Capítulo 8: Reencontrar

204 19 105
                                    

Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho, às vezes, cai bem
Eu tenho os meus desejos e planos secretos
Só abro pra você, mais ninguém.

- Caetano Veloso, Sozinho

A paixão ultrapassa os limites que tentamos traçar. Assim como vida e tempo são amigos, paixão e ciúmes compartilham bons - ardentes - momentos. Nesse caso, se complementam, é muitas vezes o virar de uma chave de uma porta que nem deveria estar trancada.

Ela não é eu, isso é bom ou ruim?

Eugênio Barbosa estava inquieto naquela manhã, tinha mandado as tais flores para Violeta e já esperava uma reprovação da mulher. A sócia só chegaria na fábrica após às 10h, ainda eram 9h, tinha pouco tempo para se preparar. Contudo, ela não seria a única a procurá-lo.

- Doutor Eugênio? - A secretária bateu na porta, adentrando a sala logo em seguida.

- Diga, Dona Iara. - Voltou a atenção para ela.

- Tem uma moça querendo falar com o senhor. Dona Dirce. - O sorriso do empresário foi se desfazendo. - Posso deixá-la entrar?

- Pode, claro que pode.

Estava tenso, agora o sentimento piorou consideravelmente, o corpo enrijeceu a medida que viu a mulher adentrar a sala. O término foi complicado, algo que não gostava muito de lembrar e vê-la era como reviver tudo.

- Eugênio... - Sorriu. - Vejo que está muito bem. - Olhava em volta. - Meus parabéns, querido. É uma bela fábrica.

- É bom revê-la, Dirce. Sente-se. - Estava visivelmente desconfortável.

- Voltou a Campos, desistiu de São Paulo? Foi difícil achá-lo!

- Eu não queria ser encontrado. - Abriu os botões do paletó.

- Sem grosserias, vim em missão de paz.

- Tudo bem, diga-me a que veio. Sou todo ouvidos. - Foi direto.

- Nós terminamos de forma muito madura, Eugênio. Não precisa me tratar assim. - Respirou fundo.

- Terminamos por um motivo infantil.

- Realmente infantil. - Riu sem humor. - Tua paixão, a tal Violeta. Mas, não quero entrar nesse assunto, águas passadas, não vou ficar chorando olhando a correnteza!

- Vá direto ao ponto, estou sem tempo hoje. - Olhava o relógio, Violeta chegaria em breve.

- Nossa casa. - Tirou os papéis da bolsa. - Precisamos resolver isso.

- É sua casa. Deixei para você, não pretendo voltar para São Paulo, e mesmo se voltasse, não seria pra lá.

- Pombas, mas teu humor está péssimo! Ou a minha presença que te incomoda muito. - Reclamou da postura dele. - Eugênio, vou me casar. Estou noiva. - Mostrou o anel de brilhantes. - Não posso ter uma casa com o nome de outro homem.

- Casar? - Levantou. - Pra quem dizia me amar, até que foi bem rápida.

- Eu te amei sim, amei tanto que te deixei livre. - Levantou. - Você quem nunca me amou, então chega de fricotes!

- Veio até Campos só pra me esfregar na cara como está feliz.

- Eugênio, só preciso que assine a porcaria do contrato! Papagaios! Tento ser gentil com você, mas me trata como uma vilã.

O empresário a olhou, estava deixando o estresse lhe tirar a racionalidade. Dirce não tinha culpa, sempre foi a mais doce das mulheres, decidiu parar as birras e tratá-la com a ternura que merecia. Entretanto, Violeta havia chegado e ouviria essa parte da conversa.

Tempo Para ViverOnde histórias criam vida. Descubra agora