Capítulo 14: No escuro

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Foi tudo muito rápido. Assim que li o bilhete, a porta bateu e fechou. Me deixando sozinho na cozinha. Minha mãe bate na porta. A mulher do bilhete não está mais ali. Eu corro e tento abrir a janela para fugir. Mas não adianta. A lâmpada explodiu. Está escuro. Prendo a respiração.
Saio de perto da janela e me abaixo para de baixo da mesa. Começo a ouvir passos que parecem estar em todos os lados. Eu não consigo segurar e solto um grito. Os passos que eu ouvia logo começaram a acelerar para minha direção, fecho os olhos e coloco minhas mãos sobre minhas orelhas. A mesa é jogada contra o chão e bate no teto. Assim que ela se levanta, eu sou puxado para o lado e me bato de costas na parede.
Caio no chão gritando de dor enquanto eu ouvia todos os copos da cozinha se quebrarem. Minha mãe desesperada do outro lado da porta começa a chamar meu pai. Tento ficar de pé mas minhas pernas não respondem e cada movimento que faço é o suficiente para uma dor insuportável acontecer. Encosto minhas costas na parede ainda chorando de dor. Meu pai chutava a porta para entrar, e aquela forma de garotinha aparecia na minha frente. Seus ossos começaram a estalar e se contorcer para os lados. Eu olhei para aquela coisa se transformar de uma garotinha para uma mulher extremamente alta. Era ela. Eu pensei.

Aquilo deu um passo em minha direção. Meu pai forçou a porta com sua força. Outro passo. Um estrondo. Aquilo está na minha frente. Bem na minha frente. Meu pai chuta com mais força aquela porta. Aquela mulher está cara a cara comigo. Ela estica as mãos magras para meu rosto, suas unhas me furaram um pouco. Ela sussurra coisas que não consigo entender por causa do barulho da porta e a dor parecia gritar dentro da minha mente. As unhas se incravaram no meu rosto e tudo parecia mais escuro do que já era. A dor piorou, meu grito abafado pelas mãos magras. Tudo volta a claridade quando meu pai quebra a porta.
Minha mãe corre até mim se derramando em lágrimas. Ela me abraça com tanto aperto que minhas costas quase estalam. Ela passa a mão em meu rosto, isso dói um pouco. Quando ela para de passar a mão no meu rosto, eu percebo que sua mãe está suja de sangue. Acabei machucando a testa, a bochecha e um pouco do queixo. Não estava saindo tanto sangue assim, mas as feridas doíam muito. Minha mãe pedia para meu pai trazer um pano com água para passar no meu rosto. Eu comecei a me sentir tonto. Aqueles barulhos todos estavam doendo minha cabeça. Queria chorar, queria gritar, queria que tudo acabasse. Mas tudo parecia ficar pior, parecia que tudo ia ficar mais confuso. Parecia que não ia ter fim. Tudo ficou escuro, então eu apaguei.
Acordei um tempo depois. Olhei para o relógio e vi que eram quase 9 horas. As portas e janelas estavam fechadas. Me levantei devagar e comecei a andar até a sala. Eu ouvia as vozes dos meus pais falando sobre o que tinha acontecido e sobre o espírito que tinha aqui em casa. Eu já nem sabia o que tinha que acreditar. Só sabia que eu era um alvo de alguma coisa. Assim que desci as escadas. Eles pararam de falar por alguns segundos e logo continuaram.
- Joe, você está bem?
Disse minha mãe.
- Mais ou menos.
- Depois desse ocorrido, acho que temos a solução. Pelo menos achamos que sim.
- Qual?
- Todo dia o Padre vai vir aqui em casa para fazer uma reza. Talvez seja bom você acompanhar.
- O padre? De novo? Vocês lembram da última vez que ele veio?
- Sim. Mas ele não vai vir sozinho.
- Quem mais vai vir?
- Apenas outras pessoas religiosas que se interessaram no assunto.
Ótimo. Viramos notícias de jornal. Não queria chamar tanta atenção, mas pelo visto não tinha escolha. Mas tenho certeza que esse grupo de pessoas não irão ajudar.

No dia seguinte, me levantei e tomei café. Minha mãe me avisou que as pessoas irão vir com o Padre daqui a pouco. Gostaria de dizer que não estava afim de ficar junto com pessoas que eu não conheço, mas deixei isso pra mim mesmo.
Dito e feito, um pouco depois, o Padre junto com mais três pessoas, um homem e duas mulheres, apareceram cumprimentando meus pais e depois eu. Fizeram a mesma coisa. Jogaram água benta na casa enquanto rezavam. E pediam para eu ficar ao lado deles. Depois de alguns minutos assim, eles mandaram meus pais e eu sentarem na mesa porque eles iam fazer algumas perguntas.
Parecia um interrogatório. O Padre pegou uns papéis e mostrou para uma das mulheres. Ela leu e logo falou:
- Joe, você poderia me dizer se essas coisas estranhas já aconteceram com você antes daquele dia?
Engulo em seco. E respondo:
- Sim, algumas vezes.
Meus pais me encaram me jogando várias outras perguntas. "Por que você não nos disse?"
A mulher pediu silêncio e continuou.
- Você já viu algo estranho?
Contei desde o primeiro dia, falei sobre a mulher magra e alta de olhos vazios e da garotinha que apareceu em casa. Eles se encaram por alguns segundos e meus pais começam a ficar pálidos. Depois de alguns perguntas, eles falam:
- Você tem amigos que com a mesma situação?
Eu agora? Eu conto ou não conto?
Pensei alguns minutos e falei:
- Sim. Dois.
Todos pareciam assustados. Se encararam de novo e o Padre pegou os papéis de novo. A mulher falou extremamente séria:
- Joe, você quebrou a regra do toque de recolher?

Continua....

Nunca saía sozinho Onde histórias criam vida. Descubra agora