Almost Heaven | Vhope [abo]

O Conto do Lobo

☪

Ele nasceu diferente dos demais.

Sendo o filho mais velho do líder da matilha, teve que seguir a linhagem lupina de proteger e zelar por sua alcateia. Nascido de mãe e pai de origem totalmente lúpus, era esperado por todos que honrassem a maior classe dentre as outras.

Seu pai, líder da alcateia, era temido e respeitado por todos, dono de uma personalidade explosiva e imponente, mantinha o feito de seus antecedentes de nunca ter deixado invadir sua alcateia.

E ele não se importava dos meios tomados para esta conquista.

Mantendo a tradição de repassar o cargo de líder para seu descendente direto, seu filho foi escolhido desde pequeno para assumir e honrar o posto.

Carregando o peso de seu destino já traçado sem sua escolha, a expectativa colocada nas costas do filho era maior do que ele poderia carregar.

Porque ele possuía todo o poder e habilidade rumo a glória durante sua jornada, foi ensinado em toda sua vida que teria que sair a caça para abastecer sua alcateia, lutar contra invasores, de satisfazer as outras classes em seus árduos cios e também de procriar para garantir o futuro das próximas gerações.

O lúpus tinha em mente todo o seu fardo e não duvidava da sua capacidade, sabia que poderia cumprir com o que era mandado, a certeza e o ego da maior classe lupina corria por suas veias, seus instintos selvagens pedindo para assumir e comandar, de mostrar quem era o verdadeiro líder ali.

Só que ele não era dessa maneira, as vontades que repercutiam em sua mente não passavam de instintos e que ele conseguia dominar tranquilamente.

E foi por não pensar e ser assim, que esteve fadado à ruína desde o início.

Não queria glória eterna e muito menos liderar uma alcateia, não gostava de violência, mortes e nem de injustiça, e estes três fatores eram o que mais via em sua vida.

Não herdou nada de seus pais, ele era a paz na guerra.

Dono de uma bondade e calmaria incomum para um lúpus, ele só queria percorrer o mundo afora, de fugir de toda matança e dor que os constantes embates causavam, de sentir o vento forte batendo contra o rosto enquanto corria transformado pela floresta densa.

Ele só queria liberdade.

E não foi concedida.

E para fugir daquela realidade, corria para seu ponto de refúgio.

Com seu lobo negro como a noite, escalava as rochas desniveladas para atingir o planalto rochoso da montanha, na qual no alto dela podia ver todos os lugares desvendados e também os desconhecidos nas quais um dia queria se aventurar, e no meio do silêncio da noite sob a luz do luar, encontrou a paz temporária que tanto almejava.