Capítulo 12

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Mentiras brancas

   É dramático dizer que avida é uma grande decepção, mas é verdade, colocamos expectativa demais em algo que não o merece, sempre vemos a vida com um grande quadro em branco, contendo diversas possibilidades, mas na real, é só um jeito bonitinho de te contar que: seu destino está em suas mãos.
   Sim, é preocupante, definitivamente assustador, mas ninguém vai te dizer “a vida é apenas um nome legal pra ‘caminho até a morte’”. É a real, mas mais uma vez, são coisas que nos dizem para talvez tentar tirar essa pressão, ou só fantasiar tudo isso para nos assistir perder as esperanças enquanto caímos. Uma mentirinha branca, que custa vidas.
   Hyunjin sentiu sua cabeça girar ao ouvir aquelas palavras, não podia ser verdade, certo?
   Os sons à sua volta se tornaram confusos e aos poucos se misturaram se tornando apenas um ruido, era somente isso, um ruido angustiante, que fazia seu estomago se revirar e suas mãos tremerem. O seu coração pulsava rápido como um carro de corrida. De forma abafada, ouvia seu nome sendo chamado.
   “hyunjin, vamos nos sentar”
   Ele ouviu alguém o chamar baixinho enquanto o tomava pelos ombros, o levando até os acentos.
   “isso é impossível! Deve estar errado!”
   Algum de seus amigos esbravejava contra a enfermeira, que não tinha culpa de nada, coitada.
   “me desculpe, moço, mas é o que diz aqui, o paciente mesmo que fez a indicação e o Doutor Lee assinou o formulário que afirma que o paciente está em perfeito estado de sanidade mental e pode tomar as decisões sem necessidade de um responsável.”
   Muitas palavras chatas, todas soavam como uma língua que hyunjin mal sabia falar, mas de tudo o que foi dito, ele conseguiu filtrar o que entendeu “yang jeongin odeia hwang hyunjin e não quer o ver nunca mais”, era isso que maldita voz em sua cabeça dizia.
   Ali naquela sala de espera de hospital, lotada de pessoas, seus amigos brigando, a enfermeira se justificando, alguém que ele não conseguia diferenciar lhe acariciava as costas, gritos e choros podiam ser ouvidos dos corredores do hospital. Diante de tudo isso, o hwang abraçou os próprios joelhos colocando a cabeça entre eles.
   Não chorava, não gritava, não tinha expressão nenhuma, apenas se movia freneticamente para frente e para trás, em estado catatônico.
   Em sua cabeça, sonhos se misturavam a lembranças, a realidade se juntava a pesadelos e utopias guardadas em si.    Mesmo assim, diante de todo o irreal, ele sabia que uma daquelas cenas havia realmente acontecido.
    Hyunjin’s P.O.V
   Havíamos acabado de chegar do parque aquático, a noite já caia e todos conversavam animados, contando piadinhas e zoando entre si. Sutilmente, chamei jeongin para o telhado, e ele pareceu ficar animado com a ideia, o que era engraçado, já que ele quase caiu umas três vezes da janela. Mas na real,o frango fui eu, que quase acabei com o sigilo da coisa, mas sério, eu quase caí?? Eu dei só um gritinho mínimo, nada demais, mas foi o suficiente para que o garoto se acabasse de rir da minha cara. Na moral, eu só queria ficar com raiva dele, mas o sorriso dele era tão, tão, TÃO lindo, que eu nem tive coragem. Fingi estar bravo apenas para tirar uma com a cara dele, mas na moral, até eu tinha achado engraçado.
   O céu já estava escuro o suficiente para que os postes das ruas estivessem todos acesos e, mesmo assim, as estrelas eram brilhantes o suficiente para que fossem vistas com clareza. Jeongin as assistia maravilhado, ele parecia uma criança, seus olhos brilhavam como se refletissem todos aqueles corpos celestes. Ele se virou para mim tombando a cabeça ao sorrir.
     - pensei que fossemos ver as estrelas, mas você continua olhando para mim – zombou da minha sincera cara de idiota
     - gosto desse céu, ele é tão vasto e cheio de brilho... mas eu ainda prefiro o céu da sua boca
     - para com isso – me empurrou levemente sorrindo
   Passei a mão pela parte interna de seu antebraço até que nossas mãos se entrelaçassem. Ele não tinha costume de me olhar diretamente nos olhos quando estávamos próximos assim, eu nunca soube o porquê, mas era fofo.Acabei sem querer focando meus olhos em sua marca de rosa que pela proximidade estava colada à minha pele. Ela parecia acidentada e sinceramente, parecia que doía o tempo todo, jeongin já havia me contado o porquê dela ser assim, eu sinceramente sentia muita pena do pequeno innie do passado que teve que passar por um evento como aquele tão cedo na vida. Tudo sobre ele me fazia querer ficar com ele, cuidar dele, impedir que o mal do mundo o alcance, eu só queria o ver bem.
   Notando que novamente eu estava pensando demais, ele pousou a mão solitária sobre minha coxa.
     - caraminholas na cabeça? Por que está tão interessado na minha rosa? Eu sei que ela é feia, mas não precisa ficar assim... – disse em tom de brincadeira, me fazendo chacoalhar a cabeça
     - não é isso – ri soprado – minha marca também feia, aliás
     - eu nunca à vi, onde ela fica? É que sinceramente, eu já te vi nu em todos os ângulos possíveis e eu nunca à achei
     - é na minha nuca, quase chegando no meu coro cabeludo
     - ah, então é por isso, seu cabelo é grande então eu não consigo ver – moveu a cabeça processando – deixa eu ver?
