Capítulo 16: Descobrir

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Já nem me lembro mais a quanto tempo
Eu te quero aqui dentro
Só de pensar que vai acontecer
Eu não sei se eu aguento.
- Anavitória, Geleira do Tempo


Aquela névoa se desfazia e o tempo presenteava aquela família com as verdades - abruptas - de uma vida já farta de tantos segredos. Precisavam tanto daquela calma, do acalento dos dias tranquilos, por mais complicado que tivesse sido chegar naquele momento.

Heloísa só queria dizer que a amava.

Após o término de quatorze anos de espera, ela finalmente poderia dar um abraço apertado naquela que jurou amar infinitamente até o último minuto. Perdas dolorosas que davam espaço a ganhos milagrosos o bastante para cicatrizar feridas que jamais pensou curar. Chegou o dia de contar para Olívia que, na verdade, ela tinha um nome santificado e uma mãe que nunca deixou de procurá-la.

- Fátima vai trazer ela para conversarmos, querida. - Disse Berenice. - Tenha paciência, minha filha, ela é só uma menina.

- É a minha menina, mãe. A minha Clara. - Sorriu.

- Sonhei tanto com esse dia.

- Obrigada por nunca desistir, a senhora conseguiu, mãe. Ainda me parece um sonho, tenho tanto medo de acordar. - Tocava a medalhinha que tinha no pescoço.

- Santa Clara nunca nos abandonou, meu amor. Sabia que ela não nos deixaria sem uma resposta, por mais demorada que fosse. - Puxou Heloísa para um abraço. - Eu amo você, mocinha.

O abraço foi desfeito quando Heloísa viu Olívia chegar de mãos dadas com Fátima. A porta da capela parecia distante o bastante para nunca se chegar no altar. A moça olhava aquelas duas e não sabia ao certo como reagir, caminhou junto da mãe de criação até chegar nas mulheres.

- Clara. - Heloísa sussurrou diante da menina.

- Olívia. Meu nome é Olívia, Dona Heloísa. - A mocinha disse cabisbaixa.

- Me desculpe, querida. - Falou.

- Olívia, quero que saiba que não faremos nada para te machucar, meu biju. - Berenice segurou a mão dela. - Você sabe a história, se eu soubesse que você era Clara, jamais teria contado daquela forma.

- Eu sei, Dona Berê. - Forçou um sorriso. - Mas, eu não sou a Clara, sou a Olívia.

- Eu te entendo, vamos continuar a chamando de Olívia. Como preferir.

- Eu vou ter que morar com vocês?

- Não, filha. Não precisa se não quiser. - Heloísa se aproximou. - Ao menos não agora.

- Ela ainda está tentando entender tudo, Dona Heloísa. - Disse Fátima nervosa.

- É estranho. - A menina respirou fundo. - Achei que tinha uma mãe só, agora tenho duas.

- Meu bem, venha cá. - Berenice a levou até um dos bancos, sentaram lado a lado. - Existem mães que não são boas, existem mães que não gostam desse papel, mas, você é uma menina de sorte e ganhou duas mães que te amam mais do que tudo. Fátima te quis tanto, te amou tanto, e Heloísa também.

A mais velha tentava manter a calma, estar diante da neta era algo tão esperado que lhe sufocava.

- Heloísa só quer uma chance de poder te amar de pertinho depois de tanto te amar na distância. - Tocou os cabelos de Olívia. - Por mais difícil que possa parecer, é a verdade, e nós não precisamos transformar a verdade em algo duro.

- A senhora tem razão. - Mordeu os lábios.

- Amor nunca é demais, nós não vamos te tirar da tua família assim, sem mais nem menos. - A idosa olhou Fátima e Heloísa. - A partir de hoje seremos apenas uma família e o elo mais importante é você.

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