Capítulo 13

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Dentro de si
   Jeongin’s P.O.V
   Quando eu era mais novo, costumava pensar que já era dono de mim, sabe, eu não lembro muito da minha infância, mas lembro de sair toda tarde de bicicleta, com um dinossauro de pelúcia em mãos e uma musiquinha na boca. Eu pensava que já era grandinho e saía pela cidade como se fosse o dono do mundo.
   Mesmo com 21 anos, eu sinto que ainda não aprendi minha lição, não é como se eu ainda me achasse uma criança independente, na verdade é bem o contrário, as vezes eu sou muito é dependente, mas eu ainda carrego em mim aquele sentimento de prepotência e falso desapego, como se eu pudesse dar as costas para todo mundo à qualquer momento sem pretensão. Acho que na verdade, há muita coisa bagunçada dentro de mim.
   Abri os olhos e me encontrava em uma sala desconhecida, era como... uma sala de jardim de infância! Sim, paredes coloridas, alguns brinquedos espalhados e outros em caixas, livros coloridos nas prateleiras, um grande quadro negro com desenhos simples, mesinhas e cadeirinhas minúsculas, papeis rabiscados, gizes, e o chão coberto por um tipo de tatame encaixável fofinho. Aquele lugar me trazia uma paz desconhecida, como se todas as minhas preocupações houvessem sido deixadas para trás em algum lugar do meu caminho até ali – mesmo que eu não soubesse como havia chegado ali.
   Notei um certo brilho vindo de um dos armários. Havia várias pequenas portinhas enumeradas e a primeira delas estava brilhando, parecia ser um lugar para guardar pertences, mas ao abrir a portinha, notei que lá dentro, havia algo a mais.
   Como se eu houvesse mergulhado em uma memória, eu podia ver o médico conversando com minha mãe, mesmo que eu não me recorde de ter visto essa cena alguma vez na vida.
     - o seu filho desenvolveu um pseudocisto pulmonar pós-traumático, causado pela batida do carro, esse tipo de cisto se dá após eventos como esse, não costuma aparecer no momento do acidente como contusões ou fraturas, se trata de um reflexo silencioso, seus sintomas só costumam aparecer depois.
     - eu sou estudante de medicina e se me permite perguntar – eu poderia reconhecer aquela voz em qualquer lugar, era seungmin –como puderam identificar esses sintomas tardios?
     - como a mocinha de mechas rosa nos citou, ele sentiu dores toráxicas e dificuldade para respirar e quando fomos averiguar, o peito estava coberto de hematomas, os quais não passavam de vermelhidões quando o socorremos ontem, até havíamos pedido uma radiografia do tórax, mas como já sabem, estamos com problemas com nossos aparelhos...
   Era como se eu tivesse pulado dias no tempo, as roupas eram diferentes e seungmin já não estava mais ali.
     - e quando o meu filho vai acordar? – minha mãe parecia nervosa demais – já fazem três dias, doutor
     - ao fim da cirurgia deixamos seu filho no respirador, como é o protocolo, notamos uma melhora e decidimos tirá-lo do respirador, mas ao tentarmos, seus níveis de oxigênio caíram imediatamente e ele teve uma parada respiratória, acontece que o pulmão do seu filho está muito frágil, ele acabou entrando em coma pela falta de estabilidade dos órgãos principais e está entubado, diante das novas circunstancias, vamos o observar mais de perto e o acompanhar bem de perto, o caso do seu filho é pouco complicado e delicado...
   Queria adentrar aquela memória e dizer para minha mãe que eu estava bem, mas fui arrancado de lá e novamente me encontrava naquela sala de jardim de infância, encarando os armários.
     - ouvir isso deve ter sido tenso... aceita um chá? – me assustei ao ouvir um tipo de raposa que estava sentada em uma das cadeiras, e eu caído no chão
   Era até cômico, aquele animal de pernas cruzadas tomando uma xicara de chá.
     - oras, vai ficar me encarando daí? Venha cá
     - q-quem é você? – porra, eu gaguejei pra uma raposa...
     - eu sou você, mas uma versão de você que não conhece
     - como posso não conhecer algo sobre mim? – arqueei a sobrancelha
     - você não conhece muito sobre si mesmo, como por exemplo, sabe onde está?
     - em um jardim de infância...?
     - não, jeongin, você está em coma, entubado em um hospital, isso daqui é seu palácio mental – não sei como, mas aquela raposa parecia desdenhar de mim –e você sabe por que seu palácio mental é um jardim de infância? – neguei com a cabeça – porque sua infância foi uma merda.
     - ei, não fala assim, eu tive uma boa infância, tive tudo o que precisava, nunca passei necessidade, sempre tive tudo o que queria e fui feliz como toda criança deveria
     - poxa, tem tanta coisa que você apagou daí pra se proteger... –o animal me encarava com pena – está vendo aquela porta? A número 2? Abra
   Mesmo desconfiado e me perguntando se eu não estava sobre efeito de alucinógenos em alguma viela, eu fui em direção à porta e a abri.
   Lá dentro, eu pude ver o pequeno jeongin, mas a criança que ali estava, não se parecia com o eu que eu conhecia. O pequeno innie andava rápido na bicicleta, não devia ter mais que oito anos, mas ia à toda velocidade, sozinho, como se fugisse de algo, chorava desesperado, joelhos roxos, um corte na boca e um band-aid velho no nariz. O garotinho banguela derrapou a bicicleta em um beco, descendo rápido desta e a escondendo, se sentou atrás de caixas de papelão de onde saíram gatinhos magros e passou a chorar baixinho, tapando a boca para esconder os soluços, como se estivesse se escondendo de alguém. O pequeno abraçava um pequeno ursinho de dinossauro com toda a sua força, o bichinho já estava ali, junto à uma garrafinha vazia, umas revistas sujas e um pacote de bolachas velho, ele parecia ir ali com muita frequência.
   Fui pulando de uma memória à outra, sou pseudo-professor de jardim de infância, mas nunca vi uma criança chorar tantas vezes, as vezes dor física, outras interna, sentimentos quebrados e misturados. Eu sempre soube que meu pai era uma pessoa ruim, que havia feito mal para toda a minha família, mas em mim, eu nunca soube de verdade o que ele havia me feito.
   Agora, tudo estava explicado, conforme as memorias se passavam, eu era capaz de as encaixar e entender tudo. Meu pai foi um alcoólatra escroto e abusivo, agradeço muito pela minha mãe ter o largado antes que ele pudesse machucar meu irmãozinho, porque ele me machucou de todas as formas possíveis.
   Sempre associei minhas memorias de infância à uma criança livre e curiosa, mas eu nunca havia percebido que eu não estava saindo toda tarde para passear na rua, eu saia toda tarde antes que meu pai pudesse chegar em casa, saía porque sabia que era o horário que ele estaria bêbado e eu pagaria pelo que não fiz, eu fugia e às vezes acabava não conseguindo fugir à tempo. Eu fugia para aquele beco onde podia ver o pôr do sol, temendo que eu não pudesse vê-lo no dia seguinte.
   Oito anos, eu só tinha oito aninhos, mas dormia temendo não acordar, e acordava temendo topar de cara com o meu pai e não passar dali. Sabendo daquilo, eu também sabia que às vezes, eu desejava realmente não acordar.
   O innie de 10 anos passou por três terapeutas, mas ele era tão tímido, tinha tanto medo de preocupar a mamãe, que aquele pequeninho guardou tudo para si, até que pudesse filtrar tudo e esconder bem no fundinho de si.
   Entrar em contato com essas memorias hoje, me faz sentir tanta raiva...
   Pulei para trás antes que pudesse saber mais do que não queria, caindo para trás naquela sala colorida novamente. De costas no chão, eu encarava o teto, sentindo as lágrimas caírem de meus olhos, algumas rolavam para o chão e outras se alojavam em minhas orelhas, causava um certo incomodo, mas meu estado não era bom o suficiente para que eu as espantasse dali. O animal veio até mim deitando a cabeça no meu peito.
     - ei pequenino, você está bem? – neguei com a cabeça sem o encarar – acho que você precisa abrir uma outra porta dessa vez
     - eu não quero abrir porta nenhuma – sussurrei
     - essa você vai gostar
   Suspirei fundo confiando nele. Me sentei de frente para aquelas portas, abrindo a terceira. Dei de cara com Bang chan, ele me olhava e falava comigo, mas eu não me lembrava daquilo.
     - eai, amigão, err – ele riu sem graça, como se soubesse que eu não responderia, ah é, eu estava em coma – bom, eu e os meninos passamos uns dias na sua casa, aquela lá que a gente ficou, eu sei que ela é do seu pai, digo, o senhor yang, aquele banana... acontece que o changbin e eu meio que demos um trato nele e ele foi embora, então ficamos por lá, mas já faz uns dias que você está aqui e a gente têm que voltar, as provas finais estão chegando... falei com a supervisora da sua turma aliás, ela me disse que com a comprovação dos seus atestados, você vai poder fazer suas provas quando melhorar e não vai perder pontos pelo tempo que ficou fora, isso não é ótimo?! – ele sorria grande, mas eu vi o sorriso dele morrer, coisa que eu nunca havia visto – jeongin-ah, você é meu irmãozinho, meu pequeno, mesmo que seja maior que eu, então por favor, melhora logo, a gente precisa de você bem, você é parte de nós e te amamos muito, eu e os meninos, estamos todos desejando sua melhora... eu tenho que voltar hoje, mas saiba que sempre vou fazer ligações para te contar como as coisas estão! Eu te juro! – me deu um último sorriso triste –tchau, melhoras, amigão!
   Mal olhei para a raposa, apenas fui direto para a quarta porta. Felix e changbin sorriam para mim, me encorajavam, eu podia ver lágrimas nos olhos do loiro, mas ele ainda sim me dizia palavras bonitas que faziam meu coração lento se aquecer. Não era à toa que ele era chamado de raio de sol. O seo sempre foi o cara engraçado e divertido, mas ali ele era bom com as palavras, mesmo sem jeito, me dizia o que eu precisava ouvir, como uma grande bomba de energia.
   Com um sorriso eminente, fui até a quinta porta, me deparando com minho e jisung, o primeiro ficou alguns minutos me mostrando vídeos de seus gatos que agora me faziam rir.
     - amor, a gente já vai, sabe que temos pouco tempo, conversa com ele! – jisung o chamou
     - ele gostava disso, vi ele assistindo com o felix – ele exclamou sem olhar para o namorado – e ele também se deu bem com os meus gatos de primeira, meus bebês não gostam de muita gente
     - nem de mim
     - ele também foi legal com aquele gatinho que apareceu na casa do pai dele aquele dia, e ele sempre foi tão gentil com todo mundo e...
   Quando percebi, e han também, o lee se debulhava em lágrimas, se apoiando de cabeça baixa sobre a maca. Eu nunca havia o visto daquele jeito.
     - oh, meu bem... – o abraçou de lado
     - ele é um ser tão puro, jisung! Mas que merda, isso é ridículo! Em um dia estamos juntos brincando e no outro estamos nos despedindo dele no hospital, não porque precisamos voltar, mas porque os médicos disseram que ele não melhora! Isso é horrível! Eu não quero mais! Eu simplesmente... – ele caiu sobre seus joelhos – eu não consigo acreditar...
   Jisung já não se esforçava para não chorar como fazia antes, abraçou o namorado e ambos dividiram as lágrimase lamentações baixas.
   Depois de mais calmos, se levantaram, han veio até mim e deixou um pequeno carinho em meu cabelo, eu mesmo pude senti-lo! Ele me disse palavras baixas e depois se despediu, pegou o namorado pela mão e me lançou um último olhar, saindo sem pretensão de esconder sua inconformidade com a situação.
   Me sentei sobre o chão, repensando se deveria abrir a porta seguinte, mas a raposa me fez um sinal para que continuasse, por isso, o fiz. Abri a portame deparando com seungmin. Ele estava de pé do lado da minha cama, apenas me olhando, comprimia os lábios como faz quando está angustiado ou nervoso.
     - ei, jeongin, eu sei que sempre te disse que não gostava de toques, e é verdade, mas se vocêacordar agora, eu deixo você me abraçar por trinta segundos inteiros! – exclamou sorrindo, mas continuou ao não obter reposta – olha, se você acordar agora, eu deixo você me abraçar por UM MINUTO! Olha que promoção, isso não acontece todo dia, não é mesmo?
   Riu tocando meu braço de leve, seu sorriso morria à medida que o silencio continuava o mesmo.
     - innie, presta atenção, eu nem vou contar, se você me acordar agora eu te deixo me abraçar pelo tempo que quiser! E quando você pensar em me soltar, eu vou continuar te segurando, vou te abraçar até perder as forças – sua voz se tornava mais urgente conforme as lagrimas caiam –porra, innie! Eu sinto tanto a sua falta seu melequento! Você é meu melhor amigo, meu bebezinho, eu te vi crescer pirralho, fui eu que te ensinei a andar de bicicleta e você me ensinou a desenhar flores de cinco pétalas! Eu te ensinei até a beijar na boca, garoto, você não pode me abandonar assim
   Soluçava tocando meu braço ora ou outra, como se quisesse me balançar para me acordar. Passou alguns minutos pisando fundo e xingando todas as entidades possíveis, até se acalmar e secar as lágrimas do rosto, respirando fundo.
