Morrer é fácil, eu diria até... pacífico. Se dissessem aos 18 anos que passaria por algo assim aos 27, Rebeca, jamais acreditaria e provavelmente faria tudo diferente.
Acordou com o sol "alto", levou alguns segundos para entender onde estava. Flashs do que fez na noite passada pesam sobre seus ombros. Assim que tentou levantar, sintiu um braço sobre sua cintura. Girou seu corpo com cuidado e viu o homem com quem passou a noite.
Mais um.
Tem sido assim desde aquele maldito diagnóstico. Noites e noites "aproveitando" o tempo que lhe restava. Para quem vê de fora, ela era apenas mais uma que adora levar a vida no limite, mas a realidade era muito mais cruel... Ela já estava morta em vida.
**Três meses antes.**
Levantou-se cedo como de costume, abriu seu armário e analisou cada roupa perfeitamente alinhada até encontrar a que usaria naquele dia. A deixou separada em cima de sua cama e adentrou ao banheiro, perfeitamente adornado com azulejos de metrô, o mais clássico possível, segundo sua mãe "o melhor" do mercado. Apressou-se em banhar sua pele e terminar sua higiene matinal. Ajeitou a roupa no meu corpo, descendo as escadas logo em seguida.
— Bom dia! — Disse assim que avistou a mãe na bancada da cozinha, já a aguardando como todas as manhãs.
— Bom dia, princesa. — Ela mantém esse mesmo hábito desde que Rebeca se entendia por gente. A mulher sorriu sem muito humor. — Você está bem, minha querida? — Perguntou, a analisando com cautela.
— Estou ótima. Apenas um pouco cansada. — Respondeu, se apressando no café, afinal, odiava chegar atrasada.
— Está pálida. — Ela ergueu seu rosto com os dedos delicados e continuou. — Quero que procure um médico. Há tempos venho notando que está emagrecendo e se alimentando mal.
— Eu já disse que estou bem, mãe. — Respondeu, se desvencilhando de sua mão.
— Rebeca! Isso não é negociável. — Rolou os olhos, porém, concordou para não criar problemas. No fundo ela entendia tanta preocupação. Estava fazendo companhia a mãe nos últimos seis meses, desde que seu pai morreu vítima de uma parada cardíaca. O medo de dona Joana era plausível.
Concordou em procurar um médico para encerrar a questão e se apressou para a saída. Na realidade, Rebeca vinha protelando uma ida ao médico, mesmo sentindo fadiga, náuseas e, vez ou outra, vômito. Associou ísso ao estresse e optou por se concentrar na empresa.
Rebeca Trabalhava numa grande empresa focada no agronegócio. E ser a Diretora-Chefe de Tecnologia (CTO) não era algo fácil. Pesquisa, estratégia, desenvolvimento e implementação dos objetivos da empresa na área tecnológica. Estava sempre muito ocupada.
Em questão de minutos estava sentada ao lado do senhor Rudorf Matias, seu chefe.
— Temos uma reunião importante e quero todos focados, em especial a área de tecnologia. — Começou o CEO. — Precisamos melhorar o beneficiamento dos nossos produtos. Senhorita Álvares, gostaria de saber como estão os novos softwares e o maquinário que pedi para serem instalados. — Concluiu se dirigindo a Rebeca. Assim que se pos de pé para lhe responder, sintoliu um grande desconforto no estômago. Lógico que poderia acontecer, já que estava nervosa, achou que sua gastrite andava asanhada novamente.
Arrumou sua postura e tentou disfarçar a dor, fazendo seu melhor. Respondeu todas as questões, o que o deixou satisfeito. Deu graças a Deus quando ele encerou aquela reunião.
Andou com dificuldade até o banheiro, entrou na primeira cabine disponível e simplesmente vômitou. Isso não fazia o menor sentido. Depois do desconforto inicial causado pelo ato, sentou-se no chão mesmo, tentando recuperar as forças, seu corpo pesava uma tonelada.
Ficou ali por intermináveis minutos e então levantou-se, procurando a descarga, se assusto ao olhar o conteúdo dentro do vaso.
