Carolina

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N.A: Acho que demorei um pouquinho mais dessa vez, mas aqui está prontinho! Espero que gostem, beijos!

A decisão de mudar temporariamente para o Brasil fora tomada facilmente por Anne. Sua temporada anterior havia sido no VakifBank, na Turquia, tendo como companheira de time a maior oposta de sua geração, Sheilla Castro. Era uma ótima oportunidade já que o Brasil era um país de referência no vôlei. Além disso, seu sonho era jogar em um time dirigido por Bernadinho, considerado um dos maiores técnicos do mundo.

Quando recebera a proposta, saltitou animada em casa e ligou para Sheilla, a fim de contar a novidade. Não fora surpresa o apoio da oposta. Anne aceitou a proposta rapidamente e assim que sua temporada na Turquia acabou, ela logo se mudou para o Rio de Janeiro. Sua mãe, Irene, havia viajado junto para ajudá-la na instalação, mas também contou bastante com a ajuda de Sheilla.

O Rio de Janeiro era uma cidade bonita e possuía pontos turísticos belíssimos, segundo o google maps, mas a ponteira holandesa ainda não havia visitado nenhum. Embora estivesse muito empolgada com o lugar, não se sentia tão confiante para sair sozinha, menos ainda quando sua mãe foi embora. Sheilla também não podia ficar o tempo todo ao seu lado, tinha os próprios compromissos, contudo, sempre mandava alguma mensagem perguntando se tudo estava bem.

No dia em que todas as jogadoras do Rexona Sesc foram apresentadas, Anne se sentiu um pouco nervosa, mesmo que não deixasse transparecer. Ela era muito fã do vôlei brasileiro e acompanhava um pouco muitas das jogadoras que fariam parte do time. A primeira delas, Gabriela Guimarães, muito jovem, mas que já demonstrava muita qualidade de jogo. A líbero Fabi era sensacional, com defesas espetaculares, qualquer time tinha muita sorte de tê-la. E tinha Carol, uma excelente central que pressionava os adversários. Era realmente uma grande oportunidade.

Anne não teve dificuldade em se enturmar com algumas companheiras, embora fosse mais reservada. De início, fez uma amizade divertida com Gabi, era uma jovem animada e muito fã de Sheilla, o que fazia a holandesa arquear uma sobrancelha sempre que o assunto voltava para a oposta. Quanto Gabi gosta de Sheilla? Fabi também era animada e muito receptiva, sempre convidando todas para relaxarem em sua casa.

A única que a holandesa demorara para conversar foi Carol. Não sabia explicar muito bem, elas se cumprimentaram algumas vezes, mas até conversar realmente demorou. Talvez por isso Anne tenha prestado tanto atenção na central. Era impossível negar que várias vezes olhara de soslaio para a companheira, achando engraçado como ela mudava de expressão rapidamente durante um treino. A ponteira sabia também que sua recepção às vezes dificultava que Carol atacasse tanto e por isso quase não largava do pé do treinador.

Então, obviamente, Anne havia percebido quando Carol entrou no vestiário acompanhada de Roberta e Gabi e pareceu estancar no lugar quando a viu trocando a blusa, dias atrás. Naquele momento, a holandesa segurou o sorriso teimoso, sem entender o porquê do gesto. E, depois dali, não havia tido tempo para processar seus pensamentos em relação a Carol, decidindo levar na esportiva, como se a central só tivesse tomado um susto.

Quando saiu da unidade de treinamento e encontrou a companheira parada ao lado de seu carro, imaginou que era muita coincidência e teve que segurar o riso com o susto alheio. Finalmente tiveram o primeiro diálogo longo e a sós e Anne desejou estendê-lo, por isso havia se oferecido para levar Carol em casa. A sua maior surpresa daquele dia foi o convite para jantar e, naquele momento, não conseguiu mais conter o sorriso.

Enquanto dirigia, Anne sentiu os olhos fixos da central em si e, devido a isso, não desviou o olhar do trânsito sequer um minuto. Já no restaurante, a holandesa havia decorado cada pedaço com o olhar e reparou que a luz amarelada da luminária realçava bem os traços de Carol. A partir daquele momento, Anne começou a estranhar seus próprios pensamentos, ela sabia que era muito gentil e afável, mas estava excedendo o limite, não?

