8

248 25 2
                                    

Alisson sentou-se depois de um dia inteiro de pé, ela suspirou quando sentiu o peso do dia passar por seu corpo. Aquele tinha sido um dia cansativo. Ela checou o horário no celular, passava das nove da noite.

— Café.. — Cinthia, sua funcionária, colocou uma xícara com café fumegante.

— Obrigada.. — Alisson agradeceu e pegou a xícara, procurando esquentar um pouco as mãos. — Você me conhece tão bem. — Disse ela depois de um longo gole. Cinthia sorriu enquanto sentava na cadeira diante dela.

— Como se sente?

— Cansada. — Alisson respondeu, — Mas ainda vou pintar a parede.

— Ou poderia deixar para amanhã e ir pra casa, tomar um belo banho de banheira, depois vestir um belo pijama e se jogar na cama e ler um belo livro de romance, tipo aqueles que o cara é cadelinha da protagonista, — Alisson riu, — O que acha?

— Parece bom, — Ela olhou para a parede, ainda havia muito a ser feito e ela queria terminar logo, — Mas vou ter que negar o que meu corpo merece hoje, e vou pintar um pouco.

Os olhos de Cinthia rolaram, Alisson engoliu uma risada e levou a xícara novamente aos lábios.

— Você é impossível, Alisson Evans.

— É por isso que você me ama, certo?

— Com certeza, — Ela falou ficando de pé e fechando o casaco,— É bom ir para casa logo, vai cair um temporal em breve.

Alisson olhou pelas vidraças, é, iria realmente cair um temporal. Mas ela ainda ficaria um pouco, e tentaria sair antes que a chuva caísse, e ela orava para que não tivesse raios e trovões.

— Até amanhã. — Ela também levantou e abraçou a amiga e funcionária, — tome cuidado na ida para casa.

— E você também. — Depois de mais um sorriso, ela saiu pela porta, Alisson tomou o restante do café e seguiu em direção a parede que ainda precisava dos últimos retoques, o jardim estava quase pronto.

⛸🏒🍰☕

Alisson deveria ter ouvido Cinthia, ela se arrependeu amargamente de não ter feito isso, a chuva caia forte lá fora e os raios dançavam no céu, clareando tudo.

— Um, dois, três.. — Um estrondo invadiu seus ouvidos, ela colocou a mão na boca prendendo um grito. Ela engatinhou pelo chão e se colocou encostada no balcão. Seu coração pulando no peito. Ela deveria ter ido embora, deveria ter ido para casa. Burra,burra,burra. Ela sentia o corpo tremer, medo invadindo seu corpo. Ela odiava trovões, raios, relâmpagos. Tudo isso. E ela estava presa ali.

Outro clarão e então.. um, dois, três, quatro.. Outro estrondo. Alisson podia sentir lágrimas acumulando em seus olhos. Colocou uma das mãos no peito, e a outra na boca.

Então o sininho da porta soou, depois uma pequena claridade de celular e braços fortes lhe puxando para um peito duro, ela respirou quando sentiu o cheiro familiar.

🏒⛸☕🍰

Caia o mundo lá fora, Hunter olhou pela janela e suspirou. Ele pensou em Alisson e no seu medo absurdo de tempestades, e de raios, e trovões.. todas essas coisas. Pelo que ele conhecia de Alisson, ela deveria estar no café ainda.

Ele pegou seu casaco e saiu na chuva andando rapidamente pelas calçadas da pequena cidade. É, realmente caia o mundo ali.

A rua onde ficava o café não ficava tão perto, então ele tinha que correr, tinha que ser rápido. Ele virou na esquina do café rapidamente e parou abruptamente quando viu Alisson saindo, acompanhada por Kai, ele soltou o ar que estava preso. Ela estava a salvo. Ela ficaria bem sem ele, depois que ele.. Bom, ela conseguiu continuar vivendo, mesmo quando ele a abandonou naquela maldita noite, ela era a mulher mais forte que ele conhecia em todo o mundo. Ela e sua mãe. E ele fora incapaz de proteger as duas por muitos anos. Ele morreria com essa dor no peito, com essa culpa. Ele engoliu em seco e fechou os olhos com força, sentiu lágrimas caindo, ele não se importou em deixá-las cair mais e mais. A chuva levava elas embora, mas a dor em seu peito permaneceu até a sua casa, e continuou mesmo quando ele tomou um banho, e caiu na cama ainda de toalha. Se sentia zonzo, se sentia fraco, se sentia solitário. Se sentia um merda.

🏒⛸☕🍰

— Como se sente? — Perguntou Kai, meia hora depois, lhe entregando uma caneca cheia de chocolate quente.

— Estou melhor. — Ela sorriu em agradecimento e levou-a até a boca, — Está delicioso.

Kai afundou na poltrona, os dois estavam no quarto de Alisson, ela observou o irmão. Ele estava com um semblante cansado e preocupado.

— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou ela segurando a caneca com as duas mãos, ela ainda sentia frio, a tempestade ainda caia forte lá fora. Ela temia não conseguir dormir naquela noite.

— Não, está tudo bem.. — Disse ele, mas ela pôde observar que não estava sendo totalmente sincero.

— Achei que era proibido irmãos mentir um pro outro.. — Ele levantou os olhos na direção dela, havia um toque de dor naqueles olhos castanhos, — O que?

— Amanhã falamos sobre isso, — Ele falou levantando e indo em direção a cama dela, afundou ao seu lado logo em seguida e a puxou pra junto de si,beijou o topo de sua cabeça, — Amo você.

— Também amo você.. — Ela disse, e olhou pra cima buscando os olhos do irmão, — Amanhã conversamos sobre o que está lhe incomodando, de verdade? — Ele assentiu, — Promessa de irmão?

— Promessa de irmão.

— Você nunca quebra a promessa de irmão, — Ela disse tomando mais um pouco do chocolate quente, — Então acredito em você.

Lar, doce lar.Onde histórias criam vida. Descubra agora