Alisson sentou-se depois de um dia inteiro de pé, ela suspirou quando sentiu o peso do dia passar por seu corpo. Aquele tinha sido um dia cansativo. Ela checou o horário no celular, passava das nove da noite.
— Café.. — Cinthia, sua funcionária, colocou uma xícara com café fumegante.
— Obrigada.. — Alisson agradeceu e pegou a xícara, procurando esquentar um pouco as mãos. — Você me conhece tão bem. — Disse ela depois de um longo gole. Cinthia sorriu enquanto sentava na cadeira diante dela.
— Como se sente?
— Cansada. — Alisson respondeu, — Mas ainda vou pintar a parede.
— Ou poderia deixar para amanhã e ir pra casa, tomar um belo banho de banheira, depois vestir um belo pijama e se jogar na cama e ler um belo livro de romance, tipo aqueles que o cara é cadelinha da protagonista, — Alisson riu, — O que acha?
— Parece bom, — Ela olhou para a parede, ainda havia muito a ser feito e ela queria terminar logo, — Mas vou ter que negar o que meu corpo merece hoje, e vou pintar um pouco.
Os olhos de Cinthia rolaram, Alisson engoliu uma risada e levou a xícara novamente aos lábios.
— Você é impossível, Alisson Evans.
— É por isso que você me ama, certo?
— Com certeza, — Ela falou ficando de pé e fechando o casaco,— É bom ir para casa logo, vai cair um temporal em breve.
Alisson olhou pelas vidraças, é, iria realmente cair um temporal. Mas ela ainda ficaria um pouco, e tentaria sair antes que a chuva caísse, e ela orava para que não tivesse raios e trovões.
— Até amanhã. — Ela também levantou e abraçou a amiga e funcionária, — tome cuidado na ida para casa.
— E você também. — Depois de mais um sorriso, ela saiu pela porta, Alisson tomou o restante do café e seguiu em direção a parede que ainda precisava dos últimos retoques, o jardim estava quase pronto.
⛸🏒🍰☕
Alisson deveria ter ouvido Cinthia, ela se arrependeu amargamente de não ter feito isso, a chuva caia forte lá fora e os raios dançavam no céu, clareando tudo.
— Um, dois, três.. — Um estrondo invadiu seus ouvidos, ela colocou a mão na boca prendendo um grito. Ela engatinhou pelo chão e se colocou encostada no balcão. Seu coração pulando no peito. Ela deveria ter ido embora, deveria ter ido para casa. Burra,burra,burra. Ela sentia o corpo tremer, medo invadindo seu corpo. Ela odiava trovões, raios, relâmpagos. Tudo isso. E ela estava presa ali.
Outro clarão e então.. um, dois, três, quatro.. Outro estrondo. Alisson podia sentir lágrimas acumulando em seus olhos. Colocou uma das mãos no peito, e a outra na boca.
Então o sininho da porta soou, depois uma pequena claridade de celular e braços fortes lhe puxando para um peito duro, ela respirou quando sentiu o cheiro familiar.
🏒⛸☕🍰
Caia o mundo lá fora, Hunter olhou pela janela e suspirou. Ele pensou em Alisson e no seu medo absurdo de tempestades, e de raios, e trovões.. todas essas coisas. Pelo que ele conhecia de Alisson, ela deveria estar no café ainda.
Ele pegou seu casaco e saiu na chuva andando rapidamente pelas calçadas da pequena cidade. É, realmente caia o mundo ali.
A rua onde ficava o café não ficava tão perto, então ele tinha que correr, tinha que ser rápido. Ele virou na esquina do café rapidamente e parou abruptamente quando viu Alisson saindo, acompanhada por Kai, ele soltou o ar que estava preso. Ela estava a salvo. Ela ficaria bem sem ele, depois que ele.. Bom, ela conseguiu continuar vivendo, mesmo quando ele a abandonou naquela maldita noite, ela era a mulher mais forte que ele conhecia em todo o mundo. Ela e sua mãe. E ele fora incapaz de proteger as duas por muitos anos. Ele morreria com essa dor no peito, com essa culpa. Ele engoliu em seco e fechou os olhos com força, sentiu lágrimas caindo, ele não se importou em deixá-las cair mais e mais. A chuva levava elas embora, mas a dor em seu peito permaneceu até a sua casa, e continuou mesmo quando ele tomou um banho, e caiu na cama ainda de toalha. Se sentia zonzo, se sentia fraco, se sentia solitário. Se sentia um merda.
🏒⛸☕🍰
— Como se sente? — Perguntou Kai, meia hora depois, lhe entregando uma caneca cheia de chocolate quente.
— Estou melhor. — Ela sorriu em agradecimento e levou-a até a boca, — Está delicioso.
Kai afundou na poltrona, os dois estavam no quarto de Alisson, ela observou o irmão. Ele estava com um semblante cansado e preocupado.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou ela segurando a caneca com as duas mãos, ela ainda sentia frio, a tempestade ainda caia forte lá fora. Ela temia não conseguir dormir naquela noite.
— Não, está tudo bem.. — Disse ele, mas ela pôde observar que não estava sendo totalmente sincero.
— Achei que era proibido irmãos mentir um pro outro.. — Ele levantou os olhos na direção dela, havia um toque de dor naqueles olhos castanhos, — O que?
— Amanhã falamos sobre isso, — Ele falou levantando e indo em direção a cama dela, afundou ao seu lado logo em seguida e a puxou pra junto de si,beijou o topo de sua cabeça, — Amo você.
— Também amo você.. — Ela disse, e olhou pra cima buscando os olhos do irmão, — Amanhã conversamos sobre o que está lhe incomodando, de verdade? — Ele assentiu, — Promessa de irmão?
— Promessa de irmão.
— Você nunca quebra a promessa de irmão, — Ela disse tomando mais um pouco do chocolate quente, — Então acredito em você.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lar, doce lar.
RomanceDepois de anos, Hunter volta a sua velha cidade e vai atrás da pessoa mais importante de sua vida, seu primeiro amor, Alisson Evans. Alisson teve seu coração partido no ponto de ônibus, ela nunca esquecera aquele momento, nunca conseguiu se recuper...