A conversa foi bastante agradável, e quando tiveram que ir embora, Anne prometeu a si mesma propor um novo lugar para irem juntas em outro dia. O trajeto até a casa de Carol fora a maior parte do tempo silencioso, com uma mpb baixinha tocando no rádio. E, quando realmente chegaram, a ponteira se despediu e logo percebeu que alguém esperava a central. Fez um esforço para reconhecer a fisionomia e julgou ser Juliana. Esse era o nome que escutara Gabi falar algumas vezes quando citava alguma situação com Carol.

Anne teve a sensação de que a conversa não seria boa dada a expressão de ambas, e logo foi embora. No conforto de sua casa, pensou em escrever para Carol, comentar alguma coisa sobre o restaurante ou até perguntar se estava tudo bem, no entanto, achou que seria um pouco estranho.

Tendo em vista a diferença de fuso horário, a ponteira holandesa só conseguiu se comunicar com Lisa, sua namorada, no dia seguinte. Ambas se relacionavam há quatro anos e nutriam uma boa amizade também. Devido a isso, Anne contou todo seu dia anterior para ela, narrando inclusive como se sentiu em relação a Carol em alguns momentos.

A reação de Lisa foi tranquila, como esperado, e elas chegaram à conclusão que a ponteira podia estar se sentindo fascinada profissionalmente pela central e, por enquanto, Anne devia observar como se sentia e sempre ser honesta com a namorada. É um bom relacionamento, não dá para abrir mão por conta de sentimentos incompreendidos. Naquele mesmo dia, ela aceitou ir à casa de Fabi e sentiu-se ainda mais animada quando Carol chegou.

Novamente teve aquela sensação de estar sendo observada e precisou se controlar para não olhar a central. Embora muito entretida com Roberta, Anne reparou que Carol demorou a cumprimentar a todos e carregava uma expressão um pouco carrancuda.

Quando a central finalmente sentou ao seu lado, sentiu que o coração deu um pulo e achava que o fascínio estava forte demais. Entre uma conversa e outra, uma nova convidada chegou, era a mesma pessoa do dia anterior e parecia mal-humorada também. O clima havia ficado estranhamente tenso, as conversas já não fluíam como minutos antes e pouco depois Carol foi embora.

Anne sentiu um certo desapontamento, mas continuou a conversar com as outras companheiras até a metade da tarde. Quando voltou para casa, enviou uma mensagem a Carol e foi ignorada. A ponteira só tornou a ver a central nos treinos, e ela continuava séria e muito concentrada, não dando espaço para aproximações.

Isso continuou por uma semana inteira, em alguns dias de treino, Carol ficou na equipe adversária e bloqueou metade dos ataques de Anne e no restante do tempo sacou pesado em cima da ponteira. Em alguns momentos a holandesa se perguntou o que teria acontecido com a central que roubou um pouco de seu divertimento em quadra. A vantagem só era interessante, quando estavam na mesma equipe nos treinos e, ainda assim, Anne teve todo cuidado de manter o passe ajustado o máximo possível receando que Carol virasse para ela e reclamasse. Parecia realmente muito brava.

A ponteira ficou pensando como seria a melhor forma de abordar a central e convidá-la para algum programa besta, apenas para saber se estava tudo bem. Enquanto ainda era ignorada por Carol no telefone e mal se falavam nos treinos, a holandesa aproveitou para conversar muito com Bernadinho, então estava um pouco distante do restante do time também.

No fim daquela semana, finalmente teve coragem para falar com a central e até recebeu um sorriso, ainda que não o achasse tão animado quanto das outras vezes. Anne sugeriu então tomarem açaí. Algo gelado sempre tornava as coisas melhores, certo? Ficou feliz quando Carol aceitou, mesmo que sentisse que a outra queria se esquivar.

A sua maior surpresa foi quando enfim descobriu o que a estava deixando séria e chateada e não teve outra reação senão voltar a colherada de açaí para a tigela. Procurou algo para dizer, mas não conseguiu, e Carol também não parecia querer ser consolada, tomava seu açaí olhando a rua.

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