019. Jane?

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EMILY DICKINSON:

Susan aparenta estar bem, apesar de tudo o que aconteceu e do falecimento precoce de George, ela está indo muito bem. Já estamos em janeiro e ela ainda não teve outro surto suicida, o que me é estranho já que dias atrás ela estava determinada a acabar com sua própria vida.

Sei que eu devia estar passando mais tempo com ela mas estou focada em acabar com a raça de Thomas, sei que ele tem envolvimento na morte de George, não sou burra. Todos — inclusive a polícia — parecem ter largado de mão esse assassinato covarde, mas eu? Eu não, eu não poderia nem se quisesse.

Os dias tem sido tristes, chove todos os dias, tenho certeza de que são as lágrimas de meu amigo que estão caindo do céu. Irei vingá-lo, preciso vingá-lo. Assim como vingarei Susan... ah Susan, se você soubesse a dor que carrego no peito toda vez que te olho e lembro que aquele sociopata segue ileso, se soubesse da culpa que me assombra toda vez que fecho meus olhos e o vejo te levando embora e eu não pude impedir. Oh, meu amor, se tu soubesse que morri todos os dias sem te ter ao meu lado, tenho certeza de que você me repreenderia por ter esses pensamentos.

Saio sem que Susan acorde e vou para uma sorveteria que ficava próxima ao hospital, finalmente consegui fazer contato com Malcon e por incrível que pareça, nos tornamos amigos, se é que podemos nos chamar assim.

— Seguinte, pequena — ele começa a falar — Eu descobri que o velho Thomas está trabalhando para um barra pesada chamado Ship. — toma um pouco de sorvete e me encara — sei que essa é sua vingança, mas se um dia eu ver esse crápula não sei se conseguirei me controlar, não depois de tudo o que você me contou a respeito dele.

— Por favor, se controle. — dou uma colherada enorme no meu sorvete — não pretendo matá-lo agora, primeiro ele pagará por tudo o que fez a Sue, cada chute, cada soco, cada... — sinto um enorme incômodo na garganta antes de falar as próximas palavras — cada vez que ele a tocou de forma nojenta e asquerosa.

— Pequena, um pai que abusa da própria filha não é um pai, é um verme. Pra ser sincero, chamar aquele energúmeno de verme é uma ofensa aos vermes.

— Ele não é um "pai" — faço sinal de aspas — aquilo é um mal que precisa ser exterminado... mas me conta mais sobre esse tal Ship.

— Não sei muita coisa mas vamos lá: parece que a mãe dele morreu quando ele ainda era criança e seu pai nunca o registrou, ele tinha contato com esse tal pai mas não consegui descobrir quem é o homem.

— Será o Thomas?

— Não, aí é que tá. Atualmente Thomas trabalha para o Ship, como eu já disse. Ship de alguma forma fez seu império ilícito nos últimos anos e é um dos chefões do mercado ilícito. Não consegui fotos dele porque o cara é um mito. É melhor tomar muito cuidado com essa gente.

— Caralho, esse cara deve ser um senhor barra pesada.

— Não sei a idade dele mas deve ser um velho durão.

Converso mais uns instantes com Malcon até que avisto Jane entrando na sorveteria acompanhada por um rapaz.

— Jane? — a chamo — chega aí.

— Oi, Ems. — ela sorri e chama o rapaz que a acompanhava para perto dela — esse é o Henry, ele é o advogado que vai me ajudar a reaver as coisas que eram dos meus pais, estou prestes a fazer dezoito e não posso ficar na rua.

— Oi, Henry — aceno para o rapaz — Jane, esse aqui é o Malcon, um amigo da família.

Todos se cumprimentam formalmente e Os dois que estavam em pé sentam em uma mesa afastada, de início não entendi o motivo para ela ter vindo em um lugar tão longe, mas lembrei que daqui a pouco ela irá visitar Sue.

Finalizo minha conversa com Malcon assim que nossa sobremesa acaba. Ele me deu uma carona até o orfanato onde fui correndo ver como meus irmãos estavam, Austin continuava visivelmente abalado com a perda de George, não sei o que mais posso fazer para tentar alegrar meu irmão além de oferecer minha singela companhia.

— Aus? — digo entrando no quarto — tá tudo bem por aqui?

— Tudo normal, Em, tudo normal...

— Hey — sento do seu lado e jogo meu braço por cima de seu corpo, o fazendo encostar a cabeça em meu ombro — já disse que você pode me contar qualquer coisa.

— Não é nada, só sinto saudades dele.

— isso não é nada, Aus, vocês se amavam, aliás, ainda se amam. O seu amor por ele não vai diminuir, é muito traumático tudo o que aconteceu mas você precisa ser forte. Por favor, seja forte — posso ouvir o choro de meu irmão mais velho — o que você de fazer um acompanhamento psicológico? Estamos adiando isso desde que chegamos aqui, que tal começarmos, hein?

Ele concorda com a cabeça e ficamos em silêncio por algum tempo, até que meu telefone vibra várias vezes com mensagens de Susan.

Susie: Em?
Susie: A Janie não vem mais?
Susie: tô preocupada, ela não me responde.
Susie: amor?
Susie: Emily, fala comigo.

Como assim a Jane ainda não apareceu? Sei que era uma conversa com um advogado mas não creio que demoraria tantas horas assim.

Eu: oi, amor
Eu: eu vi ela hoje aí perto do hospital.
Eu: ela estava falando com um advogado.
Susie: tô preocupada, minhas mensagens não chegam.


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Três dias depois.

Manchete:

Legenda: Adolescente de dezessete (17) anos está desaparecida há três dias

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Legenda: Adolescente de dezessete (17) anos está desaparecida há três dias. Testemunhas afirmam tê-la visto em uma sorveteria com um homem que dizia ser seu advogado mas as câmeras do local não estavam funcionando. Sabemos também que não se deve publicar fotografias de menores de idade mas essa é a segunda jovem que desaparece do mesmo orfanato em meses, sem contar que ainda não foi descoberto o assassino de George Gould, um jovem que vivia no mesmo orfanato que as outras duas vítimas. A polícia afirma estar fazendo o possível para prender o suspeito que atende pelo nome de Henry.
Lembramos a todos que o mandante do primeiro crime se chama Thomas Gilbert e está atualmente foragido. Por favor, alertamos a todos que redobrem os cuidados ao sair de casa.

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