Inferno gelado

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Giovanna odiava o frio, principalmente quando não deveria senti-lo, sentir calor era suar, mas frio era sinônimo de dor, seus músculos se contraindo para tentar armazenar o máximo de calor que conseguia.

Mesmo com o aviso de Lucas e a repentina tentativa de possessão, o grupo adentrou no portal, o que antes era frio se tornou congelante, suas extremidades gritaram, não sentia seus dedos mesmo estando de luvas, pelo menos não era a única a morrer de frio, todos pareciam congelar.

A neve que antes cobriam seus pés estava em sua cintura e mesmo assim caminhavam lentamente seguindo Ana, seja lá para onde iam. A única coisa que Giovanna sabia era sua consciência se apagando aos poucos, a Tundra não ventava como lá, piscar e respirar doía.

— Impressão minha ou estou congelando? – Giovanna tentou falar, mas sua voz era baixa e encoberta pelo som do vendaval.

Lucas a segurou e puxou para perto, ele que sempre evitava tocá-la, talvez estivesse preocupado com ela.

— Realmente estamos aqui – Thaís disse tirando seu gorro rosa e entregando para Lucas – Bem vindos ao inferno gelado, sugiro ficarem de olho nos demônios e onde pisa.

— Porque me deu seu gorro?

— Eloá pegou o seu e não vou precisar – Os olhos de Thaís começaram a mudar, se tornando um degrade de azul para roxo, ela crescia e se tornava mais velha, mais madura, próxima aos 30 anos, seus cabelos se tornaram chamas incontroláveis, sua pele tão clara quanto a neve e chifres cresciam em sua cabeça, curvados e feitos de marfins.

Todos olhavam para a feiticeira.

— O que foi? Nunca viram minha forma real?

— Não... não completa – Giovanna disse.

— Não com chifres – Ana completou.

— Vou tentar manter todos aquecidos, só peço para não chegarem muito perto ou vão se queimar.

Lucas colocou o gorro rosa e os três Aasimares formaram um triângulo ao redor de Thaís. Andaram o que pareceu horas sem encontrar nada, às vezes Giovanna sentia um calafrio estranho na nuca, como se estivessem sendo seguidos, mas todas as vezes que olhava para trás, não havia nada além de uma imensidão branca de neve.

Mesmo com o fogo de Thaís, a neve piorava conforme seguiam caminho, Giovanna podia enxergar a feiticeira somente por seu cabelo vermelho e laranja, todo o restante era coberto por uma névoa branca.

— Isso é estranho! – Ana gritou, Giovanna não conseguia ver a amiga, mas podia sentir seu cheiro e ouvir sua voz – O rastro se dividiu... temos cinco caminhos.

— O livro não pode ter se dividido, vamos seguir um deles e ver no que dá! – Thaís gritou de volta.

Todos voltaram a caminhar e seguir, provavelmente como ela, seus amigos não podiam ver nada além do vermelho que Thaís emitia, o que era preocupante, já que Ana liderava o grupo, caso a feiticeira perdesse a menina de vista, Ana estaria sozinha em uma dimensão demoníaca.

— Lucas! O que está vendo à sua esquerda? – Ana perguntou.

Ele não respondeu, todos pararam.

— Andrade?! – Thaís gritou com força, parecia se mover para onde o rapaz deveria estar, Giovanna só teve certeza que nem a feiticeira sabia onde cada um estava, pensou até que fosse uma armadilha, levá-los para outra dimensão, onde seriam cobertos e soterrados sem ninguém saber, onde ela estaria segura, já que sua magia era concentrada em fogo.

— Luke! – Giovanna gritou e sentiu ser agarrada por trás, seu corpo não sentiu o típico calafrio de alguém se aproximando e o cheiro que a cercou era familiar, o garoto que estavam procurando a abraçava. – Tá' maluco? Não some desse jeito.

Mundo espelhado: O brilho da graçaOnde histórias criam vida. Descubra agora