6 | Paz, insônia, brigadeiro e livros

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A primeira festa que Nina e Augusto tinham escolhido para o grupo tinha sido um sucesso. Os amigos não tinham tido nenhum incidente - ou acidente - , e tinham aproveitado a noite como se não houvesse amanhã. A festa tinha sido tão boa que, por um momento, Jade e Felipe até esqueceram que se odiavam e conversaram normalmente como duas pessoas civilizadas. A dupla tinha, inclusive, posado para fotos juntos e bebido do mesmo copo, mas não sem uma ameaça clássica de Jade para o piloto:

– Se eu ficar doente depois de beber do seu copo a culpa vai ser sua.

– Se você ficar doente nós temos um médico em casa pra cuidar de você. – respondeu o piloto, e a conversa ficou por isso mesmo, sem provocações e comentários desnecessários vindos de ambos os lados.

O único problema de festas boas assim é o dia seguinte, aquele que ninguém pensa enquanto está curtindo a vida como se o mundo fosse acabar dentro de algumas horas. Os amigos tinham feito tudo o que podiam e mais um pouco.

Eles tinham bebido, dançado, cantado, pulado, gritado, beijado pessoas que nunca mais iam ver na vida, com exceção de Maria Fernanda e João Paulo, claro, que tinham se tornado os pais dos amigos durante momentos assim, mas mesmo assim todos aproveitaram. Era o momento que tinham esperado durante todos os meses em que passaram presos dentro das faculdades, assistindo aulas, fazendo trabalhos, estagiando, e, no caso de Felipe, estado dentro de um carro em alta velocidade ou um simulador em um país que não era o seu pela maior parte do ano. Mas nenhum deles pensou no dia seguinte, um domingo quente e ensolarado, completamente diferente daquele dia frio e chuvoso apenas dois dias antes que fez com que os seis amigos ficassem dentro de casa comendo, dormindo e jogando jogos da infância, e esse foi o maior arrependimento de todos eles quando acordaram com o sol batendo no rosto pois tinham esquecido de fechar as cortinas dos quartos antes de saírem de casa, sedentos para aproveitar a noite, e não tinham nem pensado nisso quando chegaram, quando ainda era muito cedo para os raios de sol darem o ar das graças mas muito tarde para ainda ser noite.

O primeiro a acordar naquele domingo ensolarado tinha sido João Paulo e, nunca em sua vida, sentiu tanta raiva dos passarinhos como naquele momento. Era como se os cantos deles estivessem martelando em sua cabeça. Quando se levantou da cama, viu que a namorada tinha trocado de roupa, mas ao invés de colocar o pijama que estava dobrado na cadeira que ficava no canto do quarto, ela estava vestindo a blusa que ele normalmente usava para dormir. Para João, não tinha visão melhor que aquela.

Já na cozinha, João Paulo se esforçou ao máximo para fazer café para os outros, mas seus dotes culinários eram iguais aos de uma criança de cinco anos, então achou melhor apenas esquentar leite para tomar com achocolatado, mel e leite em pó, assim como dona Catarina fazia para ele e Jade quando eram crianças e iam dormir na casa dos avós. Outra coisa que João se lembrou foi que não importava quantos graus estivesse, o leite sempre estava na temperatura mais alta que as crianças conseguiam suportar sem queimarem as línguas.

O garoto estava tão perdido em seus pensamentos e lembranças da infância que nem percebeu quando a prima chegou na sala, então o susto que levou quando ela se sentou na cadeira ao seu lado na mesa da cozinha quase o matou.

– Por um acaso isso é cheiro de leite com achocolatado, mel e leite em pó? – perguntou Jade.

– Por um acaso é. – respondeu João Paulo. – E tem leite no fogão, só não sei se ainda está quente do jeito que a vovó deixa.

– Você é o melhor primo do mundo. – falou a garota enquanto caminhava saltitante até o fogão.

– Prima, posso te perguntar uma coisa? – a garota apenas concordou com a cabeça enquanto colocava mais leite em pó do que o aceitável socialmente em sua caneca. – O que aconteceu para você odiar tanto o Felipe? Eu lembro de uma época em que eram vocês contra o mundo.

Season of Love | Felipe Drugovich Onde histórias criam vida. Descubra agora