Futuro promissor

7 1 0
                                    

Ana finalmente tinha conseguido cinzas o suficiente, foram mais de 50 funerais para preencher todo o pacote que Thaís entregou, a fita que fechava estava vermelha mostrando que tinha concluído o pedido. Agora só esperava Giovanna e Lucas terminarem suas tarefas, se tudo estivesse certo, no dia seguinte poderiam conjurar o feitiço, dois dias antes das aulas voltarem.

Giovanna dormia profundamente ao seu lado, disse algo sobre economizar energia para a madrugada, Ana não sabia exatamente como a menina conseguiria o restante do sangue em um dia, mas esperava que tudo funcionasse.

Contudo, algo incomodava Ana, as vozes estavam intensas e uma voz em específico a alertava dos perigos constantes de procurar pelas trevas. Achou melhor conversar com Thaís sobre esse problema.

— Aonde vai vestindo isso? – Gabriel apareceu no corredor da casa vestindo seu pijama azul escuro – Vai fazer um bico no circo?

Talvez Ana tenha exagerado na escolha das roupas, uma calça laranja com bolinhas verdes e blusa azul repleta de babados.

— Vai ficar em casa hoje? – Ana perguntou descendo as escadas, provavelmente comeria pão pelo terceiro dia seguido.

— Lili vai chegar daqui a pouco, vamos terminar nosso projeto no porão e também podemos esperar a Gih' acordar.

— Só não destrua a casa enquanto não estou, sua irmã precisa dormir – Ana pegou alguns pães e manteiga – Quer pão?

— Quero... Ana – Gabriel esperou a menina olhar para ele – Tem certeza que vai funcionar?

— Tem que funcionar, as vezes ter fé é o que nos torna o que somos... vai ser rápido, logo teremos uma vida nova.

— Mas nem tudo pode ser movido à fé... só tenha certeza que ninguém vai morrer nesse processo – Gabriel pegou um dos pães com manteiga e saia da cozinha – Se alguma coisa acontecesse com vocês, nossos pais ficariam muito tristes.

Ana sabia que teriam consequências, toda magia tinha, só esperava salvar o máximo de vidas, que os ataques parassem e a vida voltasse a caminhar como antes, tranquila e despreocupada. Mas para isso teria que conversar com Thaís sobre seu novo plano e torcer para que a feiticeira concordasse.

Durante o percurso de sua casa até a residência da feiticeira, se perguntou sobre sua vestimenta, tinha exagerado na combinação maluca, todas as pessoas da rua e do ônibus olhavam para Ana, como se a menina fosse um carro alegórico.

Depois de várias ligações e palmas, Thaís atendeu o portão da casa, parecia cansada e mal humorada, seu vestido estava amassado e com várias manchas, era estranho ver a feiticeira tão desleixada.

As duas não conversaram pelo corredor, a casa estava bagunçada e suja, Ana se sentou na única poltrona arrumada enquanto Thaís preparava chá.

— Bom dia Ana, porque está tão cedo na minha casa? – Thaís estalou os dedos e todos os móveis jogados ficaram em seus devidos lugares.

— Preciso conversar com você... sobre algumas mudanças de planos – Ana bebeu o chá, estava aguado e sem sabor.

— Sozinha? Não trouxe seus amigos para conversar também? – Thaís movia sua mão desocupada pelo ar, seu cabelo se alinhou e foi amarrado em um pequeno rabo de cavalo.

— Não é uma situação que entenderiam.

— Mas eu sim? – Com outro estalo de dedos, um prato de biscoitos de chocolates apareceu na mesa de centro.

— Seremos nós duas a conjurar o feitiço, então acho válido decidirmos como será feito.

— Faremos como diz o livro, não diferente Ana, se mudarmos um ingrediente se quer, tudo pode dar errado, podemos morrer e matar muita gente.

Mundo espelhado: O brilho da graçaOnde histórias criam vida. Descubra agora