07. Eu te amo

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EMILY DICKINSON:

Dez dias, esse foi o tempo que aquele monstro deu para vir buscar Susan. No início eu não gostava dela mas agora a gente não se desgruda. Já não consigo imaginar um dia sequer em que ela não me dê bom dia de manhã cedo, ou que não seja minha melhor companhia no colégio ou em todo o resto. Susan se tornou minha melhor amiga, minha ouvinte, minha única leitora. Ficar com ela é melhor do que escrever qualquer poema.

Ela me causa todo tipo de sensação, devo confessar que não sabia que a maioria existia mas que bom que existem. Cheguei a conclusão de que não sinto amor de irmãs, não me sinto assim na presença de Vinnie, não me sinto assim na presença de mais ninguém.

Preciso contar a ela, infelizmente hoje é o décimo dia. Hoje a noite aquele homem irá vir tirar minha Susie de mim, não sei se irei suportar outra perda. Sei que ainda nos veremos no colégio — se ele não resolver afastar ela de tudo — mas não será o mesmo.

Nós dormimos juntas, acordamos juntas, comemos, estudamos, ouvimos muita música. Ela me fez ouvir todos os álbuns do Twenty One Pilots, devo admitir que são muito bons.

Como irei sobreviver em um mundo onde Susan Gilbert não faz parte do meu cotidiano? Ela é demais para mim. Eu preciso contar!

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— Sue — a chamo mas ele parece não me ouvir — SUE — ela continua imóvel olhando para a sala de Maggie — Sue, o que houve? — digo parando em sua frente.

— Ele... — Sua voz sai trêmula — Ele tá aqui, Emi — me abraça apertado e ouço seu choro desenfreado.

— Susan, me escuta! Eu te amo!

Ela interrompe o abraço e passa a me encara, não consigo descrever aquela expressão, droga, odeio quando ela faz isso.

— Sue? — abaixo o olhar.

Como em um pedido mudo, ela toca meu queixo me fazendo voltar a olhá-la e sela nossos lábios. Ficamos assim por longos segundos até que ouvimos uma voz grossa nos chamando.

— Vamos, Susan — o homem diz a puxando pelo braço.

— LARGA ELA — digo parando em sua frente.

— E quem você pensa que é? — Me olha de cima a baixo.

— ela é minha namorada — Sue diz e até eu a encaro confusa, namorada.

— você me causa repulsa, garota. Agora vamos. Pode deixar esses pedaços de trapo aí — o homem diz levando Susan para fora e somem quase no mesmo instante.

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Quinze dias. Esse é o tempo que Sue se foi. Ela não foi para o colégio, não responde mensagens ou atende ligações, ela sequer foi trabalhar. Eu já não sei mais o que fazer. Com a ajuda de Jane, consegui entrar escondido na sala de Maggie e olhar o endereço que o tal Thomas deu informando que esse era seu novo endereço.

Infelizmente não havia ninguém em casa. Jane até conseguiu arrombar a porta com um grampo mas não tinha nenhum vestígio de morador no local. Quando estávamos saindo da residência avistamos uma senhora e perguntamos se alguém morava alí, ela disse que viu um senhor e uma menina saindo de lá treze dias atrás e aparentavam estar apressados.

Não consigo mais suportar a ausência de Susan. Antes as suas mensagens chegavam mas agora nem sua foto de perfil aparece, minha mente só pensa no pior. O que esse monstro está fazendo com Susan?

Jane não sai do meu lado um segundo sequer, ela está tão desesperada quanto eu, mas pelo menos ela tem Austin e Vinnie que a cercam noite e dia. Eu não tenho ninguém, não quero que se sintam obrigados a estar perto e cuidando de mim, não quero que achem que sou uma inútil!

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Vinte e nove dias. Esse é o tempo que Susan já não deita na mesma cama que eu, agora deita uma criança de sete anos. Meu peito dói, minha cabeça queima, eu já não consigo comer direito, mal falo. Reprovei m praticamente todas as matérias já que não consigo focar nos estudos.

Me sinto fraca, meu corpo inteiro treme, não sei se pela falta de comida ou pelas crises de ansiedade que passei a ter. Tenho pesadelos todas as noites, começa com o acidente e termina com Thomas levando Sue. Deus, eu não sei mais quanto tempo irei suportar.

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Quarenta e sete dias. Estou fazendo acompanhamento com o psicólogo do colégio. Meus amigos estão me forçando a comer, tento focar em uma coisa e então estudo, consegui recuperar minhas notas. Já não tenho inspiração para escrever, não sem ela.

Entro todos os dias nas redes sociais e nada de uma pista sobre ela, nada nos jornais, nada no emprego, passo sempre que posso pela casa e nada. Pedi a senhora para me informar caso visse algo vindo daquela casa mas até hoje nada. Eu sinto saudade, eu sinto tanta saudade.

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Sessenta e dois dias. Estou com saudade das implicâncias, dos abraços, dos momentos em silêncio. Ontem tive a impressão de ter visto Susan perto do colégio mas quando me aproximei a pessoa sumiu, creio que estou começando a ter alucinações.

Eu tenho tanto a te dizer. O que você quis dizer com aquele beijo? E o que quis dizer com o fato de me chamar de namorada? Eu tenho tantas perguntas.

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Sessenta e nove dias. Tive a impressão de ver Susan novamente, eu realmente estou louca. O psicólogo disse que é normal ter o semblante de alguém que amamos. Mas então por que eu não consigo ver os meus pais? Pelo menos a minha mãe.

Jane está lidando melhor com tudo isso do que eu. Ela está em um triângulo amoroso com Austin e Vinnie. Já Vinnie está envolvida com Jane e Joseph e Austin está com Jane e George. Eu continuo observando tudo a distância. Já não converso com ninguém além do psicólogo a cada quinze dias.

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O Acaso - EmisueOnde histórias criam vida. Descubra agora