Nunca saía sozinho

Capítulo 23: Peças se encaixam

Nunca tinha visto minha mãe com aquele rosto. Olhos arregalados e vermelhos. O carro andava rápido.
- Me escute com atenção, Joe. - Disse minha mãe quase gritando. - Eu vou contar tudo que precisa saber por enquanto.
- Por que está me dizendo tudo isso só agora? - Eu disse a interrompendo.
- Eu já lhe disse, nossa casa estava sendo vigiada o tempo todo.
- Exato, nossa casa, por que não podia dizer isso fora de nossa casa?
Minha mãe parou de falar, olhou para frente e respirou fundo.
- Quando você quebrou a regra do toque de recolher e foi flagrado com um vídeo, fomos avisados por mensagens. Na hora, meu coração doeu de dor. Existem graves consequências para aqueles que quebram as regras das nove. . .

Eu sabia disso, lembro de Pedro me mostrando as notícias das pessoas que enlouqueceram após quebrar as regras, será que ela está falando disso?

- . . . As pessoas sabem disso, por isso, mesmo sem saber o que são essas consequências ou o que causam elas, todos decidem por fim respeitar essa regra. Joe, eu sei o que você viu na floresta, também me contaram que te viram lá.

- Quem?
- Gary. Ele disse que viu você entrando na mata.

Oh Deus, Gary pelo visto gosta de dedurar os outros. Que pessoas infelizes.
- E você acredita?
- Não minta para mim, Joe. Não estamos mais com tempo.
- Tá bom, eu entrei na mata.
- Depois que você entrou, acabou achando uma casa não é?
- Sim.

Estava com medo para onde aquela conversa ia dar. Minha mãe realmente sabia para onde guiar as conversas.

- Pois bem, tenho certeza que você virá coisas estranhas na casa ou perto dela.

Lembrei dos animais mortos que tinha encontrado junto com Matheus e Alice quando encontramos a casa pela primeira vez. E junto a isso, o poço com os supostos ossos humanos que Matheus tinha visto.

- Joe, você sabe por que esse tempo todo, essa casa, essas coisas estranhas, começaram a acontecer depois que você entrou nela? A resposta para essa pergunta é: essas coisas não começaram a acontecer agora. Elas sempre aconteceram. Mas eram ignoradas. Por todos.

Tudo parecia estar em silêncio por uns minutos.

- Você acha mesmo que uma casa grande daquelas com demônios dentro não ia ser descoberta de uma forma rápida pelos moradores? Sim, iria. E já foi. Mas ninguém da a mínima. Pois todos acham que o toque de recolher é o suficiente. O que é uma tolice. Por que você está como prova que ficar dentro de casa não te proteje.

O carro acelerava ainda mais.

- Espera, mas o que exatamente estamos evitando dentro de casa? O que é a mulher que vejo?
- Isso eu não sei dizer, nunca vi ela. Mas pelo o que o Padre me disse, ela é uma maldição antiga. Um demônio que possui os corpos de vítimas e fazem a enlouquecer. Sua forma de matar é fazer apenas a próxima vítima a ver ela.

Juntei as peças. Alice está morta, e ela estava vendo a mulher, mas eu não. Aquela vez que ela me mostrou uma foto, disse que tinha algo nela, mas eu não via nada. Então era porque ela iria morrer?

  - Depois que souberam que você quebrou a regra, se revoltaram por você ainda está bem. Começaram a jogar pedras em nossa casa, uma delas quase te atingiu.

Uma sensação estranha passa por mim. Alice estava morta. Minha amiga, uma das minhas únicas amigas. Morta. Meus olhos enchem de lágrimas. E Matheus? Ele está vivo? Não tinha mais notícias dele. O desespero bate em meu peito na hora. Pego meu celular com as mãos trêmulas. Minha mãe parece saber o que eu estou pensando. Ela olha para frente e eu escuto ela dizer baixinho:

- Oh, Deus, Me perdoe.

                      Enquanto isso

O túnel continua. Baratas sobem pelo corpo dele, ele escuta susurros vindo de algo dentro do túnel. Ele continua a caminhar, não vê nada. Se aproximando, aproximando. Então uma mulher alta, olhos vazios e alta surge, ela corre na direção dele. Ele grita enquanto aquela coisa pula em cima dele, um cheiro de queimado impregna o ar. A mulher grita.
- Você é o próximo. Você me matou, matou minha filha. Desgraçado. Vou te matar.

Matheus acorda assutado. Sua perna estava quase curada. Mas a dor piorou a alguma horas. Matheus tinha saído da clínica hoje, tinha esquecido de falar com Joe sobre isso. O sonho que acabara de ter o fez suar frio. O cheiro de queimado parecia estar dentro do seu quarto.

Continua....