4 | Aquele com as sete horas dentro do carro

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O dia da viagem finalmente tinha chegado, e com ele, o cronograma de festas e atividades que Nina e Augusto tinham planejado para o sexteto. Os outros quatro estavam realmente curiosos para saber quanto tempo a dupla tinha gasto planejando aquele itinerário, mas tinham até medo da resposta caso perguntassem.

Outra coisa que tinha tomado muito tempo dos amigos e que era quase tão importante quanto a programação para os dias em que passariam na praia tinha sido a divisão dos carros. Até a véspera da viagem, tudo o que sabiam era que iam em dois carros: um dirigido por Augusto e um por João Paulo, e que Jade e Felipe não poderiam, em hipótese alguma, ir juntos. A única coisa que todos tinham certeza era que Jade e Augusto tinham que ir juntos, assim apenas uma pessoa sofreria com a cantoria desafinada da playlist de músicas antigas que a dupla tinha feito especialmente para aquela viagem, porque sim, eles tinham uma playlist de músicas antigas para cada ocasião e que sempre eram cantadas da mesma forma: esgoeladas e desafinadas, e a principal vítima da dupla era sempre Maria Fernanda, que era obrigada a passar por essa tortura sempre que iam e voltavam de Londrina à Maringá. Dessa forma, a escolha foi feita por eliminação.

João Paulo iria dirigir, ou seja, não poderia ir com o amigo e com a prima. Felipe e Jade nunca, em hipótese alguma, poderiam ir no mesmo carro, a não ser que os dois estivessem completamente dopados e dormissem o trajeto todo, mas essa hipótese foi imediatamente vetada por Augusto e Maria Fernanda quando Nina e João Paulo sugeriram. Maria Fernanda já sofria demais com a cantoria da dupla ao longo do ano para passar mais sete horas ouvindo o show do estudante de medicina e da estudante de letras, então, a única pessoa possível para ir no carro junto com a dupla desafinada era Nina.

A ruiva era a mais calma do grupo. Durante o ensino médio era ela quem aguentava os surtos dos amigos por qualquer que fosse o motivo: relacionamentos, ou a falta deles, provas, trabalhos, crises existenciais, o choro descontrolado por conta de um filme, livro ou série. Mas toda paciência tinha limites, e o de Nina era quando atrapalhavam seu sono. Para a ruiva, nada era tão precioso quanto seu sono de beleza, que poderia durar mais de treze horas seguidas facilmente, tão facilmente que uma vez Jade ligou para a mãe da amiga para saber se a mesma estava viva ou apenas dormindo, então o fato dela ser obrigada a passar sete horas dentro de um carro com as duas pessoas mais desafinadas que conhecia e sem poder tirar nenhum cochilo era como um atestado de óbito. Para Jade e Augusto, claro.

Na manhã da viagem, quando os dois carros pararam na frente das casas dos Pellegrini e dos Drugovich, nem parecia que a divisão de quem iria com quem tinha sido realizada da forma mais imatura possível: praticamente aos berros e através de uma chamada de vídeo em grupo no WhatsApp, mas tudo era resolvido dessa forma pelos amigos: através do caos.

Apenas alguns minutos depois de João Paulo e Augusto estacionarem na frente das casas da dupla dinâmica, os dois apareceram carregando suas malas, com cara de sono, e ambos pareciam ainda estar vestindo seus pijamas.

Não que os outros estivessem muito diferentes, com exceção de Guto, que tinha tomado até banho e passado perfume. Mas o que chamou mais a atenção dos amigos foi o fato dos pijamas de Jade e Felipe combinarem. Ambos usavam uma blusa azul escura e a parte de baixo xadrez em tons de azul, a única diferença era que ao invés de usar uma camiseta como o piloto, Jade usava uma regata justa ao corpo, que deixava ainda mais evidente seu desprezo por sutiãs, algo que os outros cinco já tinham se acostumado e nem reparavam mais. Claro que a cena era perfeita e cômica demais para passar batida e várias fotos foram tiradas sem que nenhum dos dois percebesse.

– Eu vou no banco de trás. – disse Jade assim que viu Augusto descendo do carro para ajudá-la com a mala e a mochila. – Eu preciso dormir. Trouxe até meu travesseiro.

– E você vai me deixar cantar todas aquelas músicas sozinho? – quis saber o futuro médico.

– São sete horas de estrada, Guto. Você vai ter que me aguentar por pelo menos quatro horas.

Season of Love | Felipe Drugovich Onde histórias criam vida. Descubra agora