei me opor.

— Acho que o que ela mais quer é sair daqui. Hoje mesmo vou providenciar sua partida. Não vejo razão para que ela fique aqui já que chegarão.

— Concordo — Álvaro falou do outro lado da sala — Não acho justo ela ter que ficar revivendo esse tormento sabendo que nós três podemos resolvê-lo.

—Então fica descidido assim. Mande Joaquim a levar para casa. Jorge ficará aqui para nos ajudar com o que for preciso com relação a transporte.

— Vou mandá-la arrumar as coisas agora mesmo.

Sai da sala e subi as escadas, tinha certeza que nesse momento ela já estaria em seu quarto roendo as unhas de ansiedade.

— Maria, posso entrar? — bati em sua porta.

— Claro André, não precisa nem perguntar. — seu sorriso era vacilante.

Fui em sua direção e me sentei na cama a sua frente.

— Quero que faça suas malas. Amanha cedo você irá voltar para Antunes. — um sorriso fraco passou por seu rosto por miseros dois segundos.

— E você? — ela se aproximou mais e segurou minhas mãos. — Não vamos juntos?

— Não, você precisa ficar segura em casa. Eu vou quando meus irmãos forem. Nós vamos resolver tudo por aqui.

— Então eu irei ficar também, vou quando vocês forem.

— Mas não é seguro e você sabe.

— Da mesma forma que não é seguro para mim, não é para você.

— É diferente — me levantei da cama.

— Sei que é, ele já tentou me matar. Vocês ainda estão entrando no caminho dele.

— Maria...

— Não, André. Eu vou quando você for. Juntos. — ela me abraçou pelas costas — Já ficamos tempo demais separados para que fiquemos de novo. Eu não tenho mais medo. Não com você do meu lado.

Me virei para encará-la.

Tinha certeza que não teria paz um só minuto, mas concordei com suas palavras no segundo em que a beijei com todo o amor que crescia em meu coração. Era uma batalha que enfrentariamos pela primeira vez, juntos.

O conde domado - Livro 3 - sem revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora