teatro ✧ sunsun.

𝐀𝐓𝐎 𝐗𝐈𝐗: o famoso clichezinho.

"Penso que não há nada mais artístico do que amar verdadeiramente as pessoas.
Van Gogh."

Mesmo que o carro tivesse quebrado no meio do nada - o que evidentemente deixou-me chateado, queria descobrir aonde Sunghoon me levaria -, mesmo que eu tivesse provado de múltiplos sabores em meus lábios, e mesmo que tudo tivesse ficado confuso e bagunçado, eu acabei gostando de certo modo. Certamente não foi por conta da parada repentina, quiçá pela vontade de bater
naquele projétil das trevas versão asiática,
ou até mesmo por causa de dores antigas. Foi culpa de uma essência que apenas ele exalava.

Eu ainda não superei que o beijei, abafa o
caso.

─ Repete para eu ouvir. ─ Chaehyun falou de novo enquanto colocava as mãos na própria cintura. Suzy até mesmo deixou o celular de lado para ouvir eu contar a história. De novo.

─ A gente conversou e acabou se beijando. ─ falo resumidamente para ela. Escuto a mesma dar alguns gritinhos de, aparente felicidade, e vejo Suzy balançar a cabeça enquanto sorria diante da cena de Chaehyun.

─ Ele te pediu em namoro, oppa? ─ tornou a perguntar animada a rosada. Sorrio sem graça e evito seu olhar. Não por vergonha, mas pela necessidade de pensar um pouco a respeito disso. Isso não tinha acontecido e no momento, mal pensei nisso. ─ Ele não quer namorar com você? ─ dito isso, sentou-se ao meu lado na cama e acabou por segurar minhas mãos.

─ Nem eu sei, Chae. ─ sou sincero ao dizer tal coisa. ─ Depois da conversa que tivemos, a gente ficou um pouco mais e ele me trouxe para casa.

─ Nem mesmo uma mensagem?

A menina pergunta esperançosa. Seu apego por contos yaois era visível, desejava um final feliz para as pessoas que estavam diante de seus olhos. Mas, até mesmo eu sabia que a vida não é como os contos.

─ Não. E tá tudo bem, eu acho. Eu pedi um tempo a ele, eu realmente preciso organizar todas as coisas. Mas, até lá, que tal um filme a três?

─ Eu faço a pipoca. ─ Suzy se oferece ao meu lado.

─ E eu compro alguns doces. ─ Chaehyun sugere.

( . . . )

Segunda feira e Lee Heeseung havia faltado. Mandei mensagem mais cedo perguntando o porquê disso e não obtive respostas. Só havia poucas opções diante disso e eu acabei optando por focar no conteúdo. Eu ainda não entendia ele, mas deu pra elucidar algumas dúvidas que minha mente tinha.

─ Posso me sentar ao seu lado? ─ escuto Sunghoon indagar a mim enquanto parecia meio sem graça. Indico que sim e o mesmo pega a cadeira de Heeseung e a puxa para meu lado.

─ Quais são suas intenções? ─ pergunto. Havia confusão em seu olhar e ele retruca perguntando o quê?. Suspiro rapidamente e continuo: ─ Tipo, anda romântico e meio carinhoso. Não que eu esteja reclamando, longe de mim dizer tal coisa. Eu só não estou acostumado a isso vindo de outra pessoa que não seja aqueles de mais perto, entende? A gente ficou afastado por um tempo, por isso.

─ Então deixe-me tentar recuperar o que
nosso afastamento causou. ─ ele disse.
Timidamente, foi colocando sua mão sob
a minha destra e sorriu meio amável. ─ Eu estou disposto a tentar, acredite. Eu quero que voltemos a ser como antes.

─ Carinho sem se preocupar com a opinião dos demais, eu enchendo o seu saco e você me irritando às vezes? ─ Sunghoon assente levemente diante do que digo. ─ Já disse, vamos tentar. Eu só quero ir com calma. Podemos sair em alguns dias da semana, conversar mais.

─ Posso te beijar em alguns momentos? ─ ele pergunta com um brilho de esperança no olhar. Demoro alguns minutos para lhe responder, o que só parecia aumentar um nervosismo nele. Seus dedos mexiam sob os meus com uma certa rapidez evidente.

─ Pode. Mas tem de ser em momentos
adequados. Entendeu?

Lanço a proposta a Sunghoon e vejo ele sorrir animado ao concordar.

( . . . )

Sunghoon estava ao meu lado no refeitório enquanto eu ouvia Chaehyun, Xiaoting e Yuna discutir sobre livros e grupos famosos.

─ Crepúsculo é tão sem sal. A personagem é muito parada, sem vida. Quer dizer, vampiros não têm vida mas você me entendeu. ─ Xiaoting dizia convicta a Chaehyun. ─ Eu já li a estória mas só terminei na base da raiva mesmo.

─ Nisso ela tem razão. Por isso eu prefiro
Harry Potter e Percy Jackson a essa saga
dos vampiros. ─ Yuna diz por fim. Comia um sanduíche e bebia um suco de maracujá. ─ Tem mais ação, diversidade e emoção.

─ Elas são sempre assim? ─ Sunghoon
indagou se aproximando cada vez mais de
mim. Percebo sua aproximação mas não digo nada, pelo menos não tentou me beijar até agora.

─ Geralmente elas são piores. ─ lhe digo. Ele havia trazido um pacote de salgadinhos e aproveitando da deixa, pego alguns para mim. ─ Mas elas são muito amor.

─ Oppa, o que acha? ─ Chaehyun chama a minha atenção após quase cinco minutos discutindo com as meninas e eu engulo em seco. Eu odiava participar das discussões que ela iniciava, eu sempre saía com dor de cabeça.

─ Sunghoon e eu precisamos resolver um
assunto. Depois voltamos. ─ rapidamente
puxo a mão de Sunghoon e juntos saímos do refeitório. Respiro aliviado por estar longe que não desejava ter dores hoje.
Desço meu olhar para minha mão junta a de Sunghoon e a deixo assim, até que a sensação estava boa.

De primeira, andamos sem um rumo preciso. Eu só desejava estar longe das meninas. Mas, aos poucos, acabei percebendo que Sunghoon me levava para o local onde tudo desandou em nossa vida. Empurrou com delicadeza meu corpo sob a árvore que impedia os demais olhos de nos verem – uma desculpa para um mundo, eu diria – e seu olhar dizia uma
mensagem clara, ou pelo menos vi que sim: eu posso te beijar?

Balanço a cabeça em sinal de concordância e de modo delicado, sinto seus lábios sob os meus. Era um beijo clichê, com sentimentos guardados e emoções escondidas. Mas que, naquele momento, foi me dando uma nova visão sobre Park Sunghoon, garoto cujo eu
amava mais do que palavras poderiam dizer.