O Sangue do ódio

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"Na teoria do caos um simples sorriso pode mudar seu destino"

- Yago Ricardo

"Não me decepcione" - Essa é a frase que eu mais ouvi em toda a minha vida.
Ele a falou quando eu nasci, falou quando eu entrei na escola primária, falou quando descobri minha individualidade e falou hoje de manhã, quando me entregou o uniforme da UA.
Sinceramente, minha vontade é de enfiar estacas de gelo em suas pernas até que elas percam a capacidade de se mover. Porém, nem sempre podemos fazer o que desejamos.

Para conseguir tirar as palavras dele da minha mente, eu vou no único lugar que consegue me acalmar ultimamente: Uma pequena cafeteria, onde tem gatos para adoção.
Lá é calmo, pacifico e tem muitos gatos, alguns inclusive já me conheciam de tanto que eu apareço no estabelecimento. Aquele era um dos poucos momentos em que eu tinha paz.

- Se incomoda se eu sentar aqui? - Uma voz me tira dos meus pensamentos.

- A vontade - Eu nem ao menos olho para a pessoa, estava tão concentrado na fofura do gato em meus braços que não me importo com estranhos sentando perto de mim

- Ah! Você está com a raposinha no colo. Eu adoro ela!

- Raposinha? - Eu finalmente olho para a pessoa ao meu lado e vejo que é uma garota.

- Sim! É o nome que eu dei para ela, eu dei nome para quase todos eles na verdade, porém a raposinha é a minha preferida - Ela fala de maneira animada enquanto aponta para a gata no meu colo

Por algum motivo eu fiquei mais calmo na presença dessa menina.
Talvez sejam os olhos, que são em um tom de azul bem mais fortes que o meu, talvez seja pelo cabelo branco e liso que lembra o da minha mãe ou a cicatriz preta no olho esquerdo que faz com que eu lembre da minha, não sei.
Só sei que a sensação de igualdade se fez presente enquanto eu olhava para ela.
Parecia que minha mente já a conhecia, que havia algo em seus olhos que faziam eu lembrar dos meus.

- Sou Todoroki Shoto, e você?

A garota sorriu.
Não de um jeito meigo ou simpático, mas sim de uma maneira que parecia que ela já sabia que essa seria a minha pergunta, que ela queria que essa fosse a minha pergunta.

Ela segura a mão que eu estendi.
Eu a vi abrindo a boca para me responder, porém, não escutei nenhum som. Parecia que o mundo em minha volta desapareceu e nem o peso do gato em meu colo eu conseguia sentir.

Eu não sei o que aconteceu, nem o que ela falou, só sei que não conseguia desviar os meus olhos dos dela
Por 2 segundos eu entrei naquela imensidão azul. Parecia que eu estava boiando no mar aberto e escuro, onde não se tinha nada e nem ninguém por perto. As ondas calmas e geladas faziam eu sentir um leve incomodo no meu corpo, e eu me arrepiava toda vez que uma onda me engolia e me levava para o fundo do mar.
Quanto mais eu me afundava naquele mar escuro, azul e gelado, eu lembrava das minhas escolhas de vida, como se aqueles fossem os meu últimos momentos, e um pequeno e rápido flashback se passa pela minha cabeça. Tudo, desde o meu primeiro suspiro de vida, até o momento em que olhei para aqueles olhos, se passaram pela minha mente e eu vivi tudo o que eu já tinha vivido, de novo e de novo, em um lupin eterno que parecia não ter fim.
E então, as luzes voltaram.

Eu pisco e a garota esta me olhando, enquanto segura um gato.

- Desculpe, qual o seu nome mesmo?

- Kira, eu disse que o meu nome é Kira - Ela sorri

Não sei como, mas passei 3 horas do meu dia conversando com aquela garota. Ela era divertida e alegre, falava muito e fazia perguntas estranhas.
Não sei por que, mas eu gostei dela.