— Isso é... Sangue? Não pode ser, será que passei muito tempo sem comer? - Ficou se perguntando, enquanto se apressava em se livrar daquilo.
Caminhou rapidamente para sua sala.
— Mariana, por favor, desmarque todos os meus compromissos por hoje. Não estou me sentindo bem.
— A senhorita precisa de algo? Está tão pálida.
— Não, apenas faça o que pedi, isso será de grande ajuda.
Arrumou os relatórios em cima da mesa, pegou sua bolsa e rumou para o hospital.
Deu seu nome na recepção. Minutos depois, uma enfermeira chamou. Passou pela triagem e logo o plantonista a atendeu. Relatou todo o ocorrido ao médico. Ele a encaminhou para fazer inúmeros exames, incluindo os de imagem. Depois de recuperada, ouço atentamente as palavras dele.
— Durante a endoscopia, encontramos uma massa de tamanho considerável na parede do seu estômago. Retiramos alguns pedaços e mandamos para análise. — explicou ele de maneira calma. Talvez ele conseguia ver o quão amedrontada Rebeca estava.
— Ma-mais o senhor acha que pode ser um... — Não terminou a frase.
— Não tenho como afirmar. Pelo menos não ainda. Tudo que podemos fazer é aguardar o retorno dos resultados. Até lá, sugiro que mantenha a calma e siga a dieta que lhe darei. — Ela estava em choque, nem questionou, apenas pegou os papéis que lhe ofereceram e saiu de lá se sentindo aérea.
**11 dias!** Esse foi o tempo de sua tortura, nesse período, não conseguia se concentrar em nada direito. Só pensava que naquele dia ela iria saber como seria o resto de seus dias e isso a apavorava.
Caminhou por aquele extenso corredor até a sala daquele mesmo médico, sentou–se na sua frente e esperou ele abrir o envelope. O viu analisar as inúmeras folhas, os olhos correndo pelas linhas. Assim que ele os ergue e a fitou, Rebeca compreendeu de imediato.
— Não há um jeito fácil para falar isso, então, serei direto. Você tem um câncer em estágio 4. — A voz dele ecuou pela sala branca e em seguida veio o mais absoluto silêncio, este que pesou tanto sobre a jovem mulher. Diante da falta de reação, ele continou a explicar.
— Sarcomas são tumores raros, iniciados nos tecidos que dão origem a músculos, ossos e cartilagens. Um tipo que pode afetar o estômago é o tumor estromal gastrointestinal, mais conhecido como GIST. No seu caso, não podemos retirar cirurgicamente... Infelizmente já passamos dessa fase. Podemos tratar de maneira paliativa.
— Quanto tempo eu tenho? — Não o deixou continuar, ele ficou mudo, pareceu tentar encontrar as palavras certas. — Só preciso saber quanto tempo, doutor.
— Não consigo ser exato quanto a isso. Você pode ter uns cinco anos à sua frente. Como pode ter apenas seis meses, depende muito de paciente para paciente e da maneira que você vai permitir se tratar. — Ele respondeu, e Rebeca pode ver a pena em seus olhos. Levantou-se, agradeceu e saiu sob seus protestos. Ao seu ver, naquele momento, ela não tinha condições para decidir nada.
Entrou em seu carro e dirijiu sem rumo. Pela primeira vez em toda a sua vida, ela não sabia o que fazer. Quando se deu conta, já estava na pequena cidade onde sua avó morava. Havia dirigido mais de 180 km e não se lembrava nem da metade.
Estacionou no mirante onde costumava vlir com meus primos, saiu do carro e caminhou até o parapeito. Ali, sob as estrelas e sem ninguém por perto, permitiu que sua lágrimas caíssem. Seus joelhos vão de encontro ao chão.
— POR QUE EU?
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Enquanto eu ainda estou aqui.
FanfictionRebeca, uma empresária bem-sucedida às vésperas de completar 27 anos, vê sua vida dar uma reviravolta quando é diagnosticada com uma doença terminal. Após dedicar seu tempo e energia inteiramente ao trabalho, ela se depara com uma realidade intimida...