Capítulo 12

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Lana (Maria Rita)

Acordei assustada depois de um sonho turbulento. Novamente na casa em chamas eu via André tentando sair e não conseguia ajudá-lo. Eu gritava desesperada para ele e ninguém vinha me ajudar. Eu estava sozinha vendo a única pessoa que eu ainda tinha morrendo na minha frente.

O sonho sempre voltava para o mesmo ponto, mas agora estava alterado. Não era mais meus pais, e eu tinha voz. Quando tudo aconteceu e=não tive voz para pedir ajuda, não consegui fazer nada, eu só sabia chorar. Dessa vez eu gritei, gritei por mais tempo do que eu poderia imaginar, mas não tinha ninguém, apenas um lugar megro, uma casa em chamas, meus gritos e os de André.

Por mais que eu tentasse, não existia mais nada além daquela escuridão esmagadora. A casa inteira destruida, sendo consumida pelas chamas e a porta a frente fechada com ripas de madeira me dando o vislumbre do meu marido.

Me sentei na cama com suor por todo o rosto, ao mesmo tempo que eu estava com calor, eu sentia frio. Meu coração parecia querer sair pela boca, batendo descompassado. A visão ainda estava fresca em minha mente e me fazia tremer em desespero.

Os lençois tão diferentes dos meus traziam a sensação de não pertencimento e isso me abalava mais do que eu gostaria. Olhei em volta e meus olhos não conseguiram se focar em nada em meio a grande escuridão que tomava o quarto.

Não prestei muita atenção no quarto quando entramos, meu foco estava inteiro em André tentando me acalmar e agora estava com medo do desconhecido.

— André? — sussurrei baixo rezando para que ele estivesse ali e eu não ficasse novamente sozinha em um lugar estranho. — André? — chamei de novo e me arrastei até a metade da cama.

— Aqui... estou aqui — ele se levantou de uma poltrona a esquerda da cama e caminhou devagar em minha direção — Acho que cochilei — falou se sentando e esfregando os olhos cansados.

— Deveria ter deitado na cama para descansar — falei séria vendo na penumbra seus olhos lutarem para ficarem abertos. Seu semblante estava abatido e eu queria trazê-lo para mais perto e cuidar dele da mesma forma que tinha cuidado de mim. O que me faltava era coragem para fazer tudo o que tinha vontade.

— Queria deixá-la avontade — agora seus olhos estavam fechados e ele se concentrava em me responder. Podia ver seu corpo balançando pelo esforço de se manter ereto.

— Venha, deite-se, você deve estar muito cansado. — puxei um dos travesseiros para mais perto de nós e o empurrei devagar até ele.

— Não, eu vou continuar cuidando de você. Descanse para amanha cedo estar disposta para a viagem. — sempre mandão. Sorri com sua tentativa de manter o controle sobre a situação. Agora era a minha vez de cuidar dele.

— Eu já dormi até demais — o puxei pela mão e ele não lutou, simplesmente se entregou ao sono que o dominou em poucos segundos.

Não tinha ideia de que horas eram, mas podia perceber que era muito tarde. Fui até o banheiro e fiz minhas necessidades. Em seguida me olhei no espelho e percebi que as manchas negras abaixo dos meus olhos tinham se suavizado, mesmo depois de tanto choro.

Não sabia como o encararia daqui algumas horas, eu tinha revelado a ele um dos meus maiores segredos e as perguntas deveriam estar fervilhando em sua mente. Eu queria poder falar mais, dizer tudo de uma vez o que me afligia e como eu estava desesperada para voltar para casa.

Tenho certeza que André entenderia, mas eu estava sem forças, não conseguia por para fora aquela dor que dominava meu peito e minha alma a tanto tempo. Eu queria arrancá-la de dentro de mim.

O conde domado - Livro 3 - sem revisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora