Chorando pitanga

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N.A.: Voltei! Dessa vez bem mais rápido hein? Obrigada a todos que estão lendo, votando e comentando. Espero que gostem desse capítulo também! Beijos.

O problema com um término amigável, era que ainda era um término, recheado de desilusões. A relação com Juliana era cheia de planos, tinham várias coisas em comum e Carol realmente amava a outra mulher e ainda tinha alguma paixão por ela. Talvez dali a algum tempo percebesse que estavam apenas confortáveis uma com a outra, mas, naquele momento, queria apenas sofrer no conforto de seu quarto.

Como atleta, ela não podia sofrer nos moldes tradicionais, enchendo a cara, acabando-se em sorvete, assistindo a filmes dramáticos. Restava-lhe a última opção, mas não tinha chegado naquela fase ainda. O dia seguinte ao término se resumiu a se encolher sob os lençóis, agarrada aos travesseiros e, algumas vezes, ir ao banheiro. Em uma dessas vezes, encontrou um bilhete que Gabi passara por baixo da porta. Nele havia escrito que ela ia passar o dia com Roberta e dormir em sua casa e que havia comida pronta na geladeira. Carol se perguntou se amiga podia imaginar o que acontecera no dia anterior. Talvez sim, afinal, não mexia no celular desde que fora embora da casa de Fabi e a última vez que saíra do quarto havia sido no fim da tarde anterior. Não lembrava de ter escutado Gabi chegar em casa. Que horas deviam ser?

Mais tarde, naquele mesmo dia, ligou para sua mãe, conversou brevemente e saiu pela tangente quando a mesma perguntou por Juliana. Também se alimentou, embora não sentisse muita fome. Como disse antes, era uma atleta, não podia sofrer em paz. Então veio a segunda-feira e passou tão rápido quanto o resto da semana. Ela treinou e treinou, concentrada, e sofria em casa. Em um dos treinos, Drussyla bateu com a bola tão forte em seus dedos que a lágrima quase desceu e ela pensou que teria sido uma oportunidade para chorar. Gabriela dissera depois que a outra ponteira era inimiga das lésbicas. Fora uma das poucas vezes que Carol sorriu.

Naquele mesmo período, que a central chamou fase de negação, aproveitou para olhar as redes sociais de Juliana, mas felizmente nada viu. Ela se perguntou se a ex-namorada tinha se declarado para a pessoa que gostava e tivera a delicadeza de não postar nada sobre isso ou se somente estava dando um tempo dali. Quando o fim de semana chegou realmente, a central decidiu que estava em outra fase do término, a aceitação. Parou de procurar saber de Juliana, contou à sua família que não estavam mais juntas e conseguiu tolerar as vozes de piedade.

Àquela altura, Roberta e Gabi também já sabiam, não precisaram perguntar. Passaram o sábado inteiro juntas, faxinando a casa, assistindo a séries e cozinhando. Carol já conseguia rir mais vezes. No domingo, decidiram maratonar jogos da seleção brasileira, queriam se inspirar para a superliga que começaria em uma semana. Logicamente, Gabi vibrou a cada vez que Sheilla aparecia e fazia algum ponto, especialmente no jogo contra a Rússia nas Olimpíadas de 2012, como se tivesse voltado no tempo. A ponteira saltitou tanto no sofá, que Roberta jogara um travesseiro nela.

- Que gay enxerida – dissera a levantadora.

- Eu poderia ser a mãe dos filhos dela – a ponteira dissera, sonhadora.

- Você só tem 23 anos, Gabriela! – fora a vez de Carol acertá-la com um travesseiro.

Dali para a frente a conversa fora sobre Sheilla e toda a paixão platônica de Gabi. Mas também surgira uma grande pergunta, a oposta era mesmo hétero?

Uma nova segunda-feira se iniciou, trazendo novamente uma rotina pesada de treinos. Carol havia chegado mais cedo e ficou sentada na quadra, esperando que o restante do time chegasse. Nesse tempo, viu quando Anne passou no encalço de Bernadinho, extremamente concentrada no que ele falava. Típico dela. E percebeu também que era a primeira vez em uma semana que reparava na ponteira.

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