Capítulo 33

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André

Acordei sentindo que algo de muita grave aconteceria naquele dia.

A angustia corria por baixo da minha pele e nada parecia certo.

Já fazia 4 dias que Maria tinha voltado para Antunes e eu tinha certeza de que ela estava bem, afinal noticia ruim corre rápido. Ou talvez hoje seja o dia em que a notícia chegue até mim.

Me troquei no automático e desci as escadas esperando encontrar as casa ainda tão morta quanto eu estava por dentro. Não era algo com o qual eu tivesse o costume de sentir e me apavorava ter noção que talvez esse fosse o sentimento que Maria carregou por tanto tempo sozinha.

— Achei que seria apenas eu acordado — Antônio falou assim que pisei no último degrau.

— Não conseguiu dormir? — perguntei dando uma abraço rápido nele.

— Algo está me incomodando. — ela falou.

— Acordei com essa impressão também. Parece que algo não está certo — ele confirmou.

— Talvez seja o fato do coronel estar quieto demais depois de todos os questionamentos que fizemos.

— Não acho que seja isso. Parece algo mais profundo — ele confirmou com a cabeça.

— Acho que Kate ainda não chegou, teremos que nos virar por enquanto. — falei tentando espantar a sensação ruim que ainda dominava o meu peito.

— Não estou com fome — Antônio estava mais agitado do que eu. — Fico pensando em como Rose está. Desde que cheguei ela não me mandou nenhuma carta.

— Provavelmente não quer atrapalhá-lo.

— Ela sabe que não atrapalha — sorri de lado. Nunca tinha visto meu irmão tão conectado a alguém.

— Mesmo assim, sabe que mulheres tem o dom de criarem um mundo onde tudo para elas é como acham e não perguntam para ter certeza. — ele confirmou e eu ri. Minha pequena Maria era tão teimosa quanto.

— Ainda sim...

— Vocês também já acordaram? — Álvaro descia as escadas um pouco descabelado. — O que está acontecendo?

— Sensação ruim? — Antônio questionou e ele confirmou. — Ainda não temos ideia.

— Estou preocupado com Emma, será que ela não precisa de mim em casa?

—Acho que devem voltar. Eu resolvo por aqui e os mantenho informado.

— Não vamos embora enquanto não prendermos o patife. Sabe disso. — Antônio me olhou sério.

— Mas pelo menos deveriam saber o que está acontecendo em Antunes. Não é normal que nós três tenhamos uma sensação dessa e não esteja ligada diretamente a nossa família.

— André, não tente nos mandar embora. Sabemos o que estamos fazendo. — Antônio me alertou e bufei. Já era ruim o suficiente ficar longe de Maria. Com eles aqui, vendo o seu desespero era ainda pior.

Encarei os dois e por fim desisti de persuasí-los a irem para casa. Não teria como mudar a ideia deles.

A casa começou a ficar movimentada perto da manha, contudo a expressão do rosto dos meus irmãos só ficavam piores a cada hora. Sentamos para tomar café da manha e enquanto comiamos, Kate apareceu com uma bandeja onde se encontravam 3 cartas. Uma para cada um de nós.

Nos entreolhamos sabendo que coisa boa não sairia dali. Eu não imaginava o porque, mas devia ser algo muito grave.

Me recostei na cadeira apreensivo para abrir aquela correspondencia, mil coisas se passavam em minha cabeça. Respirei fundo duas vezes antes de começar a ler o seu conteúdo.

Meu querido André,

Não sabe a falta que sinto de estar com você nesses últimos dias. Mesmo sabendo que será por pouco tempo eu preferia que não existisse tamanha distância entre nós. Cheguei bem em nossa casa e percebi como nossas vidas eram vazias antes de Colinas. Quero mudar tudo em nossa casa e deixá-la com mais cara de lar do que de casa. Será uma aventura fazer tudo isso.

Sei que deve estar se perguntando porque estou protelando tanto em dizer o que é preciso, isso não faz parte de mim, mas a verdade é que não sei bem como escrever tais palavras.

Não é algo fácil, não é algo que eu queira escrever.

Preciso que volte para casa, mas não para mim. Preciso que volte, pois seu pai não está bem. E ele precisa de você e de seus irmãos. Precisa de todo o carinho da família e dos filhos que tanto ama.

Precisa de você!

Venha para casa, André.

Esqueça tudo nessa cidade e volte para sua família que precisa de você mais do que nunca.

Com carinho, Maria Rita.

Reli a carta mais uma vez e depois olhei para meus irmãos que estavam tão assustados quanto eu. Antônio foi o primeiro a sair do estado de topor e me olhou.

— Vou mandar Jorge preparar o carro agora.

— Faça isso. — me levantei — Vou mandar uma bilhete para aquele homem asqueroso dizendo que estamos saindo da cidade, mas que aguardamos resposta dele. Ou é capaz dele ir até Antunes atrás de nós.

— É provável. Faça isso — ele também se levantou.

— Se formos de cavalo não é mais rápido? — Álvaro ainda estava sentado. Seus olhos estavam marejados, provavelmente Emma tinha falado algo que Maria não tinha.

— A diferença é de apenas meio dia e chegaremos tão cansados que não ajudaremos em nada — Antônio o cortou. — Saimos em minutos. — ele atravessou praticamente correndo a sala e fui para o escritório escrever o bilhete para o coronel.

Três linhas foram o suficiente para explicar a situação e logo voltei para a sala onde ambos já me esperavam.

— Kate? — chamei a governanta que apareceu rápido. — Mande entregar isso ao coronel, assim que possível iremos voltar para resolver as coisas com ele. Precisam de nós em Antunes e não tenho tempo de ficar esperando que ele me de autorização — bufei.

— Sim, senhor — ela saiu apressada e nos encaminhamos para o carro.

Antônio sentou na frente com Jorge e eu e Álvaro ficamos pendurados na janela olhando para o céu rezando, para o que quer que tivesse acontecido com nosso pai fosse bem menor do que a sensação que paralisava o nosso peito.

Ele sempre foi um homem saldável, com certeza não haveria motivos para me desesperar. Puxei novamente a carta de Maria e a li. Foi um balsamo para minha alma ela dizer que nossa casa finalmente seria um lar e isso era o que mais me trazia calma diante de toda a situação desconhecida.

Mesmo com medo eu enfrentaria o que quer que fosse pelo bem dela e da minha família.

O conde domado - Livro 3 - sem revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora