Saliem 1825

Confiança.

  Sobe as escadas dando pulinhos para chegar mais rápido, entra na segunda porta da esquerda, abre a primeira gaveta e se depara com várias cuecas de um pano mais antigo.

- Nossa! Ela realmente se preparou pra me receber. - estica uma das cuecas vendo que é exatamente do seu tamanho - Ou será que eram do Jason e ela tá me dando? - guarda de volta na gaveta.

  Fuçando os outros compartimentos encontra: meias, calças, blusas, luvas, lenços, moletons e até mesmo ponchos.

- Nossa... que roupas diferentes! - diz impressionado, vendo os detalhes de folhas, raízes e flores por todas as roupas - Vou pegar um poncho e mais um par de meias. - coloca as roupas e volta até a bruxa, que o aguarda nas escadas, com a sua faixa que usava na cabeça estando agora em seu colo - To aqui. - se senta ao seu lado - Quer conversar sobre o que aconteceu?

  Fica pensativa, com seus olhos escuros fixos em um pequeno vão entre as madeiras do chão. Ela junta suas mãos e fica cutucando suas unhas escuras de forma ansiosa.

- Não precisa se não quiser, podemos deixar pra outro momento, mas eu acredito que vá se sentir melhor se conversar. - diz de forma paciente.

- Eu sei que você me odeia, Noah. Não precisa fingir que gosta de mim. - abaixa um pouco a cabeça, deixando algumas mechas caírem sobre seus olhos.

  O garoto fica em silêncio com as frases ditas pela moça, afinal ele não sabia mais se realmente a odiava. Beatrice havia passado por um sofrimento sem igual durante a sua vida inteira e tudo que queria era sua família de volta. A mesma chegou a largar a bruxaria que estava consigo faziam anos, por amor.
  Seus pensamentos eram conflitantes, ele ainda não tinha certeza de nada. Um humano não pode viver sozinho, pois foi feito para viver em sociedade. A loucura a consumiu, talvez se Noah tentasse do jeito certo, poderia fazê-la retornar a ser a mulher doce das suas antigas memórias.

  "No que está pensando, Noah Carter?! Ela matou milhares, incluindo crianças inocentes! Eu preciso saber de mais. Quais são os pontos que ainda não foram esclarecidos?" - se pergunta em pensamento, se levanta e corre até a mochila, trazendo seu caderno - "Os bebês recém nascidos mortos na árvore que foram encontrados pelos caçadores, as crianças que ficaram presas na floresta antes de nós, as crianças que foram atraídas pela bruxa e agora estão com suas almas presas nessa casa."

- Você está muito quieto, eu acertei na minha afirmação e te deixei sem argumentos? - diz sem esperanças, não olhando em seus olhos.

- Sim, você está certa. - abre o caderno, com seu lápis e borracha em mãos - Então por isso, eu quero saciar todas as minhas dúvidas e te entender por completo. Por favor, não minta para mim sobre nada e eu confiarei em você, tudo bem?

  Ela se surpreende com a sinceridade do grisalho.

- Certo, o que quer me perguntar?

- Eu e o Ethan encontramos um documento em nome dos caçadores, que dizia que haviam encontrado uma árvore cheia de corpos de bebês recém nascidos, itens de bruxaria e uma criança sem olhos em frente a tudo isso.

  "Já sei a resposta disso. Afinal ela me mostrou que não foi bem assim, através de suas memórias." - pensa olhando em seus olhos - "Mas quero testá-la, afinal faz tempo em que me mostrou essa sua memória. Se for mentira, algum detalhe da explicação não vai bater."

- Eu já te expliquei isso, a árvore com crianças mortas foi uma ilusão que eu criei para afastar os caçadores da minha irmã burrinha.

- Então você pode criar ilusões?

- Não exatamente. Antes de conseguir o demônio da Gula, que é um ótimo manipulador da realidade, eu utilizava uma magia fraquíssima de ilusão através do uso de uma mistura de cogumelos e cristais.