Após a festa

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Ela correu sem rumo e só parou quando quase tropeçou numa raiz de árvore. Estava esbaforida, segurava uma mão no peito para tentar recuperar o fôlego enquanto repousava a outra mão no tronco. Não era só o fôlego que lhe apertava o peito, mas também o fato de ter ouvido ele falar dela daquela maneira. Fazendo chacota dela, como se ela não fosse nada. Aquilo lhe doía muito. Ainda mais porque era verdade. Ela sabia que Colin nunca seria seu marido, nunca lhe corresponderia seus sentimentos românticos, ele mesmo havia dito isso. A considerava apenas uma amiga. Mas se eram tão amigos, porque ele precisou falar dela daquela maneira? Com desdém?

À medida que o seu peito voltava à respiração normal, Penelope olhou em volta e percebeu que estava na praça principal. Tinha se afastado muito de casa. Estava suada e um pouco desgrenhada, mas não tinha forças no momento pra voltar agora. Resolveu sentar ali mesmo embaixo da árvore. No momento a praça tinha pouco movimento de pessoas e estava um pouco escuro, mas ela não se importava de ficar ali.

Sentou-se e apoiou a mão no chão sujando de terra, enquanto as lágrimas caiam pelo seu rosto gorducho. Mesmo ela sabendo que Colin nunca seria seu, lhe doía cair na realidade. Antes ela podia fantasiar à vontade sobre os dois, planejar uma vida a dois, sonhar engravidando dos filhos dele. Mesmo que ela soubesse que isso nunca seria realidade, ela poderia continuar sonhando, pois nunca havia sido de fato rejeitada por ele. Compartilhavam uma amizade. Ele gostava de sua companhia, de conversar e gargalhar juntos; chegaram até a trocar cartas durante todo o tempo em que ele esteve ausente. Mas aquelas palavras caíram como um murro em Penelope, apesar de que Colin não havia falado diretamente com ela. Mesmo assim, as palavras lhe machucaram muito.

Penelope recostou a cabeça na árvore e respirou fundo, enxugou as lágrimas que teimavam em cair e acabou sujando o rosto um pouco de terra. Deveria estar uma bagunça na aparência. Acabou lembrando das palavras que Marina havia dito há pouco mais de um ano. Que o seu amor por Colin pertencia a uma fantasia que jamais seria realizada. E era verdade. Ficou ali por um bom tempo chorando silenciosamente.

Deu mais um suspiro e reviveu outro acontecimento da noite: Eloise. Agora ela havia descoberto seu maior segredo e haviam terminado a amizade depois de uma discussão calorosa. Eloise não tinha direito algum de se meter nesse assunto, de questionar Penelope. Ela não tinha ideia alguma de como era ser Penelope, de como era ser motivo de chacota na boca das pessoas. Eloise era uma Bridgerton e isso significava muito na sociedade em que viviam. Eram sempre motivo de conversas e, geralmente, de admiração. Todo homem queria se casar com uma Bridgerton e toda mulher queria fazer parte da família. Eloise tinha uma vida boa, mas Pen não conseguia negar que ela era uma garota mimada e entediada. Igual ao irmão dela. Ela não tinha ideia do que era ser uma pessoa invisível como Pen. Ser Lady Whistledown lhe dera um propósito e seria o seu legado. Ela sabia que nunca se casaria, seria uma solteirona. Mas lhe bastava ser Lady Whistledown, lhe bastava tecer críticas sobre a hipocrisia da sociedade. Agora, pelo visto, isso havia terminado. Provavelmente Eloise iria contar a todas as pessoas quem ela era. Será? A amiga parecia ressentida por não ter participado do segredo de Pen, assim como estava magoada pelas palavras ditas sobre ela. Mas era a única maneira de tirar a rainha da cola de Eloise! Será que ela não percebia isso? Não, pois aparentemente os Bridgerton não conseguem ver além do próprio umbigo. Por mais que ela gostasse deles, ela teria que se afastar da família Bridgerton, pois não conseguia se imaginar dividindo o mesmo espaço com eles novamente. Era melhor assim.

Suspirou pela terceira vez e começou a se convencer de que seria melhor se levantar logo para voltar. Estava exausta da noite e a essa altura a festa já teria acabado e todos já teriam ido embora. Ela também tinha que pensar num jeito de voltar sem ser percebida pela mãe, pois não estava com ânimo algum para responder certas perguntas. Enfim, apoiou a mão no chão e ficou de joelhos para se levantar. Usou a árvore como apoio e quando estava de pé, examinou ao seu redor para ver se ninguém a veria por ali. Quando seus olhos se viraram para sua esquerda, avistou um cavalheiro andando na direção da praça. Era um homem alto e parecia vestido formalmente. Seu coração deu um salto. Seria Colin? Será que ele havia sentido sua ausência na festa e a estaria procurando? Ela ficou um momento paralisada. Deveria ficar e esperar ele se aproximar? Não. Não daria a ele o gosto de vê-la dessa maneira, de ver como a havia machucado. Por fim, conseguiu se movimentar e começou a andar em direção a sua casa. Talvez não fosse Colin, mas fosse alguém que poderia lhe fazer mal, já que estava sozinha ali na rua. Foi só aí que Pen percebeu que a praça havia esvaziado totalmente. A figura masculina estava mais próxima dela, tão próxima que chamou-a:

Penelope e Colin: descobrindo o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora