·Prólogo·

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"E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente..."

- Mário Quintana, O Tempo.

Tempo, aquele que sempre corre, o imparável. Assustador, incapaz de decifrar, calcular, prever. Temos nele a incerta certeza do amanhã - do depois e do que virá.

A morte e a vida se engraçam uma com a outra, estão sempre lado a lado, e junto delas existe ele: o tempo.

Matias foi o homem que fez o coração de Violeta acelerar desde a primeira valsa. Cortês, formado em Direito com honrarias, apaixonado por ela que ainda era uma menina. Jurou que jamais a machucaria, que a amaria independente de tudo e que seriam felizes. A história de amor que toda menina sonha aos quinze anos e que ela realizou.

O casamento foi repleto de orquídeas e contou com a aristocracia prestigiando o festejo, a primogênita dos Camargo foi tratada como uma rainha. Feliz é aquele que sonha e realiza, feliz era Violeta quando segurou Elisa pela primeira vez, sua menina tão aguardada. Sentiu-se completa assim que Isadora chegou para abrilhantar seu conto de fadas. A Senhora Tapajós vivia um sonho, e com sonho não se brinca - apenas quando a realidade faz questão de bater à porta. Ela sempre bate, sem dó ou piedade, sem aviso prévio, sem preparação.

- As malas já estão prontas, vamos, Isadora. - Pegou a menina pela mão. - Elisa! Hora de ir! - Gritou para a mais velha.

A realidade da vida lhe tirou o marido em um acidente, sim, foi um acidente, mas não precisamos falar sobre isso agora. Não tinha para onde correr nem como evitar, apenas dois dias após o aniversário de dezoito anos da mais velha, o conto de fadas se tornou a mais desorientada das histórias. A mulher jamais pensou que após trinta e cinco anos de vida - felizes e radiantes anos de vida - passaria pelo maior dos tormentos. Violeta só precisava recomeçar, bem longe de Belo Horizonte.

Com Eugênio foi bem diferente. Assim que saiu das proximidades do Engenho da família Camargo, não conseguiu ter olhos para nenhuma outra menina que não fosse a flor de seus dias. Focou nos negócios, nos estudos, em tudo, menos no amor.

"Amar é perca de tempo" dizia gargalhando entre um copo e outro de licor. Tinha tanto medo de perder tempo, que não notava os dias passando e a vida fugindo entre seus dedos.

E, assim como brincavam na infância, a vida decidiu brincar com a morte e dar um susto no homem. Uma pneumonia trouxe a ele o gosto amargo da realidade, era hora de retroceder, aproveitar - quem sabe encontrar a bela flor pelo caminho. Afinal, voltou a Campos por causa dela e torcia - implorava - para que o tempo fosse generoso e ela lembrasse do menino dramático que a roubou um beijo.

- Estou voltando para Campos, Constantino! - Disse ao amigo assim que chegou de viagem. - Vou abrir uma tecelagem, estou quase fechando negócio.

A vida e sua grande facilidade de nos levar sempre pelo caminho mais complicado. Talvez seja esse o papel dela - nos testar. Novos rumos, novas pessoas, um novo trabalho, um caminho diferente, outra rota, algumas curvas, o choro, o sorriso, a lágrima. Viver exige muito, só temos uma única alternativa: seguir. Agora só restava a Eugênio, no auge dos seus trinta e cinco anos, reconstruir a vida longe de São Paulo.

De desencontros somos feitos, de reencontros nos refazemos. Sejamos felizes pelo tempo que durar.

Afinal, quanto tempo ainda há para viver?

Tempo Para ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora