Epílogo - Tempo

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O tempo é um rio que corre ininterruptamente, afinal, da nascente até a foz, não há desembocadura que pare o rio e seu curso de água natural. - Lya Luft

O tempo seguia contando minutos, e eu seguirei contando histórias. Gosto delas, da forma como uma simples palavra pode mudar tudo, de como um ponto de vista garante algo completamente novo. Tudo que é visto com amor é sublime, por isso estou aqui para mostrar como o Tempo - o benevolente, amigo da Vida - virou a peça chave para uma família inteira que parou de contá-lo. Já não fazia diferença para eles se haviam passado cinco, dez ou quinze anos, o mais importante era estarem juntos. Seguiam sempre em frente, o pretérito já não era a coisa mais importante que construíram. O Futuro passou a ser um deleite, não uma espera estressante, mas sim uma esperança.

Acredito que já me conhecem, Berenice nunca deixou a minha presença se desfazer, nem mesmo após a Morte - me chamo Martha Barbosa, a mãe do Eugênio.

Por falar nele, não havia um dia sequer que Violeta não sentisse o amor sublime do meu filho. Como na infância, ele deixava claro a cada minuto o quanto a amava e cada grão que caía pela ampulheta - lembram da ampulheta? Aquela que ele, curioso, havia virado de ponta cabeça? A vida mudou! - era uma nova jura. Pois, a vida fora generosa com ambos em todos os sentidos, não havia do que reclamar - na relação dos dois, pois a flor seguia resmungona. O meu menino, que Berenice puxava as orelhas, fazia questão de manter a família que tinha em seu esplendor, era um chefe - Deus queira que Berê não me escute - de família exemplar. Escolhido a dedo para manter nos eixos as moçoilas que compunham a Família Camargo, convenhamos.

Somos pedras moldadas pelas águas incessantes do tempo, basta ter em mente se faremos disso bom ou ruim.

Nesse exato momento, minha nora escolhe as orquídeas das mesas do salão, o local está impecável, mas ela ainda acha que é melhor trocar as cortinas das janelas, que estão empoeiradas pelo tempo.

Entretanto, não é isso que quero contar agora, vamos deixar para o futuro, voltar alguns anos para depois entender porque a bela flor está tão estressada com arranjos cor de rosa e porque sou eu quem está narrando.

- Martha, olha pra mamãe. - Pediu Violeta.

- Diga, mamãe. - Encarou-a com olhos cor de mel estrelados.

- Hoje é o teu primeiro dia de aula, está confiante? - Tocou os ombros da caçula, estava uma boneca, exemplar.

- Sim, mamãe. Mas acho que o papai não está. - A menina olhou para o pai em seguida.

Marthinha usava seu vestido rosa e tinha os cabelos castanhos presos por fitas de cetim branco, a mochila parecia maior que ela e definitivamente é a coisa mais doce que já vi. Confesso que me dá um certo aperto não estar presente como quero, mas foi tão bom vê-la corajosa para o primeiro dia mesmo que de longe. De contrapartida, Eugênio a olhava cheio de medos, não estava certo quanto a deixar sua pequena menina em um lugar cheio de outras crianças e uma única professora. Medo, esse nos persegue, me perseguiu durante muito tempo.

Todavia, Marthinha nunca soube o que é medo. Herdou das Camargo's os nervos de aço - exceto em caso de trovoadas, nasceu em noite de tempestade e tremelicava com elas.

- Estou confiante sim, oras! - Ele mentiu, sei quando mente, as mãos no bolso sempre confidenciam as mentiras. - Não está nervosa, florzinha?

- Não, papai. Eu sou uma Camargo e a vovó disse que não sentimos medo. - Sorriu vencedora. - E ela tá certa.

- Vai se comportar? - Eugênio abaixou na altura dela.

- Sim, sou uma mocinha.

- Se algo der errado, vai chamar o papai?

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