Esguio.

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  Já é noite. Os quatro olham estáticos para a porta. Ethan está com sua escopeta, de pé ao lado de Cecile, que está com sua Magnum em mãos.
Akiro está com seu arco e flecha, próxima à lareira, e Noah está em frente a ela com sua Kar-98 em mãos.
  Todos estão aflitos, somente a madeira velha sob seus pés e a ventania do lado de fora produz algum som naquele ambiente. Depois de alguns minutos Cecile fica inquieta.

- Gente, já é noite mas nada acontece! - Cecile fala alto.

- Shhhh! Talvez esteja acontecendo agora, eles só não entram aqui. - Ethan cochicha.

- Suas armas estão carregadas? - Akiro pergunta baixinho e todos confirmam com a cabeça.

- Eu ouvi algo. - Noah diz e se concentra nos sons - Passos? - ele se pergunta.

- Será que alguém conseguiu entrar na floresta como a gente? - Akiro chega mais perto da porta.

- Isso é muito improvável Akiro, pode ser os passos de alguns animais. - Noah diz encostando seu ouvido na porta para escutar melhor

- Consegue ouvir alguma coisa? - Akiro pergunta tentando escutar.

Noah escuta um leve caminhar desleixado pela floresta.

- São passos... bípedes?...

- Nós temos que ir lá fora ver! - Cecile fala impaciente.

- Cecile, não. Pode ser uma armadilha. - Ethan diz pondo a mão em sua frente impedindo-a de passar.

- E se for realmente alguém? Vamos só deixar ele lá fora? - Akiro se preocupa.

- É muito arriscado abrirmos essa porta agora. Vamos esperar amanhecer para procurar essa coisa. Se for realmente uma pessoa, ela ainda vai estar lá quando o Sol nascer.

Noah escuta um burburinho familiar. Ele se aproxima novamente da porta...
"Onde eles se meteram?! Já fazem dias que estamos procurando!!!" - uma voz mais grossa e familiar diz.

- Jonathan? - Noah sussurra surpreso e seus colegas chegam mais perto da porta, desfazendo a "formação de ataque" - E-Esperem, ainda pode ser uma armadilha, ele só disse uma frase! Eu preciso escutar mais.

Uma voz mais fina responde
"Eles têm que estar aqui na floresta."
"Cai na real, eles fugiram!'
"Eu não acredito nisso e eu não vou parar de procurar até encontrá-los" o par de passos da voz mais fina sai apressado pra mais perto da caverna

  Noah pede silêncio para todos e levanta sua arma com suas mãos trêmulas.

"Um beco sem saída né?"
"Não Jonathan! Olhe! É como uma casa!!!"

Seus colegas conseguem ouvir claramente a voz dos dois agora.

- São eles Noah!!! O que você está fazendo?? Abre logo isso!! - Cecile fala um pouco mais alto de forma impaciente.

- Shhh! - ele repreende.

"Ouviu alguma coisa?"
"Talvez eles estejam aqui dentro!!"

Tock tock tock*

"MENINOS!!!" - a voz feminina chama

- Já chega, é óbvio que é a Mell. - Ethan diz indo com a intenção de abrir a porta

- Espera Ethan, não acha isso conveniente de mais?! - Insiste o grisalho

- Ele tem razão Ethan, e nós precisamos esperar amanhecer. - Akiro diz de braços cruzados.

- E se aquelas criaturas tentarem atacar eles?? - a ruiva pergunta preocupada.

- Isso... não é problema nosso, precisamos nos proteger em primeiro lugar e não cuidar de pesos mortos. - essas palavras saem amargamente de sua boca. A verdade é que ele quer arrancar essa porta de tanta angústia, como ele poderia deixar seus instrutores assim?

- O que. Você. Disse?! - Ethan se irrita

- Noah isso não foi muito legal. - Akiro se incomoda.

Cecile vai rapidamente e tenta abrir a porta, mas sua colega a interrompe segurando seu braço.

- Ei, eu entendo sua preocupação e eu não gostei nem um pouco do jeito que o Noah falou dos nossos instrutores, mas não podemos abrir essa porta por nada!

"ROAAAAAAAAAR"

"J-JONATHAN?!"
"ATRÁS DE MIM!"

- O QUE FOI ISSO?! - Cecile se desespera e Noah mais uma vez a repreende

"MENINOS?? VOCÊS ESTÃO AÍ DENTRO?!" - diz em desespero a voz masculina. Ele tenta abrir mas Noah não dá brecha e joga seu corpo contra a porta - "ESTÁ TRANCADO! VOCÊS ESTÃO PRESOS AÍ?!?"

- NOAH ELES ESTÃO EM APUROS! ABRE ESSA PORTA!!! - Cecile se desespera

- CARTER ABRE ESSA PORTA ANTES QUE EU DERRUBE ELA COM VOCÊ JUNTO!

- E-EU NÃO POSSO!!! AKIRO ME AJUDA!!!

- N-NOAH ABRE SÓ PRA DEIXAR ELES ENTRAREM E DEPOIS FECHA!

- E-EU...E-EU...!

Um som de carne e gargarejo sangrento é escutado

"MELL?!?!?!? CACETE! NÃO NÃO NÃO NÃO!!"

- NOAH ABRE ESSA MERDA AGORA - seus olhos azuis se arregalam de ódio.

"AAAAAAAH ME LARGA SEU FILHO DA-"

Jonathan se calou nesse momento e nada mais foi escutado. Pelo menos não para as audições normais, pois após seu grito ser interrompido, Noah escutou claramente o som da carne rasgando.
Batidas cardíacas tão altas quanto um tambor, por um momento as confundiu com as suas, mas logo percebeu que não vinham dele.

- CACETE! - Tudo aconteceu rápido de mais, Noah não teve tempo de pensar melhor e deixar seus instrutores entrarem. Ele queria tanto, mas não sabia o que fazer com tanta pressão sobre seus ombros. Qualquer erro naquela floresta poderia levar à morte de qualquer um ali. O garoto se sentia culpado por tudo que tinha acontecido, se por causa de mais uma decisão imprudente dele alguém acabasse sofrendo de alguma maneira, ele não poderia se perdoar.

Noah abre rapidamente a porta, mas se depara com algo terrível, o seu pesadelo teria se realizado. A garotinha estava com um coração ainda batendo em suas mãos, Mell estava no chão sem vida com arranhões pelo corpo e principalmente um enorme no pescoço.
Do outro lado, o Jonathan está com grandes cortes feitos por garras em seu corpo, um rombo no meio de seu peito e é segurado pelos cabelos por um ser humanoide. Uma criatura esquelética aparentando ser feita de um pano velho e sujo, cheia de custuras e com garras enormes nos pés e nas mãos. Seus olhos brilham em vermelho.

- Não... - solta o grisalho sem forças, quase cochichando.

"Foi minha culpa. Se eu tivesse aberto a porta. Se eu tivesse os deixado entrar. Se eu não tivesse entrado nessa floresta. Essa merda de floresta. Essa floresta estúpida. Eu odeio essa floresta. Eu me odeio por ter entrado nessa floresta. Eu matei eles. Eu vou morrer. Meus colegas vão acabar mortos por minha culpa. O que eu fiz? O que eu fiz? Mortos. Mortos. Mortos. MORTOS. MORTOS. MORTOS. MORTOS. MORTOS!!!"

  Uma onda de pensamentos o invade em apenas dez segundos. Seus colegas gritam desesperados coisas que Noah não consegue ouvir, como se apenas o barulho daquele coração estivesse sendo captado pelos seus tímpanos. Enquanto a criatura se aproxima encarando seus olhos, logo o garoto percebe que não consegue se mover para longe.

"Medo?" - ele pensa tentando entender os próprios sentimentos - "SE MEXA IDIOTA!!" - seus olhos estão cravados na grande criatura de pano.

  Ele se aproxima e seus colegas começam a berrar mais alto, alto o suficiente para o Noah conseguir entender que chamam pelo seu nome. A garotinha de olhos vazios entrega o coração na mão do esguio, que então começa a esmagá-lo lentamente.

"Nos de os seus medos, não importa qual, contanto que você continue os temendo até o fim." - a voz da menina ecoa pela cabeça de Noah assim como aquele coração sendo esmagado.

  A dor é insuportável mas ele tenta resistir.

"Eu não posso morrer ainda. Eu preciso tirar eles daqui." - apesar de sua resistência, seu corpo não aguenta e cede.

Sua visão apaga. O coração para.

"Tenha um bom passeio"

Saliem 1825Onde histórias criam vida. Descubra agora