Lar, doce lar.

7

— Oi,Kai. — Quando as palavras saíram de sua boca, Hunter sentiu um amargor lhe invadindo. Tudo parecia errado, todas as coisas. Estar ali parecia tão errado, tão cruel. Ele se sentia um merda por ter voltado, por ter que abrir feridas novamente, por ser o rosto de uma mágoa tão grande na família Evans.

Ele olhou pro velho melhor amigo, ele ainda era muito bonito, Hunter sempre achou Kai bonito, ele não tinha mais os olhos tão amorosos, mas isso não era nenhuma novidade. Se por acaso, Hunter tivesse uma irmã e um babaca qualquer quebrasse seu coração, ele com certeza estaria lhe fulminando da mesma maneira que Kai o estava naquele momento.

— O que você faz aqui? — A voz de Kai era firme, cheia de fúria, Hunter também aceitaria aquilo, claro, ele fora um babaca egoísta. Qualquer coisa que viesse, ele poderia aceitar. Mas ele realmente não estava pronto para levar uns socos, por mais que merecesse,  ele não tinha tanta certeza se levar socos faria bem para o tumor crescendo em sua cabeça.

Hunter não conseguiu formular uma frase, ele continuou olhando para Kai por mais um momento, antes de mudar o olhar pro gelo, os garotos pareciam alheios a tudo que acontecia ao redor deles, não imaginavam que a poucos metros deles, estava o melhor jogador de hóquei do ano, bom, dos últimos três anos.

— Você tem bons alunos..— Ele disse, Kai bufou e fechou as mãos em punhos. Bom, Hunter sabia que a qualquer momento, ele poderia levar um soco. Seus olhos se moveram pros olhos de Kai. Olhos cor de amêndoas.

Uma série de lembranças invadiram sua mente, uma pontada forte atingiu seu coração. Havia tanta mágoa nos olhos do seu velho melhor amigo. Tanta dor, ele nem poderia imaginar quanta dor haveria nos olhos de Alisson quando o visse,isso fez com que ele reavaliace se era realmente a coisa certa ele estar ali. Provavelmente não.

— Você vai pegar suas coisas e vai embora imediatamente da cidade, antes que.. — Kai apertou ainda mais as mãos, Hunter observou que os dedos estavam ficando brancos. Ele engoliu em seco. Ele sabia o que Kai iria falar. Isso fez seu coração doer. — Você é uma pessoa sem coração, sem respeito pelas pessoas.. aqui nessa cidade estão as pessoas que você despedaçou, então, — Ele balançou a cabeça, — Então, se você tem ainda um pouco de coração, só um pouco, vá embora e nunca mais volte nesse lugar. Nunca mais.

— Não posso ir..— Hunter disse, ele sabia que Kai não iria entender, ele queria dizer pra ele toda a verdade, dizer que sim, ele não poderia voltar porque estava morrendo, e em breve ele seria apenas uma lembrança na mente de todos. E que sim, ele precisava do perdão dele, precisava muito. Precisava partir em paz com todos. — Há algo..

— Não quero saber o que você veio fazer aqui,só espero não te ver mais.

— Preciso que me perdoe,Kai.. — Kai o olhou rindo, sim, ele riu, mas era uma risada amarga.

— Não acho que você precisa apenas do meu perdão, tem uma verdadeira lista de pessoas que você quebrou aqui. — Ele virou e caminhou dois passos antes de olhar por cima do ombro e falar: — E não acho que ninguém esteja disposto a te dar isso. Não eu, e muito menos os outros. Acredite quando te digo, é melhor ir embora, e bom, você foi bastante esperto em me procurar enquanto estou dando aula, assim eu não poderia socar sua cara até você ficar irreconhecível. Eu queria muito fazer isso.

Hunter sabia, ele sabia que Kai queria lhe bater, ele viu os olhos do amigo, o amargor, a raiva. Kai deu as costas e se afastou deixando Hunter pra trás na arquibancada. Ele sabia que não seria fácil, mas ele iria lutar com todas as forças pelo perdão deles. Pelo perdão de todos.