     - escuta aqui, eu preciso voltar para Seul, mas eu juro que vou manter contato, vou voltar aqui aos fins de semana até você acordar, porque eu não ligo para o que os médicos dizem, você vai melhorar sim! – sorriu triste, passando a mão sobre a minha – eu estou indo, mas eu volto, innie! E quando você acordar, eu vou te dar um peteleco por ter me preocupado assim, você vai ver, vamos rir dessa situação
   O garoto deu as costas, indo em direção à porta, onde chan o esperava, mas ele parecia querer chorar, como se não pudesse acreditar nas palavras do kim.
   Assim que saí daquela memoria, me sentei sobre o chão, encarando meus pés. Suspirei antes de me virar para a raposa, que me encarava silenciosa.
     - eu tenho que continuar abrindo portas, não é?
     - você entendeu como funciona – ela piscou para mim
   Estendi a mão à outra portinha, reparando que eu me lembrava perfeitamente daquela memória, foi do dia que eu vi yeji no hospital. Seungmin já havia nos deixado e ela se virou para mim com uma expressão indecifrável.
     - eu tô sabendo do que você fez com o hyunjin – não respondi, me mantive neutro – o que aconteceu, innie?
     - não foi nada demais, eu só percebi o obvio, eu não posso continuar amando quem pertence à outro alguém, seria muito egoísta da minha parte.
     - sabe que isso não é verdade – ela cruzou os braços –o hyunjin te ama muito, eu sei que ele já disse isso, e também sei que o ama também, então foda-se o resto, esse negocio de alma-gêmea é história pra boi dormir, não pode se tornar barreira na vida de ninguém não
     - prefiro acreditar que soulmates são pessoas destinadas ao sentimento mais puro que um ser humano possa sentir, uma alegria incrível, e eu desejo essa alegria à ele
   Ela ficou me encarando séria por alguns minutos, antes de começar em tom rijo.
     - Era uma vez um homem, hwang jihoon era seu nome, ele possuía uma marca de sol em suas costas, não sabia o que significava, mas nunca deu muita moral para isso. Um dia, jihoon conheceu uma moça linda, Kim minseo, e assim que olhou em seus olhos serenos, pôde sentir sua marca arder, mas ele não era o único, com um olhar confuso, a moça caiu sobre seus joelhos, surpresa pelo acontecido. Se apaixonaram a primeira vista e começaram a se ver, então a namorar, se casaram e logo tinham dois lindos filhos.Um dia, a moça veio a falecer e o sol sobre o dorso do homem se escureceu. Em seu leito de morte, durante seus últimos suspiros, minseo lhe suplicou que seguisse em frente e fosse feliz, trazendo alegria para sua alma que partia.Passaram-se dois anos até que o homem pudesse verdadeiramente seguir o pedido da falecida esposa, mas aconteceu. Jihoon esbarrou em uma mulher na estação de metrô, Nishimura Naomi, uma das enfermeiras que cuidava da sua falecida esposa. A chamou para tomar um café, que com o tempo virou um almoço, e um jantar e em menos de um ano já estavam morando juntos.Mesmo não estando junto de sua alma gêmea, jihoon sentia que havia se encontrado em outro alguém, alguém que também o fazia se sentir feliz, amado e completo. – ela terminou soltando um longo suspiro – jeongin, essas pessoas são meu pai e minha madrasta, e eles são para mim a maior prova de que o amor não está nas almas-gêmeas
     - é fácil dizer, com todo respeito, mas sua mãe faleceu então seu pai não tem mais soulmate
     - é, mais a minha madrasta conhece a alma-gêmea dela, uma moça na china, pela qual ela não tem sentimentos nenhum – sem dúvida, a afirmação me deixou surpreso – innie, eu acredito na existência de uma conexão cósmica que faça com que duas almas sejam parte uma só, mas não consigo acreditar que elas sejam sinônimo de amor, o amor não é sobre isso
     - m-mas, almas gêmeas podem ter bebês! – exclamei como se fosse um veredito, por mais que minha afirmação nem fizesse sentido
     - e daí? Tá ficando difícil pra você se ajudar
     - olha, eu ainda quero conhecer minha alma-gêmea e quero que o hyun conheça a dele – cruzei os braços arrumando os lençóis
     - e quem garante que ele não é a sua?
