Capítulo 29: De volta no poço

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Eu e Pedro saímos no carro roubado com tanta velocidade que esqueci que podíamos bater a qualquer momento. A cidade estava vazia, não parecia ter nenhum habitante, com certeza fugiram de alguma coisa que Pedro não me contou ainda.
Foi então, que durante Pedro dirigia, eu contei tudo pra ele sobre o sonho e o porquê temos que pegar os ossos de dentro do poço. Lembro bem que Matheus me disse que tinha visto um crânio humano lá dentro. As coisas começaram a fazer sentido.

Pedro começou a tossir. Eu vi a grande ferida que estava em sua perna. Pedro quase bateu em um poste enquanto tossia, Foi então que Pedro de repente soltou o volante e disse prestes a vomitar:

- Segura o volante rápido.
- QUÊ?
- AGORA!
- Eu não sei dirigir isso.
- APRENDA AGORA!

Pedro olhou para o lado e vomitou. Me inclinei e seguirei o volante desesperado sem saber o que fazer. O carro foi para o lado e quase acertei uma moto. Pedro parou de vomitar e pegou o volante de novo. Então, do nada, Matheus surge mancando no meio da rua gritando enquanto chorava. Pedro pisou no freio e quase fomos lançados para frente. Matheus estava desesperado, não conseguia dizer quase nada.

Não foi muito difícil de entender o que tinha acontecido, Matheus também foi vítima de algo. Sua roupa estava lotada de sangue, mas não tínhamos tempo, Pedro colocou Matheus no carro e pisou no acelerador novamente. O vidro então se formou um furo.

- É TIRO, ABAIXEM AS CABEÇAS! - Gritou Pedro.

Logo após isso, os vidros do meu lado se quebraram em vários pedaços. Pedro tosse mais uma vez e acelera o carro. Os barulhos de tiro ainda aconteciam. Meu medo era que acertassem os pneus.

Quando já estava em uma distância segura, me levantei e olhei para trás. Vi um carro escuro atrás de nós.

- Precisamos ir para o poço. - Eu gritei.
Pedro fez sinal que sim com a cabeça e então pisou novamente no acelerador. Estávamos perto. Matheus parecia mais em pânico, com certeza o que tinha acontecido com ele deixou ele mais abalado. Matheus parecia pálido e tremia, estava tendo uma crise.

Quando estávamos perto da casa abandonada, mais um tiro aconteceu. Não sei onde acertou, só sei que Pedro vomitou novamente e perdeu o controle do carro, jogando para o lado e para o outro. Já estava sem voz para gritar. Minha cabeça estava zonza, o carro perde o controle e vai em direção da mata, batendo em cheio em uma árvore seca. Por sorte, a árvore não foi grande o suficiente para provocar um acidente maior. Eu e Pedro descemos do carro, Matheus não se mexia. Por um segundo tinha me esquecido do carro que estava perseguindo a gente. Foi então que aquele carro parou quase do meu lado e vi o padre abrindo a porta.

Corri e fui até Matheus, ele estava parado e ainda estava tremendo.

- Joe, se você se mexer, eu vou abrir sua cabeça.

Disse tão calmamente que nem parecia que me ameaçava de morte. Parei. Matheus apenas começou a chorar novamente. O Padre se aproximou de mim e apontou a arma bem no meu rosto. Era alí que eu iria morrer. Olhei ao redor e não vi Pedro em nenhum lugar. Estava escondido?

- Pra onde foi o outro maldito? - Disse o Padre. - É melhor não me enrolar.

Assim que o Padre disse aquilo, ele atirou para cima fazendo eu quase cair no chão pensando que o tiro me acertou.

- AGORA, JOE!
- Eu não sei, eu juro.
- Não me venha com essa.
O padre apontou a arma novamente para meu rosto. Então atirou. Mas eu ainda estava vivo, não sentia nada. Quem caiu foi ele enquanto gritava de dor. Pedro saiu logo atrás de uma árvore com uma arma. Seu rosto demostrava que ele ideia desmaiar a qualquer momento. O poço, não posso esquecer do poço. Eu pensava.

O tiro que Pedro disparou acertou bem nas costas. Ele se contorcia no chão. Pedro se aproximou mancando. Se abaixou e pegou a arma que o Padre segurava e apontou bem para o rosto dele, sua expressão de raiva e cansaço era nítida. Pedro então gritou:

- VOLTA PRO INFERNO!
Pedro disparou. Foi tão rápido. Ouço o barulho do tiro antes mesmo do sangue cair em meu rosto. O Padre agora estava lá, com a cabeça aberta e seus olhos vazios que pareciam olhar para qualquer coisa. Pedro joga o celular para mim. Não perco tempo e corro em direção da casa abandonada. A mata parecia mais fechada que o normal. Corria e corria.

Estava alí.

A casa abandonada. Foi alí que o Padre matou Fabiana e sua filha 10 anos atrás. Duas almas perdidas que eu pensava que eram demônios, mas o verdadeiro demônio estava vivo e estava o tempo todo do meu lado. O mundo pareceu silenciar. Passei pela casa e cheguei no poço. Me apoiei na corda que ainda estava alí, amarrei em uma árvore e desci. Lá está tão escuro. Ligo a lanterna do celular de Pedro e entro mais fundo no poço.

Um pequeno corredor de terra até chegar em um lugar que parecia uma pequena sala. Uma toca. Lá no meio daquela pequena sala, uma elevação de terra que possuía algumas velas, umas mais derretidas que outras. Um cheiro de carniça subiu e então eu vi em cima daquela elevação de terra, ossos, vários ossos. Quase vomitei. Foi então que percebi que não tinha algo pra levar.

Tirei a camisa e usei ela de saco. Prendendo a respiração, coloquei os ossos dentro da camisa. Eram dois esqueletos. Fabiana e sua filha, porém, os ossos da menina não estavam todos. Lembro do Padre dizer que jogou os ossos da menina para os animais.

Fabiana e sua filha, Duas pessoas que pensavam que iam ser salvas de algo que não existia. Voltei e subi no poço. Soltei a respiração e andei agora em direção da casa da árvore.

Continua....

Nunca saía sozinho Onde histórias criam vida. Descubra agora