Lar, doce lar.

21

Os dois sentaram na mesma mesa que costumavam sentar, o local estava quase vazio, tinha dois outros casais comendo. Hunter se sentiu satisfeito por estar ali.

— Isso é estranho. — Disse Alisson lhe puxando pra realidade, ele franziu a testa lhe perguntando o que era estranho, — Nós dois aqui. Muito estranho.

— Um pouco, talvez.

— Muito...

— Um pouco...

— Vai pedir o que? — Ela disse apontando o cardápio, ele sorriu, enquanto olhava os sabores de milk-shake, mas sabia exatamente o que queria. Milk-shake de chocolate com um sanduíche.

— O mesmo de sempre. Você? — Ela sorriu olhando o cardápio, mas ambos sabiam que ela também pediria o mesmo. — Deixa eu adivinhar.. sanduíche artesanal com milk-shake de morango?

— Acertou.

— Eu sempre acerto.

— Sempre convencido. — Ela disse colocando o cardápio sobre  a mesa e o encarando.

— Sempre teimosa. — Ele a encarou, observou seu lindo rosto, os olhos não estavam mais tão inchados,mas ainda estavam um pouco vermelhos. As bochechas ainda um pouco coradas. Ela passou as mãos pelos braços, — Está com frio? — Ele perguntou se colocando de pé e retirando o casaco que usava, Alisson sentia muito frio, fora sempre assim, ela tentou protestar quando ele colocou o casaco sobre ela, mas ele também era um pouco teimoso. — Você tá congelando, deixe de ser orgulhosa e aceite o casaco.

Ela aceitou, mas ainda tinha a teimosia no rosto, ele engoliu uma risada. Senhor Anthony veio logo a seguir, cumprimentou os dois, reconheceu Hunter com apenas uma olhada.

— Hunter.. — Disse ele trocando o olhar entre os dois, — Você voltou.

— Estou indo embora amanhã, mas quis vim aqui tomar o milk-shake pela última vez, — Alisson o olhou rapidamente, aquela frase tinha um milhão de significados, — É o melhor do mundo.

O homem sorriu, depois olhou pra Alisson.

— Como está, querida?

— Estou bem.

— Certo, então.. o que vai ser? O mesmo de sempre?

Os dois assentiram, e depois de mais um momento, o senhor se afastou os deixando sozinhos novamente.

— Pelo menos alguém aqui não me odeia.. — Hunter disse baixinho.

— Ele disse que você sempre foi um bom garoto e que deveria ter algo a mais que não me contou... — Ela o olhou profundamente, — Tem algo a mais?

— Ali..

— Só estou tentando entender, certo? Estou totalmente no escuro..

— Não acho que seja bom abrir ainda mais feridas, você já está ferida demais e a culpa é minha. — Ele disse com sinceridade, — Olha, eu realmente não queria voltar aqui, eu só queria viver minha vida longe de tudo isso, queria não ser a causa de tanta dor, mas quando descobri sobre o tumor, eu só quis te ver... — Ela o observava atentamente, — Você foi a primeira pessoa que pensei quando descobri que talvez não tivesse mais tanto tempo de vida. Só queria te ver, pedir perdão por toda merda que fiz, escuta Ali, sei que talvez não haja perdão pra mim, sei também que não mereço, certo? Mas não posso morrer sem pedir isso, sem dizer que me arrependo todos os dias de ter te deixado me esperando, me arrependo de todas as promessas que eu quebrei, se pudesse voltar atrás..

— Não pode. — Ela disse com a voz embargada.

— Não posso, mas se pudesse, teria feito tudo diferente... jamais teria deixado você, ainda que nunca saissse dessa cidade, teria vivido o nosso amor, apesar de tudo que se colocava entre nós... — Ele falou cada palavra com a mais pura sinceridade do mundo, ele jamais teria deixado ela ali, jamais. Jamais teria aceitado as chantagens emocionais de Eleanor Evans. Jamais. Alisson jamais poderia saber que a causa dele tê-la deixado, foi sua mãe. – Sei que é um jogo baixo, Ali, depois de dez anos eu falar isso, mas eu amo você, eu sempre amei e vou amar até o último dia da minha vida... não quero morrer levando esse sentimento em segredo, quero que saiba disso.

Ele falou tudo de uma vez, já ia morrer mesmo, porque mentir mais? Porque negar o que sentia? Passou dez anos tentando matar esses sentimentos.. mas não havia conseguido.

— Eu.. — Ela começou a falar, — Não sei o dizer.. você me confunde, me machuca, depois volta e fala isso tudo. O que quer que eu faça? Não é como se eu pudesse colar os pedaços que você quebrou, entende? Não é simples assim, você não pode dizer que me ama, não pode.

— Quando estamos prestes a morrer, parece que a sinceridade fica mais forte. — Ele disse e um momento depois o pedido deles chegou à mesa. Depois de agradecer, eles se voltaram pros seus pedidos. Alisson mexeu o milk-shake com o canudo, os olhos distantes.

Ele mexeu o seu próprio copo e tomou um gole, estava com o mesmo gosto, não mudou nada. Pelo menos, não o sabor do milk-shake. Ele e Alisson eram pessoas totalmente diferentes agora. Nada era como antes.