   A afirmação me fez pular para trás, fugindo da memória, coisa que eu queria realmente ter feito quando tivemos aquela conversa.
   No chão, eu respirava rápido, podendo ver me peito subir e descer diversas vezes.
     - por que saiu de lá? – o animal me questionou
     - porque eu já tinha ouvido o suficiente
     - não acho que seja por isso – lhe lancei um olhar fuzilador –não me olha assim, senhor sabichão, já disse que tem muito sobre você que você não sabe, como por exemplo, por que aqui, bem no centro do seu palácio mental, há uma rosa gigante?
   De fato, havia um desenho de giz no quadro negro.
     - porque é a minha marca – dei de ombros
     - nossa, mas como você é teimoso! – ela rolou os olhos – vamos, abra a porta número sete
     - mas...
     - agora!
   Respondi ao autoritarismo com uma careta, mesmo que a obedecesse. Com um dos olhos fechados, abri a portinhola indicada. Meu coração se apertou ao avistar aquele ambiente.
     - vai mais para o lado! – exclamei para hyunjin que estava entre dois quadros de rosas
     - acha mesmo necessário fotografar isso? – ele questionou
     - mas é claro! Essa daí é a releitura do seu primeiro quadro, olha o tanto que você melhorou! – exclamei tirando as fotos – além do mais, hoje é um grande dia, você está com o cabelo completamente solto
     - e daí?
     - que significa que você lavou o cabelo! Você só solta quando lava e isso significa que hoje seu cabelo está cheirosinho – me sentei sobre o sofá
     - como é? – ele pôs as mãos na cintura me encarando incrédulo –tá dizendo que nos outros dias meu cabelo é fedido?
     - foi você quem disse – ergui as mãos me fazendo de inocente
     - ora, seu moleque!
   Hyunjin correu em minha direção, se colocando sobre mim e colocando o cabelo em meu rosto.
     - chama meu cabelo de fedido, vai! – jogava a cabeleira sobre minha face enquanto me enchia de cocegas
     - hyunjin, para!– eu não conseguia parar de gargalhar pela situação
   Ele parou sobre mim jogando o cabelo para trás sorrindo. Com uma mão segurava as madeixas de cabelo e com a outra se apoiava contra mim, respirando descompassado, ainda afetado pelo evento anterior.
     - hyun-ah – o chamei o encarando de baixo – você é lindo à beça
   O hwang soltou um riso nasalado me estendendo um beijo na testa, beijando também minhas bochechas, a ponta do meu nariz e o canto da minha boca, pouco antes de selar seus lábios aos meus de forma demorada.
     - você é mais – a exclamação me arrancou um sorriso de canto, antes de voltar à beijar o garoto
   Meu peito se enchia de calor, eu podia sentir o quão boa era a presença dele, o toque, o bem que ele me fazia, a energia que ele me transmitia, tudo sobre ele me fazia ficar aos mil suspiros. Na minha barriga já nem eram borboletas, eram pássaros, de pulinho em pulinho os pardais faziam uma arruaça em mim, sempre me lembrando do quanto eu amava hwang hyunjin.
   A imagem da lembrança se congelou daquela maneira, me obrigando a sair dela por conta própria. Inconsolável e cabisbaixo, eu voltei ao jardim de infância.
     - sabe, jeongin, ainda há muito para você aprender sobre você mesmo, caso você ainda não tenha entendido, eu sou a parte de você que você abandonou quando precisou se proteger, abandonou o otimismo, o apego pelas pessoas certas, o senso de realidade, e principalmente, você abandonou o que faria você ser você, mas uma versão mais confiante de si, hoje, você é só prepotente
   As lágrimas caiam sobre minha face com o choque de realidade.
     - você sabe o que queria fazer no dia do acidente? Você queria sumir, não queria pegar um ônibus para longe, ou sair para tomar um ar, você realmente queria sumir da face da terra, nem sequer sabia o que exatamente havia o levado àquilo, apenas seguia o caminho que a voz em sua cabeça ditava, porque você estava cansado, fadado de sofrer e fugir múltiplas vezes, então planejou sua última fuga. Tente dar uma passeada por aqui, se aceitar, apreciar-se, quem sabe, você pode resolver e conhecer muito dentro de si.

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