013. Emily - parte 1

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EMILY DICKINSON:

Noite passada foi algo conturbado. Era meu aniversário e Susan mal tinha me olhado nos olhos. Ela ria para todos os nossos amigos mas não esboçava emoções para comigo, será que eu a aborreci de alguma forma?

Eu estava sentada na poltrona procurando por algo que pudesse me dar pistas sobre o paradeiro do tal Thomas e, infelizmente, não encontrei nada. Estava prestes a bloquear a tela do celular quando vi a mensagem de Sue pedindo para que eu fosse me deitar ao seu lado. Por que essa mudança repentina logo agora? Será que ela viu alguma coisa em meu celular e ficou preocupada? Por um momento hesitei em ir na cama mas ela voltou a mandar mensagens, uma enxurrada delas. Prontamente me levanto e caminho até a beirada da cama, a vejo dando espaço para que eu me deite e assim o faço.

Nada digo e como ela não conseguia falar também, rapidamente um silêncio avassalador preencheu todo o ambiente. Ficamos abraçadas por algum tempo até que ela resolve colocar uma música e para a minha surpresa não foi Twenty One Pilots, era algum tipo de indie. Voltamos a nos abraçar até que ela pegou no sono.

Agora já é outro dia, Sue segue repousando sobre meu corpo, sua respiração está pesada. A última vez que senti sua respiração tão pesada nós estávamos no orfanato. Acho que pela primeira vez ela ela está realmente se permitindo dormir, pela primeira vez em muito tempo ela se sente segura para descansar.

Deposito um beijo em sua testa e inicio um lento carinho em seus braços. Sue está muito fragilizada, ela tenta fingir que está bem, faz inúmeros esforços para mandar mensagem ou se alimentar. Ela acha que eu não percebo tudo isso mas eu noto todos os seus detalhes.

— Eu te amo tanto, Sue — falo quando sinto sua respiração pesar um pouco mais e seu corpo se aconchegar ainda mais com o meu — não importa o quanto você tente me afastar, jamais irei permitir que você parta assim de novo, eu sei que deveria estar dizendo tudo isso com você acordada mas sei que tu faria aquela expressão que até hoje não sei o que significa. Não irei permitir que aquele Thomas sequer te olhe novamente, posso ser tudo menos uma quebra promessas, e isso é uma promessa, meu amor. Você não está sozinha. Eu te amo tanto! — sinto algumas lágrimas caindo — você acha que eu não percebo a maneira como você se olha? Não se despreze, Susie, essas marcas não te tornam alguém desprezível, aquele homem sim é desprezível! Eu queria tanto que você se visse da maneira que estou te vendo agora, tu continua linda, Susie, marcas e cicatrizes não são importantes, não para mim. Se eu não for a pessoa que faz o seu coração acelerar, tudo bem, mas essa pessoa em questão tem que te amar acima de qualquer coisa!

Volto a abraçá-la e após alguns minutos finalmente sou vencida pelo cansaço, não me deito em uma cama há muitos dias, meu corpo dói mas não mais que o dela e eu não posso ser egoísta quanto a isso.

+++

Acordo algum tempo depois, sinceramente não sei quanto tempo passou mas meu corpo está bem melhor. Um bocejo involuntário me escapa e depois finalmente abro meus olhos.  Sue está me encarando, será que eu a acordei?

— Bom dia — digo me recompondo — desculpa ter ficado muito tempo na cama, eu deveria ter te dado mais espaço — faço menção de levantar mas ela segura minha mão.

Susan está séria, ela me encara de cima a baixo e eu realmente não sei o que isso significa. Me ajeito na cama e fico sentada de frente para ela que parece estar tentando formular alguma frase.

— Sue, tá tudo bem. Não precisa se esforçar para falar nada.

Ela continua tentando falar mas nada sai de seus lábios, sinto a fúria de seu olhar e rapidamente levanto.

— Susie, relaxa.

— Em — finalmente ela consegue falar algo e ambas se surpreendem com isso.

— Você está me chamando? — ela confirma com a cabeça e sinto um brilho em seu olhar — isso me deixa tão feliz, Susie, mas não quero que você se esforce.

— Em — ela repete e volta e me encarar. Sento novamente da cama e seguro suas mãos.

Ela realmente está determinada a falar comigo hoje. Após pouco mais de um minuto em silêncio, pego seu celular e a entrego.

— Toma, fala por mensagem — ela nega com a cabeça.

— Emi... n... não — ela finalmente consegue falar algo.

— sem celular? Ok — guardo seu celular na mesinha ao lado da cama.

Já não sei se ela continua tentando me falar algo ou só gosta de me encarar, ela está assim desde que acordei.

— Sue, tá tudo bem véi, já disse que não precisa tanto esforço.

— Eutenhomedo — ela diz num único suspiro, quase no volume mais baixo do celular.

A encaro confusa, será que entendi certo?

— Você tem medo? — ela afirma com a cabeça — de mim? — ela nega — dele?

Ela trava, já não me olha mais. Seus olhos não desviam do lençol um segundo sequer. Eu nada digo, apenas a abraço apertado e ela devolve o gesto.

— Eu tô aqui, ok?! Eu posso não ser a melhor pessoa do mundo, posso não ser boa no geral, mas você é tudo pra mim, meu amor. Por você eu posso ser melhor!

Ela me aperta.

— Se você soubesse o alívio que meu coração sentiu ao te ver de novo... eu te amo, Sue. E eu com toda certeza deveria estar fazendo todas aquelas declarações apaixonadas mas nem sei o que falar, simplesmente te amo e isso basta pra mim!

Ela me aperta com mais força, se ela soubesse que essa força não é a de sempre, tenho certeza de que iria receber um balde de água fria dela.

Sue afasta o abraço e encara a minha boca. Aproximo nossos rostos e ela me da um selinho demorado.

— Eu te amo, Emily — sue diz e em seguida volta ao meu abraço.

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O Acaso - EmisueOnde histórias criam vida. Descubra agora