- Akiro... Akiro... Akiro... - rouco, se balança para frente e para trás lentamente. O sangue não para de sair e sujar os dois cada vez mais.
Coloca a garota em suas costas, vai até os potes de Isted Lényege, veste o cinto com os frascos de esporos vazios, mas deixa seu chapéu na grama. Segue com a garota deixando um rastro de sangue para trás.
- Eu não tenho remédio o suficiente, preciso de muito... muito mais.
Entra na caverna que anteriormente ficava com seus amigos, vendo que tudo está empoeirado e escuro. Agora, sabendo da passagem discreta para o quarto antigo da Beatrice, enfia o indicador dentro da abertura e puxa. O cômodo é pequeno e empoeirado, ao lado ele vê outra abertura, que revela um espaço com pia e uma banheira.
- Aqui. - a põe dentro da banheira. - Deixa eu te ajudar... - tira seus sapatos, que antes eram rosa com desenhos fofos de morango e flor de cerejeira, extremamente marrons de terra. - Vou lavar pra você.
Chegando na pia, se depara com um espelho e vê seu estado deplorável: olhos inchados; rosto sujo de sangue, terra e suor; cabelo sujo e bagunçado; roupas rasgadas.
O espelho começa a se distorcer, mais uma vez ele vê seu rosto derretendo, mas para ele, nada mais importa além dos cuidados que Akiro precisa receber. Então abre a torneira e surpreendentemente ainda há água corrente, que inicialmente sai suja.- Foi mal, talvez ainda fique manchado. - esfrega com uma escova de dentes velha. - Vou me livrar de suas roupas manchadas também. - deixa os tênis secando na pia e volta até o quarto, buscando algum móvel que contenha roupas. Encontra facilmente uma cômoda ao lado da cama e então pega um vestido branco florido, justo na cintura e rodado embaixo.
- É mais fácil de vestir... - vai até ela - Quer vestir esse aqui? - mostra.
Por um período de tempo, Noah parou de entender a morte de Akiro, mas agora ele prestou atenção novamente, se lembrando do que aconteceu. Era como se seu cérebro estivesse constantemente tentando fazê-lo esquecer, mas ele a vê e se lembra de tudo. Sua feição é confusa, a mesma avalanche de sentimentos agonizantes retorna. Um aperto forte e dolorido, quase como um infarto; suor frio; dor de cabeça.
O grisalho se abaixa lentamente, deixando o vestido na bancada da pia. Leva suas mãos trêmulas até o rosto e cobre os olhos.- Que injustiça. Levaram ela de mim. Tiraram minha risonha de mim. Se eu tivesse fugido com ela... Ah... que injusto. - começa soluçar de chorar. - Eu não consigo... não consigo viver sem ela.
Continua tentando se recompor, com a mão no peito e respirando com dificuldade. Ele vai até ela engatinhando e passa o resto de Isted Lényege em seu rosto.
- Visszavonás. - acaricia com cuidado a região da ferida para que sare enquanto transmite sua energia, mas percebe que nem mesmo o corte no rosto dela se cura. - Ah... que merda. Eu queria pelo menos deixar o seu rosto como sempre foi. - apoia as costas do lado de fora da banheira e olha para o vestido ainda na pia, pensando no que fazer em meio aos seus suspiros sofridos e lágrimas pesadas. - Akiro... eu deveria te enterrar? - começa a cutucar a gola rasgada de sua roupa quando sente um fio de cordão. - Eu não sei... eu queria te dar um enterro digno, mas não quero deixar você ir desse jeito. - tira o colar debaixo de sua roupa e continua mexendo - Você provavelmente estaria me dando uma bronca agora, não é? - olha para o rombo em seu peito, quando sente que vai vomitar por se lembrar da cena da Beatrice engolindo seu coração e dos gritos de Akiro. Se levanta com pressa e vai até a pia, mas escuta um tinir no chão do banheiro que desvia sua atenção.
O colar de jade que estava em seu pescoço tinha acabado de cair, por conta da puxada violenta que deu ao se levantar. Ele vai até ele e o pega pela pedra.
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Saliem 1825
Mystery / ThrillerNoah é um garoto de 16 anos que mora na cidade Alma, em Quebec (Canadá). Em suas férias, sua mãe decidiu colocá-lo em um acampamento que parecia comum aos seus olhos, mas aos de Noah, se tornou seu pior pesadelo. Algo começa a chamá-lo naquela flor...