1. Melhores piores decisões

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[N/A: Oie! Eu de novo, e de novo, e de novo, e de novo...hahahaha. Enfim, estreia. Essa fic trata de temas pesados. Vou tentar lidar com tudo da maneira mais delicada possível. Espero que curtam mais uma jornada dramática dos nossos amados!]

As lágrimas escorriam uma após a outra dos olhos inchados de Natasha. O nariz vermelho e o lábio superior se projetavam do rosto na expressão do choro. A trança ruiva recém-feita caía pelo ombro esquerdo sobre a camisa de flanela vermelha, que era a única coisa que ainda cabia sem problemas.

Piscou repetidas vezes, sentindo a cabeça doer ao tentar focalizar o papel em frente de si. As lágrimas não davam trégua, e o rosto ardia como se houvesse vidro descendo junto com a água. Assinou as diversas folhas que selavam seu destino dali por diante, consagrando diante de si a escolha mais difícil que já tinha feito. Devolveu a caneta para a assistente social com a mão trêmula. Puxou o ar ruidosamente, soluçando alto. O ar gelado do inverno fazia o pulmão dela queimar, mesmo dentro do hospital.

"Senhorita Romanoff... Já temos um casal para ficar com ela. Quer conhecê-los?" a mulher perguntou, tentando soar acolhedora.

A ansiedade que aquela frase causou a tomou de assalto. Não queria sequer imaginar, ainda que fosse a melhor escolha, nos braços de quem aquele serzinho que saíra de si ia crescer. Fazendo um movimento vigoroso de não com a cabeça, sentiu os músculos do rosto se contraírem, refletindo a dor terrível que sentia. A assistente social deu um sorriso solidário, o que a fez querer sair correndo dali. Não queria simpatia de ninguém, apenas que o pesadelo acabasse.

Virando-se, olhou para a enfermeira de scrubs azuis claros que segurava um pacotinho de manta branca. O cabelo preto da profissional estava preso em um rabo de cavalo, e ela não devia ter um dia a mais do que vinte e quatro anos. Natasha deu passos hesitantes em direção à moça, olhando para o embrulhinho. A recém-nascida vestia um macacão branco atoalhado de aparência barata, a única peça de roupa que tinha conseguido comprar durante a gestação. Uma mãozinha repousava sob o queixo, a outra fechada sobre a própria barriguinha. O cabelo liso era muito claro, quase uma penugem. A bochecha fofinha era a prova cabal de uma gravidez que tinha se desenvolvido contra todas as chances possíveis - um bebê enorme, gordinho, concebido no meio de muita violência e abuso e gestado literalmente em fuga.

"Tchau, bebê." ela disse num sussurro. A cada vez que achava que o coração conseguia seguir em frente daquele momento, era como se algo torcesse a faca dentro de si. Tirando de dentro da sacola de papel na qual estavam todos os pertences um coelhinho rosa de pelúcia, entregou-o de maneira vacilante.

"Se puder... Se eles quiserem... Os pais dela... Enfim." Natasha esticou a mão com o brinquedo novamente. Apesar da frase não ter saído, a enfermeira entendeu e pegou o bichinho.

Tentando pegar o ar novamente e falhando, Romanoff se virou de costas e saiu andando do recinto.

Ouviu novamente a voz da assistente social. Parou nos próprios passos. Pensou com esperança que talvez a estivessem chamando de volta para falar que era uma má ideia deixar a bebê - que ela conseguiria sim cuidar de Arabella, e que deveria voltar para buscá-la.

Mas não foi nada disso. A senhora vinha trazendo um casaco grosso que sem dúvida era útil e bem vindo, mas o coração de Nat caiu para o estômago mesmo assim.

"Está muito frio lá fora. Não pode sair apenas com essa camisa."

Natasha pressionou os lábios um contra o outro e concordou com a cabeça.

"Obrigada."

Sentindo uma instantânea onda de aconchego, fechou o casaco em volta de si e voltou a andar pelo corredor claro e gelado - o inverno era o mais rigoroso em sabe-se lá quantos anos. As jeans de gestante não faziam nada por ela.

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