Capítulo 6

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Lana

Não foi um noite fácil.

Nunca era, mas aquela em especial se tornara uma das mais difíceis. Nos poucos minutos que tive de sono, minha mente me arrastava novamente para o incendio, mas deste vez não era meus pais que estavam lá pedindo para eu fugir, era André que me pedia para ficar.

E eu corria com todas as minhas forças em sua direção, mas nunca o alcançava. Eu sempre perdia, sempre distante. As chamas lambiam seu corpo e ele gritava por mim, desesperado. E eu continuava correndo para ele sem conseguir chegar. Os gritos estavam acabando comigo, sua dor era mais do que eu poderia suportar e vê-lo enxia meu peito de medo.

Acordei várias vezes com a imagem dele começando imerso nas águas e terminando no meio do fogo. Sues olhos assustados com o que viram também permaneceram em mim a noite toda. Ele buscava uma forma de tentar entender porque aquilo estava acontecendo com ele e eu não sabia o que dizer. Só conseguia pedir para que ele não desistisse. Eu precisava que ele lutasse ou tudo seria em vão.

Me levantei assim que o sol lançou seus primeiros raios no céu. Eu teria que atravessar a casa para chegar até o banheiro e com certeza poderia cruzar com ele a qualquer momento, mas seria um risco, eu não teria mais como escapar de sua pergunta que decidiria o rumo de nossas vidas.

Cheguei no banheiro sem dificuldades. A banheira permanecia cheia e os respingos de água ainda eram visíveis no chão. Coloquei minha mão dentro dela para puxar a tampa do ralo e deixar com que a água se fosse, fria como eu achei que ele estivesse.

Eu não podia perdê-lo, mas também não podia contar tudo o que está guardado dentro de mim a tanto tempo. Eram duas forças em choque dentro do meu peito.

Sabia que ele merecia a verdade, mas não conseguia contar.

Como eu poderia dizer que ele foi o estopim para eu lembrar de tudo?

Que eu fiquei tão feliz antes das duas semanas que antecederam nossa casamento, que algo dentro de mim desbloqueou o medo que eu sentia e me trouxe tudo a tona, me deixando apavorada a ponto de não contar nada a ele?

Ele entenderia o que eu era? Quem eu era? O que me deixou assim?

Eu simplesmente não tinha resposta para nenhuma daquelas perguntas, como teria para a perguntar que tinha que responder ainda hoje?

Terminei de me limpar e fazer minhas necessidades e voltei a colocar a máscara que eu sempre usava quando iria para um combate com ele. Era necessário, mesmo que ontem a noite eu tenha mostrado uma dor tão antiga que nem eu mesmo consigo compreender.

Quem sabe ele não se lembrasse de nada, contudo eu nunca me esqueceria de como ele me acolheu em seus braços e me levou para o quarto. Que ele permaneceu ao meu lado por miseros segundos e que isso foi mais do que eu tive a vida toda.

No corredor, dei de cara com dona Ana, que aparentemente já me aguardava.

— O senhor André a aguarda na biblioteca — falou seca. Ela nunca gostou de mim, e eu entendia porque. André era a perfeição em forma de homem, sempre carismático, auxiliando em tudo que lhe era pedido. Presente, mais do que muitos maridos por ai. Ela esteve conosco desde o começo do casamento e tentou me fazer quebrar a armadura que coloquei a minha volta, mas eu a afastei e a ele, e a todos que tentaram se aproximar. Ela foi a que mais o viu definhar, até mais do que eu. Os surpreendi várias vezes falando sobre nós e ela fazia questão de deixar claro que eu não era mulher para ele.

— Obrigada — falei em meu tom frio. Eu já não me importava mais, com nada.

Voltei para meu quarto e me olhei mais uma vez no espelho antes de ir até ele, mesmo que ele não me visse como sua esposa de fato, eu não gostava de ficar mal arrumada perto dele. Até o fiz fugir essa noite quando acordou antes de mim. Eu era uma piada.

O conde domado - Livro 3 - sem revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora