Capítulo 13: Aceitar

231 18 166
                                    

Chorei toda noite
E pensei
Nos beijos de amô
Que te dei,
Ioiô, meu benzinho,
Do meu coração
Me leva pra casa
Me deixa mais não.

- Gal Costa, Linda Flor


O amar requer o perdão, uma paciência absurda que permite descartar qualquer possibilidade de fim. Todos cometemos erros, atos falhos, alguns imperdoáveis, outros que se podem deixar passar - a indulgência dos amantes.

Constantino passou a madrugada inteira no cassino e só voltou para casa pela manhã. Adentrou o quarto e percebeu que Júlia dormia não tão tranquila como sempre - passou a noite o esperando voltar. Ouviu o barulho dele no quarto, despertou sem muita dificuldade.

- Xuxu. - Disse nervosa. - Você voltou.

- Voltei.

- Me perdoe, por favor. - Levantou apressada indo até ele. - Violeta e eu temos um trato, prometo que vou ocupar minha cabeça com outras mil coisas, mas não vá embora. Por favor.

O homem tocou o rosto alvo da esposa, a pele de porcelana, os cabelos louros, os olhos claros dela o fitavam com atenção. Dela, o que mais gostava era o olhar que sempre transparecia tão bem seus sentimentos. Estavam juntos há tantos anos que podia conversar com ela assim, sem palavra alguma, somente com olhares. A amava tanto e de forma indescritível, aquele sentimento o mantinha jovem

- Eu te amo tanto, Júlinha. - Acariciou a bochecha dela. - Não importa o que aconteça, eu sempre voltarei para você.

O queixo dela tremelicou e os olhinhos marejaram, entretanto, sorriu com ternura.

- Só me prometa que não fará mais essas presepadas, não quero te perder pra esse vício. Preciso de você bem, preciso que tente por mim, pela nossa filha.

- Eu fui fraca, xuxu.

- Não, não foi fraqueza. Foi uma tentativa falha de ser forte, xuxu. - Secou o canto dos olhos dela. - Não percebi que estava em frangalhos, pensei mais no cassino do que em você.

- Não me acha fraca?

- De forma alguma.

- Me perdoou mesmo? De coração?

- Sim, de coração.

- Então me aceita de volta?

- Te aceito de volta, Júlinha Andrade.

- Você é o amor da minha vida, meu xuxu.

- Você é o amor da minha vida, xuxu.

Aceitar - por amor, por cumplicidade, por lealdade. Independente de tudo, a loirinha sempre seria a dona do amor de Constantino Andrade.

...

Não se pode manter distância de quem amamos, é corrosiva a sensação de estar longe. O tempo se arrasta, não se vive tão bem quando cercados de ausência - foram vinte e sete anos, alguns dias, e duas horas.

Tinha no bolso do paletó uma pequena caixinha com um anel de brilhantes.

O casal de enamorados circulava as terras da família dela - que logo seria dele também - enquanto procuravam um local não tão longe, mas também não tão perto, onde viveram dias simbólicos. Ela não fazia ideia do motivo de estar indo até o antigo casebre, mas o seguia.

- Chegamos. - Ela disse.

- Chegamos, finalmente.

- Última vez que viemos aqui, não foi por um motivo bom. - Relembrou. - Por que me trouxe aqui?

Tempo Para ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora