Uma amizade inusitada

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Passaram-se dois dias depois da tentativa de Colin de visitar Penélope. Ele esperava que ela retornasse o recado ou viesse vê-lo. Checou o correio mais cedo e não havia nada dela. Se sentiu um pouco rejeitado. Será que ela estaria de fato muito enferma? Tão enferma que não pode escrever poucas palavras em um papel e enviar pelos criados? Deveria ir visitá-la novamente? Pensou que não. Pelo jeito ela não queria vê-lo. Estava sentado na sala de visitas do segundo andar e tentava tocar algo no piano. Ele gostava de cantar e tocar, mas no momento havia perdido um pouco de vontade. Acabou indo para o sofá ficar esparramado e perdido em pensamentos.

Esse silêncio de Penélope o incomodava. E ele tinha certeza que não se tratava do escândalo envolvendo seu primo que, afinal havia fugido com as economias, o que já lhe rendera uma discussão com Anthony sobre o investimento fracassado. Colin estava se sentindo exausto. O irmão não confiava nele com dinheiro e sua mãe estava lhe pressionando para que arrumasse alguma pretendente nessa temporada. Como se ele tivesse cabeça pra isso! Não conseguia pensar em mulheres com tanta coisa acontecendo. Na verdade, a única mulher que estava em seus pensamentos era Penélope, sua amiga. Geralmente era com ela que ele ia discutir esses assuntos angustiantes. E ela sempre tinha algo bom para dizer a ele. Estava se sentido perdido e frustrado.

Foi nesse momento que Benedict entrou na sala e indagou:

— Colin, como vai?

Ele resmungou algo inaudível para o irmão que perguntou novamente:

— perdão? Não consegui entender.

— estou bem — suspirou Colin

— aparentemente não está nada bem. Me diga, o que o aflige? Ainda aquela história do investimento? Dê um tempo, Anthony vai esquecer isso logo. Ele tem mais 4 irmãos pra se preocupar.

Colin deu outro suspiro e amarrou a cara. Benedict sentou ao lado dele e ficou aguardando que falasse algo. Colin aproveitou para perguntar, se ajeitando no sofá e encarando o irmão.

— benedict, me diga, não houve mais nada naquela noite que você levou penelope para casa?

— já disse a você tudo que houve. Por que pergunta?

Colin amarrou mais uma vez a cara.

— porque Penélope não me responde. Fui até sua casa e se recusou a me receber alegando estar enferma. Deixei recado e não me retornou. Já fazem dois dias. E ela nem veio aqui tomar o chá às segundas com mamãe e as meninas. Algo está estranho. Fico pensando que causei algo a ela e não tenho ideia do que tenha sido.

— deixe estar, Colin. A família dela acabou de passar por um escândalo. Ela pode estar passando por coisas pessoais. E sem falar que ela estava emocionalmente abalada aquela noite. Parecia muito perturbada.

— fisicamente como ela parecia? Tem certeza que não havia sido atacada?

— tenho. Não havia ninguém na praça quando a encontrei. Ela parecia que estava chorando a um bom tempo. Os olhos azuis estavam brilhando ainda com as lágrimas que já tinham secado. E ela estava ruborizada. Já reparou como a pele dela fica avermelhada quando ela está com forte emoção? O branco porcelana estava cintilando com vermelho bem nas bochechas.

— você reparou em tudo isso?

— claro, sou um artista. Precisamos observar tudo no corpo humano.

— sim, e o que mais você observou?

— que ela é uma dama muito inteligente e espirituosa e que está passando por algo.

— mas por que ela iria se afastar? Por que ela não falaria comigo sobre essas coisas? Ela fala tudo comigo.

— tudo mesmo?

Penelope e Colin: descobrindo o amorOnde histórias criam vida. Descubra agora