Capítulo 3

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Lana

Dentro do quarto, eu andava de uma lado a outro pensando em como tirar aquela ideia louca da cabeça dele. Eu não queria voltar a Colinas nunca mais na minha vida e nem por ele nem por ninguém eu faria isso. Nada me faria mudar de ideia.

Talvez se eu conversasse com Rose e pedisse para ela conversar com Antônio, se eu mostrasse o minimo sobre o meu passado. Disesse o quanto eu não queria ir para aquele lugar, quem sabe ela não me ajudasse a intervir junto ao irmão mais velho.

O que eu estava pensando, tenho quase certeza que essa ideia é de Antônio, acredito que ele tenha descoberto algo muito interessante naquela região, como bem me lembro, lá as terras são divinamente férteis e as propriedades tinham preços atraentes. Ele não teria porque não querer mandar o irmão para lá. Teria que ser algo muito forte para que tudo fosse desfeito e com certeza eu não contaria sobre o meu passado.

— Senhora? — Dona Ana bateu a minha porta e autorizei que entrasse. A encarei sem dizer nada — Chegou essa carta para a senhora — ela me entregou e saiu. Era o envelope que chegava todos os meses, do meu antigo lar, o convento. As irmãs sempre queriam saber como eu estava. Como era a minha vida e porque ainda não tínhamos filhos. Ah se elas soubessem. Elas eram tão curiosas, ainda mais depois que descobriram que André era filho de um Conde, acham que eu tenho uma vida de rainha e não posso negar, eu tenho uma vida muito melhor do que merecia.

Me sentei na ponta da cama e abri a carta, com cuidado, eu nunca sabia o que esperar delas.

" Querida Lana,

Mais um mês se passou e tudo o que você conheceu permanece igual. Aqui nunca a mudanças, são sempre as mesmas pessoas e os mesmos padrões. Você continua sendo a única que encontrou o amor de forma tão exorbitante.

Ainda aguardamos a sua visita, sei que não é dada a esse tipo de coisas, mas sentimos sua falta. Seus risos fáceis e sua gargalhada sempre nos cativaram, tenho certeza que seu marido deve amá-la tanto quanto nós.

Quando puder, venha nos ver, tenho certeza que o senhor André não se importará de trazê-la. Traga-o também. Padre Pedro quer vê-lo."

Meu coração se apertava a cada carta, as palavras eram sempre as mesmas, de saudade e carinho. Eu também sentia falta deles, mas eu não queria voltar. Não queria que descobrissem que a Lana sem memórias era muito mais divertida do que a com memórias.

Não havia mais risos em minha casa, não havia mais toques nem nada. Eu não permitia. Eu não sabia como lidar com aquilo. Eu só permitia olhar André e rezar para que ele continuasse aceitando aquela distância que eu havia colocado entre nós.

"Venha nos ver menina, não estamos ficando mais jovens e sabe que daqui um tempo nós voltaremos para nossa casa nos céus. Não se demore.

Que nosso amado Deus, lhe proteja e cuide de sua vida. Que ele lhe abençoe!

Com saudades, irmã Marta"

Apertei a carta no peito, pelos meus olhos as lágrimas já corriam.

Eu queria ser a antiga Lana, eu queria ser feliz e não ter esse monte de tormentos na cabeça. Eu queria ser feliz com André pelo resto de nossas vidas. Mas como?

Não existia um porquê para tudo isso, eu já tinha aceitado que era quebrada e que somente a mim cabia a vontade de ser consertada.

— Lana! — André bateu a porta aguardando que eu autorizasse sua entrada em meu quarto. Isso era mais uma coisa que a gente não compartilhava.

— Entra! — falei passando as mãos nos olhos limpando as lágrimas que ainda insistiam em descer por eles pelo tempo que se foi.

Seus olhos eram sempre avaliativos e mesmo que eu não dissesse nada e ele também não, eu sempre percebia que ele se importava mais do que dizia.

— Chegou mais uma carta do convento — falei antes dele questionar. André nunca pediu para lê-las. No começo sempre me dizia que me levaria quando eu quisesse, mas como sempre recusei, um dia ele parou de oferecer. André sempre foi um sonho e o que mais me doía era saber que eu estava destruindo uma pessoa maravilhosa.

— Como eles estão? — ele parou a minha frente com os punhos fechados, essa era a forma de ele não responder as vontades de seu corpo. A essa altura, eu já conhecia cada reação dele. Já me preparava mentalmente para as brigas, só de observá-lo.

