Acorde para o mundo

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Enquanto partia o demônio ao meio, Ana se lembrava da frase que sua voz interior tinha lhe dito, mesmo que essa voz não fosse exatamente sua, as sombras se levantam e as portas se abrem novamente, ela não entendia o que exatamente isso significava, sempre que algo estava para acontecer essa voz sussurrava em sua mente como um alerta, como neste instante enquanto enfrentava demônios menores em uma casa abandonada.

Aasimar, Nephilim, era chamada assim desde sempre, igualmente como seus pais, seus avós e antecedentes, sua família era bem famosa, já que cada pessoa deveria receber a benção para se manter no mundo das sombras, muitas famílias se quebram por seus filhos não serem abençoados, outras se perdem quando a benção se desgasta, mas a maioria das pessoas ganha um pouco de poder como recompensa ou presente dos anjos. Apesar disso, nem todos recebem a mesma quantidade que sua família, ou tão cedo quanto ela.

Seus longos cabelos castanhos cacheados soltaram do laço quando atingiu o terceiro demônio da noite.

— Merda, devia cortar essa coisa! – disse jogando os cabelos para trás.

— Mas aí, não seria mais a Ana cachinhos nervosos! – disse uma voz alegre vinda de uma garota alta, que cortava um demônio do outro lado da sala, seus cabelos pretos tipo Chanel com mechas vermelhas e rosas se destacavam ao girar o corpo junto com a espada.

— Tá' zoando comigo Gih'? Você cortou não faz uma semana, falando ser melhor o cabelo curto – respondeu Ana forçando a espada no que parecia ser a garganta do demônio – essas pragas estão cada vez mais nojentas e em maior número.

— Faz parte do que são Ana, não os critique por sua feiura extrema, sangue e ... uh cheiro horrível, eles não nos julgam por sermos belos, estonteantes e graciosos – Giovanna disse ao girar sua espada pelas costas e decepar a cabeça de outro – SETE!

— Ah nem vem! Ainda tô' no quarto, você não é mais rápida para estar no sétimo – disse Ana indignada e revoltada, direcionando suas emoções para a cabeça de outro demônio.

— Você sabe que nunca mentiria para você – os lábios cheios e negros de Giovana se curvaram em um lindo sorriso de deboche e sarcasmo.

Ana virou-se para a amiga quando retirou sua espada do quinto demônio, o som da carcaça atingindo o chão parecia toalha molhada, mas todas às vezes Ana se lembrava dos bolinhos de carne cheios de molho que sua mãe fazia, molhados, sem forma definida e com a característica mais marcante, o cheiro estranho.

A gosma que antes era o sangue dos demônios infesta a casa, as paredes estavam salpicadas de várias manchas e pedaços de massa indistinguíveis, Ana começou a contar quantos abateu e quantos a amiga abateu.

— Gih', só contei seis, onde está o seu sétimo? – Ana começou a se aproximar da amiga desviando das carcaças, Giovana estava sorrindo.

— Aqui! – respondeu Giovanna dando um tapinha nos ombros de Ana e correndo pela casa até a porta principal.

Diariamente Ana e Giovanna saiam pelas ruas procurando qualquer atividade demoníaca, qualquer notícia de um novo portal ou ataque, desde os treze anos elas saiam juntas e competiam para saber quem tinha mais abates no ano. Quatro anos depois que decidiram competir, Ana ainda se lembrava de contar para marcar no quadro branco da sala, dessa vez perdeu por um demônio, mas ainda estava na liderança.

Ana se desviou das massas de bolinho e seguiu sua amiga até a saída, a rua estava deserta, o Castelo era um bairro tranquilo em Campinas, algumas casas e comércios que abriam durante o dia, mas durante a noite ficava silenciosa e vazia. Além disso, a iluminação era ruim, por mais que o bairro fosse perto do centro.

Mundo espelhado: O brilho da graçaOnde histórias criam vida. Descubra agora