Diferente
Há muito tempo desde que as estrelas se alinharam pela primeira vez e tudo pareceu certo. A humanidade nem viu acontecer, foi como se estivessem em um sono profundo, mas assim que as estrelas voltaram a se mover um novo ciclo se iniciou. Acada ciclo, algo mudava, era uma pena que os humanos não soubessem, eles nunca se lembravam de como era a vida antes do recomeço dos ciclos, que acontecia a cada 3500 anos, era como se eles sempre houvessem vivido daquela maneira. O universo nunca fazia o trabalho pelas metades.
Falando em metades, já se encontravam no ano 2021 daquele ciclo, o ciclo das almas gêmeas. O universo estava insatisfeito antes daquele ciclo, os amores eram muito frustrados, tudo era tão confuso, era louco como algumas pessoas possuíam tantos amores e outras nunca se encontravam em nenhum.
A fim de acabar com isso, seu novo ciclo contava com algo inédito, a existência de almas gêmeas, pessoas que eram destinadas umas às outras, que continham um laço cósmico que as prendia uma à outra. E não havia nada que pudesse se fazer, você estaria conectado à pessoa – ou às pessoas, no caso de possuir mais de uma alma-gêmea – pelo resto de sua vida, e mesmo que não aceitasse tal destino e tentasse se afastar o universo daria seu jeitinho de os pôr juntos novamente.
Por mais que cada pessoa no mundo tivesse sua metade, algumas pessoas temiam não encontrar a sua, ou talvez de não gostar da pessoa, também dessa pessoa já ter morrido – era bem comum na verdade, ser destinado a alguém que já morreu, ou que acabou de nascer, ou que mora do outro lado do mundo. Mesmo com a interferência contínua do universo, muitas pessoas perdiam suas vidas sem nunca terem tido contato com sua alma-gêmea.
Esse era o maior medo de Yang Jeongin, um jovem de 21 anos que já havia perdido as esperanças de conhecer sua alma gêmea há alguns anos. Sempre foi um garoto otimista, mas em relação àquilo ele já não se sentia mais confiante. Seus amigos lhe afirmavam que ele ainda era novo e que havia muito tempo para que ele pudesse se encontrar com sua pessoa especial.
Ele nem sabia quando havia realmente deixado de acreditar que esse alguém ainda existia, ele suspeitava que havia sido naquela tarde de terça chuvosa, ele se lembrava daquele dia como se fosse ontem, e ainda lhe doía.
- jeongin? Ei, amigo, você tá bem?
Yeji lhe chamou a atenção, o tirando do transe que havia entrado, já fazia mais de dez minutos que ele encarava o próprio pulso, prestando atenção naquela rosa um tanto machucada, "por quê?" era o que ele sempre se questionava. Rapidamente cobriu a área com a manga do moletom.
- claro que estou – sorriu ajeitando os óculos
- mesmo? – o moço assentiu para si – bom, então, voltando para o que eu estava falando enquanto você viajava na maionese... eu acho que meu irmão vem hoje, mas eu nem sei que horas, avisei à ele que estaria aqui, mas não sei se ele chega a tempo de nos encontrar aqui
- e você está nervosa? Pelo que eu sei, vocês não se veem pessoalmente faz um tempo
- ele foi estudar na Austrália há cinco anos, era pra ser só um intercambio de fim de ensino médio, mas daí ele fez uns amigos e ficou por lá
- mas ele já terminou a faculdade?
- não, vai terminar aqui, acontece que esses amigos dele vieram pra cá ano passado e ele tá vindo agora
- ai que legal, yeji, estou feliz por você – segurou as mãos da amiga
- que coisa de gay, jeongin, larga
- não dá nem pra demonstrar carinho com você – cruzou os braços – por acaso teu coração é de pedra?
- é sim – a moça sorriu se levantando – vou pedir um milkshake daqueles mega pra gente dividir
O yang à assistiu tomar distância, rindo internamente pela forma cômica que a amizade deles funcionava. Mal pode perceber quando um garoto se aproximou, olhando para a mesma direção que si.
- ela não é extremamente fofa? – o desconhecido lhe chamou a atenção
Não sabia explicar como, mas assim que seus olhos se encontraram um arrepio enorme percorreu seu corpo, como se houvesse sido atingido por um raio, sim, o corpo dele estava em choque. O moço em questão era alto e possuía cabelos negros um tanto longos, pouco presos. Sentiu o peito se apertar por alguns segundos e a marca doer.
Já sentiu sua marca doer uma vez, mas aquilo era novo, era algo que o fez procurar por ar mais algumas vezes antes de conseguir se entender consigo mesmo, era bem... diferente.
Sua pele queimava e ele sentia que havia esquecido de como se respirar, mas se lembrou do porquê aquele estranho estava ali. Inflou o peito tentando se recompor.
- olha como fala dela, se liga, cara – tentou engrossar a voz para parecer mais intimidador, o que só o fez parecer mais idiota
- por quê? – o garoto debochou
- ela é minha namorada – mentiu sem saber quais eram as intenções daquele moço
- ela é minha irmã – sorriu de soslaio, fazendo o queixo de jeongin ir ao chão – e eu sei muito bem com ela namora ou deixa de namorar
- espera, tu é...
- hwang hyunjin! – yeji gritou de longe, correndo na direção de seu irmão, que a recebeu de braços abertos – caralho, moleque, tu cresceu mais
- sim, yeji, só você que continua do mesmo tamanho, aposto que até o ni-ki tá mais alto – brincou com a mais nova
- ei, se liga hein – arqueou a sobrancelha, desfazendo o contato
- não vai me apresentar seu amigo? – se referia a jeongin, que ainda estava um tanto sem reação em relação a vergonha que havia passado
- ah, claro, esse aqui é meu melhor amigo, Yang Jeongin – exclamou puxando o amigo para perto com um sorriso estampado no rosto, bem diferente deste – e bom, esse aqui é meu irmão...
- Hwang Hyunjin, tô sabendo – mantinha os braços cruzados
- essa foi a saudação mais calorosa que eu já recebi – debochou olhando o Yang de cima à baixo
- o innie é um cara de poucas palavras – yeji riu sem graça
Não sabia o que havia acontecido com seu amigo, mas precisaria averiguar e ir mais a fundo naquela história.
Convidou os dois garotos a se sentarem, se esquecendo completamente de fazer o pedido que ela havia prometido mais cedo, pra ela tudo o que importava agora era falar com o irmão que ela esperou por tanto tempo.
Era fofo os ver conversar, gostavam praticamente das mesmas coisas, brincavam um com o outro frequentemente e era simplesmente surpreendente como um dialogo poderia conter tantos palavreados ininterruptos. Jeongin arriscou ser um recorde.
Por mais bonitinha que fosse aquela relação de irmãos, ele não aguentava mais a presença de hyunjin ali, lhe causava um rebuliço no estômago que ele não sabia explicar, o deixava enjoado e ao mesmo tempo eufórico. Por alguns segundos jurou que era uma crise de ansiedade pelo acontecido mais cedo, mas notou que era algo diferente.
- bom, yeji, eu vejo você em casa mais tarde, vou jantar lá mais tarde – o mais velho entre eles se levantou
- você já vai?
- eu tenho que organizar umas coisas, vou morar numa republica com meus amigos, por isso eu vou levar algumas coisas minhas que tem lá em casa pra lá
- ah, que pena... então eu te vejo a noite – yeji sorriu, virando-se para jeongin
O garoto estava imerso em pensamentos, o famoso "olhando para o nada pensando em tudo",debruçava-sesobre o próprio punho, tendo o cotovelo sobre a mesa. Levou um susto quando a garota lhe chamou a atenção, estralando os dedos sobre seu rosto.
- não vai dar tchau pro hyun, não?
- deve ser muita admiração pela minha beleza, eu entendo – o hwang colocou a mão sobre o peito com um sorriso convencido
- ah, beleza – rolou os olhos – tchau, "hyun"
O apelido saiu dos lábios do yang como uma provocação, arrancando um riso de canto de hyunjin. Com a sobrancelha arqueada, bateu continência em forma de zombá-lo e deu as costas aos dois mais novos.
Quando se deu uma certa distância entre eles e hyunjin, yeji virou-se bruscamente para seu amigo, mais uma vez o pegando de surpresa.
- vem cá, ô gay, o que foi isso?
- isso o quê?
- tu passou essa ultima hora toda em silencio, pensando em sei lá o que, debochava de tudo o que meu irmão dizia e se tu pensa que eu não percebi que vocês estavam trocando farpas, pois está muito enganado – disse cada palavras apontando o indicador em sua face
- é mentira! – abaixou o dedo da garota
- você mostrou a língua pra ele, yang jeongin – cruzou os braços com a sobrancelha arqueada
- sei lá, yeji – rolou os olhos – ele me passou uma energia estranha, nunca me senti assim...
Os olhos da hwang desceram até a altura de seu pulso meio coberto pela manga do moletom. Nada sutil, ela puxou-o descobrindo o braço, encarando sua marca.
- por que ela tá assim?
Se referia a região avermelhada em volta da flor, era como um tipo de queimadura recente ou uma alergia.
- não sei, não deve ser nada demais – deu de ombros
- ih, esse tipo de coisa não acontece por nada, e se for um sinal da sua alma-gêmea?
- claro, nesse momento elu deve estar se revirando no túmulo
- ai para com isso innie, já disse que sua pessoa não tá morta
- então vai ver elu está em estado vegetativo em um hospital e nesse momento estão desligando seus aparelhos – permanecia tratando a situação de forma ácida
- olha, você me cansa, viu?
Era difícil falar com jeongin sobre isso, se ele realmente achava que sua metade estava morta? Não, ele não achava, mas falar em voz alta aumentaria suas expectativas e ele não queria sofrer por isso, quanto maior a subida, pior a queda.
Preferiram trocar de assunto e voltar a falar das coisas idiotas que eles costumavam dizer em dias como aquele.
- vem cá, o que vocês estavam falando antes de eu chegar?
- ah, isso... – a face do garoto era exatamente como o emoticon de constrangimento – eu falei que era seu namorado...
- VOCÊ FEZ O QUÊ? – explodiu na gargalhada
- em minha defesa, ele chegou falando que você era fofa e eu não sabia quem ele era, tive medo que fosse um tarado, daí pra te proteger eu disse aquilo
- sério, innie – sentia sua barriga doer
- mas é tudo culpa sua, por que não me falou que aquele era seu irmão?
- eu te mostrei uma foto antes da gente vir pra cá, no uber, lembra?
- porra, yeji, era uma foto de cinco anos atrás, você ainda usava aparelho e óculos!
- parô?!
- é sério, hwangie, podia ter me dito que ele era tão... tão... – gesticulava tentando achar a palavra certa
- gatinho? – moveu a sobrancelha de forma sugestiva
- se fecha, menina – fez cara de nojo
- eu sei que você achou ele um pitel, eu entendo, é coisa de família, pode admitir
- me deixa em paz, eu hein, garota
Yeji continuou brincando consigo, arrancando risos do yang, era tão bom o ver sorrir. Saiu completamente do clima ruim que estava momentos antes, fingia que não, mas sempre que via seu amigo se sentindo daquela maneira, ela se sentia mal. Sendo sincera, ela se sentia mal por jeongin desde aquele fatídico dia, o dia que ela o conheceu, talvez, depois de tê-lo visto daquele jeito, nem ela acreditava que a alma-gêmea dele estivesse viva.
De qualquer forma, a tarde correu bem e, embora não quisesse demonstrar para não magoar seu amigo, ela não via a hora de ir para casa e falar com seu irmão, era tão bom tê-lo de volta.
Chegou em casa deixando sua bolsa sobre o sofá, indo até a cozinha. Para sua surpresa, seu irmão estava lá.
- olha só o que temos aqui, um filhote de cruz-credo –exclamou sentando sobre uma das banquetas do balcão
- sim, acompanhado pela minha dupla, a aberração de circo – recebeu um sinal com o dedo do meio de sua irmã – cinco anos depois, mesma personalidade de criança, só tirou o aparelho e os óculos feios
- meus óculos da hello kitty eram lindos!
- óculos são para manés de visão ruim – provocou a mais nova
- vocênão parece ter achado o jeongin um mané, ficou dando mole pra ele o tempo todo, uma pena que ele não te deu a mínima
- então esse é o nome dele, eu tava tentando lembrar – pegou uma jarra de suco na geladeira – e bom, por acaso ele é tipo... – pigarreou – talvez, só pensei... bi?
- o quê? Não – riu pegando um copo do suco, que era incialmente de seu irmão o qual se aborreceu com o ato, fazendo bico
Sem saber o porquê, com a notícia, hyunjin se sentiu um tanto... decepcionado? Desapontado? Não sabia explicar. No entanto, yeji continuou.
- ele é gay mesmo – a exclamação fez o mais velho se engasgar – por que quer saber? Tá interessado?
- ué, o hyun é boiola?
Ni-ki, o mais novo dos irmãos, adentrou a sala.
- obrigada por me arrancar do armário, yeji – mostrou um sinal de positivo com o polegar para a mais nova que apenas sorriu satisfeita – sim, nini, eu sou bi, mas eu tava pensando em contar pra você e pros nossos pais mais pra frente
- nem precisa, tá escrito na sua cara – ni-ki roubou o copo de yeji, que havia roubado de hyunjin inicialmente, mas logo o devolveu para o balcão fazendo cara de nojo – pensei em tomar, mas já pensou se esse negócio de gay passa?
- se liga, pirralho, não é como se tu fosse diferente, o irmão do innie, o jungwon, já me contou que tu andou dando uns beijinhos no sunoo – a garota soltou, fazendo hyunjin rir
Dando o dedo do meio, ni-ki deixou a sala, deu as costas para os irmãos que permaneciam dividindo o riso.
- sobre o que o jeongin te disse mais cedo, sobre ser meu namorado, ele só queria me proteger, espero que não tenha levado à mal – tocou no assunto passando o dedo pelo vidro gelado do copo
- que nada, fiquei aliviado, é legal saber que minha irmãzinha tem alguém que cuide dela, e ele é bem fofo, vocês parecem próximos de verdade
- somos amigos desde que você foi embora, não quero te magoar, mas ele foi como uma outra figura fraterna, e ainda é...
- eu sei que fiz falta, me desculpa ter sumido nos últimos anos, a Austrália fez eu descobrir muito sobre mim que me assustou, por isso eu precisei de mais tempo para mim, mas agora eu tô aqui e não vou para lugar nenhum – abriu os braços, abrigando sua irmã
- ni-ki também sentiu sua falta, mesmo que ele não vá dizer, então vê se passa um tempinho com ele, beleza?
- vou aproveitar pra ganhar dele no FIFA – se separou da irmã
- sem chance, o moleque passou os últimos cinco anos treinando só pra esse momento, ele vai te dar uma coça – debochou
- e quem ensinou ele? Você? – sua voz continha deboche em dobro
- não, o jeongin, e ele é incrível nisso
- então parece que eu vou ter que ganhar desse tal de jeongin – sorriu desafiador
Assim que terminou de pronunciar a frase, um frio correu por sua barriga, deixando uma sensação engraçada em seu estômago para trás.
Isso vinha acontecendo desde que viu o garoto de óculos de armação grossa, ele era realmente fofo, com aquele cabelinho ondulado bagunçado e o moletom grandinho. Pensar naquilo o fez soltar um riso de canto, a conversa com o mais novo havia sido breve, mas o conhecer foi sem dúvida diferente. Lembrou-se de todas as vezes durante aquela conversa que, em meio ao papo animado de yeji, ele se pegou observando o garoto um tanto emburrado, que parecia se desviar de qualquer investida que ele pudesse dar. O biquinho dele era fofo, ele parecia complicado, mas fofo.
De tudo o que sentiu quando o viu pela primeira vez, ele não podia escolher o que mais lhe pegou desprevenido, mas sentia que aconteceria de novo, e mais uma vez, e todas as vezes que se vissem. Que por ele, seriam muitas.
Não sabia explicar, nem colocar em palavras o que era o garoto, ou que havia sentido, era simplesmente... diferente.Total de Palavras: 2725 palavras.
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What You Can't Cover
RomanceViver no ciclo das almas-gêmeas sem conhecer a sua própria alma gêmea era um shot de desesperança para Yang Jeongin, um jovem de 21 anos que já não acreditava mais que pudesse achar a pessoa com quem compartilhava esse laço e ter uma marca, se torno...