Mente Manchada.

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Os primeiros dias vivendo nesse acampamento foram complicados por diversos motivos: saudades dos meus livros, minha casa, meu quarto, minha cama. Ah... Que saudades daquela cama! Fora que eu tive que ver o cara que eu mais odeio (de forma recíproca) diariamente e ainda dormir no mesmo cômodo que ele!!! O livro que o pai deixou pra mim, não tive coragem de trazer porque o irritante do Ethan poderia pegar e rasgar todo!! As tarefas no acampamento eram cansativas mas... (odeio admitir isso, mas...) eram divertidas.
Minha mãe disse que eu precisava disso, que iria me divertir. Como sempre, estava certa, pena que ela não previu o que aconteceria após o momento inicial de diversão. Até que ponto a maldição pode alterar o destino? Minha mãe realmente achou necessário ou a maldição a fez achar necessário? Meu pai... morreu porque era... "necessário"? Sua morte não fez sentido... eu ainda não entendo. Como pode, um homem tão saudável, morrer de ataque cardíaco? É possível, claro, mas até que ponto... vai esse "necessário"?
Após viver um período curto no acampamento, você me chamou para a floresta, Beatrice, com ameaças e mais ameaças. Se mostrou violenta, sádica, um demônio na Terra. Infernizou a minha vida e a de meus colegas, (que por algum motivo me cativaram ao ponto de virarem meus amigos). Sempre deixou claro que seu foco era... eu. Então após ver que você é forte demais para ser derrotada por quatro adolescentes com armas brancas, me juntei a você em troca de suas liberdades.
Eu tinha nojo de você, ódio, repulsa e todos os seus sinônimos. Eu comecei a sentir ódio de mim mesmo, por ter aceitado essa troca... mas o que eu poderia fazer? Você tem a Gula, a Sarah, os próprios poderes e ainda superou a velhice!! Praticamente indestrutível, imortal, impossível de ser derrotada. Praticamente. Afinal eu já sei como te quebrar.
Aos poucos você se aproximou de mim de forma doce... mexendo com minha cabeça e meus sentimentos. Você começou a me fazer acreditar que até a pior das pessoas pode mudar, quando se recebe gentileza e amor. Mais uma vez... você me enganou.
Na mesma noite em que brincamos na chuva e rimos um com o outro, as crianças me chamaram.

- Do que vocês estão falando? Ela não é mais uma pessoa ruim! - te defendi na "frente" daquelas três crianças invisíveis.

- oh céus! é tarde demais!! - a medrosa disse.

- ele não consegue pensar? - o curioso choramingou.

- noah! não caia nessa! - o inteligente alertou.

- Eu não estou sendo enganado! Ela não mentiu pra mim sobre nada!!! Fui atrás de cada coisa mal contada e tudo foi confirmado sem nenhum desvio!!! Ela não. Está. Mentindo!

- não é esse o ponto, carter! ela não mentiu em nada para ganhar sua confiança, mas não quer dizer que não há coisas que ela deixe de dizer!!

- Eu não acho que ela deixou de dizer nada. Eu sei que vocês sofreram nas mãos dela e tudo, então é normal ficar na defensiva, entendo, mas ela mudou depois que eu cheguei. - falei andando de um lado para o outro dentro de meu mais novo quarto.

- há uma coisa na verdade que ela acabou mentindo. - a medrosa corrigiu a fala do inteligente.

- O que? - uma pedra preta caiu no chão, próximo ao meu pé.

- eu peguei a ônix da caverna para você.

- Você... consegue sair da casa?!

- sou a única que consegue.

- Ela disse que essa pedra não era boa... - olha com medo de tocar.

- ela não mentiu, não é boa... para ela.

- o que quer dizer, inteligente?

- as ônix não são pedras malignas, são pedras fortes de proteção, ou seja, um toque nela e todos os truques mentais deixam de funcionar, mas se quiser que continue fazendo efeito deve carregá-la consigo.

Saliem 1825Onde histórias criam vida. Descubra agora