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Alisson parou o carro na frente da casa de Hunter, engoliu em seco antes de sair e começar a caminhar até a casa. Ela se sentia nervosa. Bateu delicadamente na porta duas vezes antes de ele abrir, estava com os cabelos úmidos como se tivesse acabado de tomar banho.

— Oi.. — Ele pareceu surpreso ao vê-la ali, — Está tudo bem?

— Sim, — Ela mordeu o lábio inferior, sempre fazia isso quando estava nervosa, e naquele momento, ela estava muito, — Posso entrar?

— Claro. — Ele ficou de lado pra que ela conseguisse passar, o cheiro dele lhe atingiu, ele ainda usava o mesmo perfume de sempre. Ela fechou os olhos quando passou por ele. Na última vez que esteve ali, não observou a casa direito, mas agora, agora parecia tudo igual, como se tudo estivesse congelado no tempo, o sofá onde muitas vezes sentara pra conversar com a senhora Jane, a velha poltrona que Hunter sempre ficava. Ela soltou um suspiro baixinho e andou até o sofá, sentou-se ali. — Quer tomar alguma coisa?

Hunter perguntou a seguindo silenciosamente. Ela negou e puxou do bolso o celular e começou a digitar o nome do médico que ela entrara em contato. Ela passara o dia inteiro pesquisando sobre a doença dele, pesquisando sobre médicos, tratamentos. Depois de muita busca, encontrou um neurocirurgião que havia acabado de fazer uma das maiores cirurgias na Inglaterra, ele havia operado um menino de cinco anos, que tinha um tumor no cérebro, foi um sucesso, e por acaso, estava vindo pra Nova York em duas semanas.  Ela  teve certeza que ele era o cara certo. Ela o encontrou, e entregou o celular pra Hunter.

— Quem é? — Hunter perguntou observando a tela com a testa franzida.

— Jordan Graham. Neurocirurgião.

— Não preciso de mais um neurocirurgião.. — Disse ele lhe entregando o celular e afundando na poltrona, — Perdi as contas de quantos já visitei nesse último mês, então, não preciso de mais um.

— Mas..

— Alisson, não quero parecer ingrato ou idiota, sério, só me sinto cansado, estou voltando amanhã pra Nova York, vou continuar o tratamento, mas nós dois sabemos...

– O que? — Aquilo a pegou de surpresa, ele já iria partir? Droga, e porque parecia que alguém estava apertando seu coração? — Como está indo embora amanhã?

— Preciso voltar, há algumas entrevistas que preciso dar, tenho que colocar algumas coisas em ordem.. — Ele falava como alguém com os dias contados, — Foi um erro ter vindo aqui... — Ele falava tudo com a cabeça baixa, ela se sentiu tonta de repente, tudo parecia girar, as mãos tremiam, — Não queria bagunçar as coisas mais que já estavam, queria só dizer que sinto muito, sei que isso não muda nada, de verdade, sei disso.. mas eu realmente sinto muito. Só quero que me perdoe, entendo se não puder.. sei que não mereço, só espero que um dia, que você consiga me perdoar.

Alisson não sabia o que dizer. Só sabia que estava começando a ter uma crise de ansiedade ali mesmo. Ela fechou os olhos, não podia acontecer ali, ali não. Ela estava bem, estava muito bem. Mas as mãos tremiam, o coração acelerou, e ela se sentia sufocando. Parecia que ia morrer, mas ela sabia que não, já tinha sentido aquilo ali por anos, sabia como começava, e sabia que ia passar. Ela só precisava se acalmar, só precisava se acalmar. Então, ela sentiu mãos lhe tocarem e depois sentiu braços lhe puxando pra si. O cheiro de Hunter invadiu seus sentidos, e ela tremeu ao ser aconchegada nos braços dele.

— Ei.. ei.. — Ele disse baixinho, ela tremia, ela não acreditava que estava tendo uma maldita crise de ansiedade justamente ali. — Peguei você.. estou aqui.

Estou aqui. Como aquilo lhe feria. Lhe rasgou a alma ouvi-lo dizer aquelas palavras.

Hunter a apertou com força contra o próprio corpo, o coração dele também estava acelerado, Alisson percebeu.

— Vai ficar tudo bem.. — Ele continuou falando, não, nada ia ficar bem, ele sabia, mas estava ali mentindo pra ela. Ela o odiava por mentir. A verdade é que ele iria lhe deixar pra sempre, seria de verdade mesmo. Ela não o veria mais, nunca mais, ele iria morrer. Nunca mais ela poderia senti-lo lhe abraçar, e isso a matou por dez anos, mas agora, agora era pra sempre. Ela era uma idiota por ainda amá-lo, mas ela o amava tanto que doía todo o seu corpo, a sua alma.  Ele não a merecia, ele a deixou. Ele a machucou. Ele a feriu. Então porque ela estava abraçada com ele? Porque chorava agora? Porque se sentia assim? Porque não lhe deixava  ir embora? Seria tão mais fácil não ter que vê-lo.

— Por favor, por favor, por favor.. — Ela falou baixinho, ele não poderia simplesmente desistir. — Por favor, por favor..

Hunter não falou nada, ele apenas a apertou mais forte.

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