— Estão bem, com saudades — olhei para carta em minha mão.

— Podemos passar por lá quando irmos para Colinas — fechei os olhos por um momento, como se aquilo doesse mais do que uma lança em brasa. Ele não tinha desistido da idéia. Não desistiria nunca.

Antônio pediu que fosse ver uma propriedade, mas eu não via a necessidade de eu ir com ele até lá, muito menos dele ficar 6 meses naquele lugar. Suas viagens sempre foram rápidas, sem qualquer problema. Isso me faz ter certeza que descobriram alguma coisa sobre aquele lugar e eu estava rezando para que não tivesse nada haver comigo.

— Ainda não desistiu dessa ideia? — quando abri os olhos ele estava agachado a minha frente e isso era novo.

— Me conta o que tem lá? — ele sussurrou e me assustei. — Eu não quero brigar, só quero entender. O que existe em Colinas que te faz tão mal? — fiquei impressionada em como ele tinha deduzido isso.

— Não é nada — me levantei para ficar afastada dele — Eu nunca fui para Colinas — menti.

— Lana, eu sei que você se lembra do seu passado. Eu simplesmente sei que está mentindo para mim desde o dia do nosso casamento. — eu congelei. — E mesmo assim eu te trouxe comigo. Mas eu não tenho mais vontade de continuar um casamento de fachada e de mentiras. — o encarei. Ele já estava de pé a minha frente me encarando da forma mais dura que ele conhecia. O rompante de carinho foi apenas por um segundo. Da mesma forma que eu me escondia, ele fazia o mesmo. — Tenho duas opções para você — respirei fundo — Ou você vai comigo ou mê dá o divorcio. Não vou passar mais uma ano da minha vida nesse inferno que criamos. — Eu sabia que esse dia iria chegar. Ele se virou e foi em direção a porta. — Você tem até amanha para me dar uma resposta — ele bateu a porta com força ao passar, me deixando ali estática sem saber o que fazer.

O que eu faria a partir de agora era o que mais me atormentava. Eu não queria me separar dele, nunca quis. Eu amava o André da forma que eu sabia. Mesmo me afastando e olhando para ele somente de longe, esperava que ele percebesse nos pequenos detalhes o quanto eu o queria bem.

Não foi da noite para o dia que isso aconteceu, quando estava no convento eu vi o homem lindo que me salvou do quase afogamento. Ele esteve ali por mim quando mais ninguém esteve. Até mesmo as meninas da convento não se dispuseram a tentar me salvar quando não consegui voltar a margem. Quando dei por mim, já estava sendo levada para o fundo pela corentesa.

Naquele momento eu prometi para mim mesma que se ele me escolhesse eu cuidaria dele todos os dias da minha vida, mas quando as memórias voltaram eu senti medo.

Um sentimento ruim se apoderou de mim, por saber do que as pessoas são capazes e fiquei com medo dele ser igual. Dele se provar um crápula como aquele homem odioso que destruiu tudo o que eu tinha.

Uma semana depois do nosso casamento, eu ainda não conseguia me aproximar dele. Nem fisica nem emocionalmente. André era um completo cavalheiro e eu era apenas mais uma criatura estragada. Ele tentava ser gentil de todas as formas, me fez ficar confortável e me deu tudo o que tinha.

Como eu explicaria para ele que o problema não era ele e sim eu? Que dentro de mim habtava uma pessoa sem pespectiva alguma. Ferida de tantas formas que não conseguia aceitar seu amor?

André merecia uma mulher prefeita e eu posso pontuar cada imperfeição que existe em mim.

Me sentia exausta ao longo desses 5 anos. Cada briga me maxucou ainda mais e eu o amei ainda mais intensamente. Eu via em seus olhos o quanto isso o feria e que ele queria me estimular a sair da casca. Me livrar dos medos, me mostrar que ele estaria ali por mim. Mas sempre fui covarde demais Nunca quis nada disso. Nunca aceitei seu carinho por mim com medo dele me machucar e era assim que a nossa vida seguia.

Levantei da cama e guardei a carta da irmã Marta dentro da gaveta junto com as outras dezenas. Dei mais uma olhada em todo quarto tentando imaginar o que vai acontecer comigo quando eu não ceder as vontades de André e ter que me retirar daquela casa.

Se eu ainda permanecia viva, era por conta dele.

O conde domado - Livro 3 - sem revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora