O Sangue do ódio

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Medo. 
O medo parecia fazer parte da composição do DNA dos Todorokis.
Touya sentiu medo, Rei sentiu medo, o próximo filho sentiriam medo, e Fuyumi e Natsuo sentiam medo todos os dias. 

É incrível como um homem é capaz de torturar cinco pessoas, sem nem ao menos abrir a boca. 

Era mais um dia normal, onde Fuyumi se isolava em seu quarto, enquanto Enji trabalhava, sua mãe cuidava da casa e Natsuo estava na escola
A garota se sentia sozinha, com Touya longe de casa, seus pais ocupados e a nova criança recebendo atenção constante, não lhe sobrava muito o que fazer, a não ser, estudar e ler. 

Ela tinha perdido a vontade constante de ter atenção do pai.
Percebeu que não seria boa o suficiente para ele, logo após o surto de Touya acontecer e seu pai não ligar para a queimadura em sua bochecha. Pensou que fosse por conta do irmão mais velho, até chegou a ficar brava com ele por alguns dias, até perceber que nunca foi culpa dele, nem dela, nem de sua mãe e nem de Natsuo, que nasceu e recebeu toda a atenção de seu pai. Não, se ela quiser culpar alguém, teria que culpar Enji, ou Deus, por fazer ela ser uma mulher. 
Era evidente que mesmo se ela tivesse os poderes almejados pelo pai, Enji não ficaria orgulhoso, só pelo simples fato dela ter uma vagina. 

"Você é fraca" - Ele lhe disse nos seus primeiros treinamentos com ela, fez uma cara de nojo, e depois nunca mais a obrigou a treinar. 
Por quê? 
Porque, ao contrário de Touya, e agora, de Natsuo também, ela é mulher, e não conseguia levantar do chão quando seu pai lhe dava empurrões e tapas. 

Descartada como um absorvente usado, só porque não aguentei um tapa de um homem o dobro do meu tamanho... 
Chega a ser engraçado... 

Então, sem família ou amigos para lhe entreter, se afundava em livros, procurando ser igual as protagonistas fortes, independentes e que no final ganhavam reconhecimento.
Por mais que o mundo onde elas vivem seja pior que o seu, a força que aquelas personagens têm é algo que Fuyumi mataria para ter.
Enfrentar os problemas com a cabeça erguida, é isso que ela tenta fazer, desde o começo de sua vida. 

- Fuyumi, cheguei! - Natsuo faz com que ela pare de ler 

- Bem-vindo, como foi a aula? - Ela pergunta enquanto o irmão se joga em sua cama

Ele tem o seu quarto, porém, após algumas brigas dos pais, os irmãos se aproximaram muito, e acabaram por dividir o quarto. 

- Foi boa! Eu tirei 10 na prova de matemática! - Ele sorriu orgulhoso e ela levanta uma sobrancelha 

- .... Você colou? 

-.... Não.... 

- Natsuo! - Ela o repreende e ele ri 

- O papai estava decepcionado com as minhas notas! tive que fazer algo! 

- Colando você não vai aprender nada! 

- Vou ser herói, não preciso aprender matemática! 

O garoto sorri, enquanto Fuyumi revira os olhos.
Ele não escuta, mas ela, com uma angústia enorme no peito, sussurra "Espero que sim". Porque ela sabe que se ele não tiver os poderes, outra criança virá, e ela não quer ver seu pequeno irmão decepcionado com a falta de amor repentina do pai. 

- Está bem, pequeno Herói fedorento, vai para o banho, que daqui a pouco a mamãe vai nos chamar para jantar. 

O garoto reclama, mas vai, e Fuyumi sorri.
Talvez, ela tivesse mais alguém além de seus livros. 

No jantar, Natsuo conta animadamente sobre sua nota para Enji, que obviamente fica orgulhoso.
A irmã mais velha vê o sorriso no rosto do irmão e chega a pensar que talvez, Enji está mudando, e querendo concertar os erros cometidos no passado, com Natsuo.