13

223 24 4
                                    


A porta de sua casa se abriu com um baque. Hunter olhou por cima do ombro e viu Kai entrar como um verdadeiro louco.

—Alisson não aparece a dois dias.. — Hunter se colocou de pé rapidamente, — Ela sumiu, preciso que me diga que sabe onde diabos ela pode estar.

Hunter pensou por um segundo,  ele sabia onde ela poderia estar. No lugar dos dois. Ninguém além dos dois sabiam onde ficava.

— Fala. — Kai falou, a voz cheia de preocupação.

— Eu sei...

— Me diga onde é, preciso buscá-la.

— Eu vou buscá-la.. — Hunter falou pegando o casaco.

— Não vai mesmo. — Kai falou irritado.

— Você não sabe onde fica, me dê a chave.. — Ele disse estendendo a mão,— Me dê a maldita chave.

— Não fode, Hunter.. — Kai se afastou, — Ela não quer falar com você, você não entende?

— Nem com você, pelo visto. Me dê a porcaria da chave ou eu vou a pé, mas eu vou sozinho. Você vai ficar aqui, e não vai me seguir.

— O que? Você não está falando sério, ela sumiu, preciso ir e trazê-la pra casa. Já fui em todos lugares possíveis, ela não tá em nenhum deles.. por favor, me diga onde ela está, não posso perdê-la, Hunter... não posso perder minha irmã.

— Me deixa trazê-la pra você, então.. — Ele estendeu a mão novamente na direção de Kai, ele resistiu um pouco mas então colocou a chave do carro na mão de Hunter. — Eu prometo trazê-la.

🏒⛸☕🍰

Hunter sentia o sangue correndo rapidamente pelo corpo, ele estava dirigindo por mais de meia hora, já estava fora da cidade e andava pelo caminho de calcário. 

Já deveria ser mais de dez da noite. Dois dias sumida. O que ele havia feito novamente? Ele a machucou tanto no passado, e estava fazendo novamente.

Ele finalmente encontrou o lugar, desligou o carro rapidamente e pulou pra fora ainda mais rápido. Andou rapidamente pelo bosque, ele sabia o caminho, nunca poderia esquecer aquele lugar. Era o lugar deles. Apenas eles sabiam da existência daquele lugar, havia sido um presente dele pra ela. Parecia bobo, mas havia sido de todo o coração. Era escondido demais pra pessoas de fora o verem, ninguém nunca encontraria ela ali. Só ele.

— Estava pensando quanto tempo você iria demorar pra chegar aqui... — A voz de Alisson derreteu o coração dele. Ela estava sentada ali no tronco sozinha, olhando pro lago.

— Você sabia que eu viria? — Ele perguntou incerto, então andou até o tronco e sentou-se ao lado dela.

— Porque você me deixou naquela noite? — Ela perguntou, ele sentiu a dor invadindo seu corpo, aquela pergunta machucou, mas nada lhe preparou pra o que ela disse depois, — Porque não apareceu naquela noite? Porque apareceu hoje?

— Ali..

— Não me chame assim, por favor. — Ele engoliu em seco. Depois pigarreiou.

— Alisson, — Aquilo era tão estranho, ele nunca a chamava assim, — Estão todos preocupados com você, preciso que volte comigo.

— Não precisa de nada.. — Ela disse, — Quero que você vá embora.

— Daqui ou da cidade?

— De tudo. Preciso que deixe minha vida. Preciso que vá embora, você me faz mal, me machuca, faz com que eu não consiga respirar.

— Desculpa..

— Não adianta pedir desculpas, Hunter. — Ela falou ainda sem olhar na direção dele, ele a encarava. Estava escuro, mas o brilho da lua clareava o lugar. Tudo parecia igual.

Ele deslizou do tronco e se colocou de joelhos diante dela, tocou seus joelhos delicadamente, ela não o afastou.

— Preciso do seu perdão.. — Ele começou, ela permaneceu em silêncio, não o olhou, seus olhos estavam distantes, — Me perdoe por machucá-la tanto, me perdoe por ter sido um canalha, por ter machucado seu coração,eu nunca quis isso, nunca quis fazer mal a você. Preciso que saiba que morri todos os dias sem você...

— Porque fez então?

— Não me pergunte isso.. por favor.

— Não posso perdoá-lo, não sem saber o que fez você me deixar sozinha, eu te esperei lá sozinha.. foi a pior noite da minha vida. — Então ele sentiu as lágrimas caindo de seus olhos, ele não se importou quando colocou a cabeça em seu colo e chorou ainda mais, ele podia sentir que ela chorava também. — Doeu tanto, doeu vê-lo viver a vida que sonhou sem me ter nela, doeu vê-lo... ah, como doeu, não posso perdoá-lo assim.. não posso, não consigo.

Ele levantou a cabeça em direção a ela, ela ainda não o olhava, era difícil, ele sabia. Ele queria lhe contar a verdade,mas não poderia fazer isso. Não poderia lhe dizer o real motivo.

— Estou morrendo,Ali.. — Ele disse baixinho. Ela finalmente o olhou.

— O que? — Sua voz parecia um soluço.

— Estou morrendo.. de verdade. Descobri a algumas semanas, talvez tenha alguns meses de vida.. talvez morra logo. Não sei.

— Não.. — Ela disse o afastando e ficando de pé, — Você tem  vinte e sete anos, não pode morrer.

Ele se colocou de pé. Também não havia sido como ele planejava contar pra ela. Tudo estava saindo como ele não planejara.

— Desculpa por te contar assim.. — Ele disse se aproximando dela, — Eu realmente não queria lhe contar dessa maneira, mas não sei se tem uma forma certa de dizer que está morrendo. Só tô morrendo.

— Como assim morrendo? Não entendo...

— Há um tumor no meu cérebro, as chances são mínimas se eu passar pela cirurgia, então decidi não fazê-la...

— Não, não, não.. não é assim que tem que ser, você pode fazer a cirurgia, pode ficar bem..

— Não, não posso. — Ele disse, não queria passar pela cirurgia, — Não tenho motivos pra lutar, não faço falta alguma ao mundo. Não preciso mais lutar, só quero morrer.

— Você tem sua mãe..  ela precisa de você. Você tem que lutar.. — Ela disse partindo pra cima dele e batendo em seu peito, — Você  não pode simplesmente desistir de viver, não,  não,  não, não pode. Você tem que reagir. — Ela continuou, ele segurou seus braços. Os dois travaram o olhar um no outro.

— Não, não quero. Não vou lutar, não quero lutar, não aguento mais lutar.. chega de lutar, tudo bem? Só preciso que me perdoe, depois irei embora, só preciso disso, você nunca mais terá que me ver novamente. Serei apenas uma maldita lembrança.

Lar, doce lar.Onde histórias criam vida. Descubra agora