   Mesmo relutante, eu tive que aceitar, o que ele não pede sorrindo que eu não faço me arrastando por ele? Me virei levantando o cabelo da nuca, revelando aquela marca de raposa, machucada como a de jeongin, mas algo em si era diferente, era cruzada com uma cicatriz da palavra FATE, do inglês, destino.
     - por que ela é assim?
     - eu fiz muita merda quando era adolescente – sorri voltando a minha posição comum – eu vi muita coisa quando fui morar na Australia, muita gente tendo que ficar com quem não gostava por causa dessas marcas, até comigo, minha namorada terminou comigo porque os pais dela a obrigaram a se casar com a alma-gêmea dela. Quando isso aconteceu, eu até fiquei bem, não me causou tanta tristeza, mas quando o changbin descobriu a cherry e teve que se separar do felix, e ao mesmo tempo que o jisung tinha medo do minho ter outra pessoa ligada a ele, era tudo muito medo, muita angústia, apreensão, era horrível ver aquilo acontecendo, e eu acabei surtando. Eu tinha 18 anos e fui à um tatuador, pedi que ele cobrisse minha marca com a primeira merda que lhe viesse à mente, podia ser qualquer coisa, até uma rola, eu só queria esconder aquela coisa, ela não seria o motivo pelo qual eu deixaria, ou não, uma pessoa. No momento em que ele terminou de desenhar, o que eu nem sei o que era, comecei a sentir uma dor estupidamente forte, tipo, doída pra porra, tanto que eu acabei desmaiando. O tatuador me levou ao hospital e lá, o médico me contou exatamente o que havia acontecido, no segundo em que eu cheguei na ambulância, a minha pele extinguiu completamente a tinta da tatuagem, como se houvesse aberto um buraco e engolido ela. O doutor nunca havia visto algo como aquilo, por isso, me recomendou que simplesmente não fizesse mais tatuagens. Uns anos mais tarde eu fiz uma tatuagem atrás da orelha, uma borboleta azul, e ela continua aqui, o problema não é a tatuagem, é a marca, o universo me deu um aviso, não podemos mexer com ele.
     - isso é péssimo, hyunjin... – o yang balbuciou encarando os próprios pés no telhado
     - tudo bem, já passou faz tempo, o fato do universo não ter me deixado cobrir a marca não significa que eu vá seguir os planos dele, eu quero ficar com quem roubar meu coração, tipo você
     - para, eu sou tímido – sorriu frouxo me roubando um suspiro, que ódio, eu amo tanto esse garoto –eu até gosto da sua marca, se quer saber
     - mesmo?
     - sim, eu amo raposas, minha vó diz que eu, minha mãe e meu irmão herdamos olhos de raposa do nosso falecido avô, ela diz que ele reencarnou como uma
     - woah, isso é realmente legal!
   Exclamei animado com a situação, nunca havia parado para pensar na reencarnação, os antigos falavam muito nisso, mas eu mesmo nunca me envolvi com a cultura dessa crença, mas agora acho que faz sentido, eu devia pesquisar mais...
   Enquanto eu viajava na maionese, percebi que jeongin tinha a cabeça apoiada no punho, me olhando com a cabeça tombada ali, tendo um sorriso bobo no rosto, imagino que eu estava o olhando mais cedo exatamente daquele jeito.
     - innie – passei a mão pelos seus cachos frouxos de cabelo, como se os posse atrás da orelha – as estrelas estão lá em cima – apontei pro céu, zombando dele
     - aquele papo de céu da boca ainda tá de pé? – a frase me arrancou um riso
Estendi um selar breve sobre seus lábios, apenas para me afastar e olhar em seus olhos.
     - eu te amo, te amo muito, sabia disso? – ele concordou com a cabeça – e você... innie, você me ama?
   Confesso que estava meio nervoso quando perguntei e talvez tenha quebrado todo o clima fofo que estávamos, é bem provável que eu o tenha pressionado, mas o que posso fazer? Eu sou um boiola sem causa que queria muito poder pedir aquele homem em namoro e fugir desse mundo.
   Jeongin respirou fundo pra me encarar, com um mínimo sorriso nos lábios ele iniciou sua fala, a qual eu quase me remoía interiormente.
     - hyun... eu...
     - ah então as princesas estão aqui, tem como parar de boiolagem e vir aqui? O chan tava doido procurando vocês – minho exclamou
     - mas que porra, lino! – rolei os olhos frustrado, empata namoro da porra
     - eu atrapalhei algo? – questionou retórico debochando silenciosamente
   O garoto mais novo apenas riu de mim, me pegando pela mão e me levando de volta para dentro.
     - já estão voltando? – o lee tinha os braços cruzados e um sorriso presunçoso
     - se liga mané, se eu te encontro numa curva te pego na porrada
     - vocês literalmente dormem juntos, fica suave, vocês tem todo o tempodo mundo, vamos – me pegou pelos ombros me empurrando em direção à cozinha
   Se eu soubesse que não era verdade, eu nunca teria saído daquele telhado.
Fim do P.O.V
   Hyunjin fora levado à um quarto reservado do hospital, onde alguns especialistas e enfermeiros o ajudaram a sair do transe, mas ele não se lembrava como, apenas acordou em um quarto estranho do hospital, com jisung e felix dormindo em um sofá próximo a si. Se sentou sobre a maca, segurando forte no acolchoado abaixo de si, o movimento brusco o havia causado tontura.
   Ao perceber a movimentação do mais velho, os dois levantaram se aproximando dele.
     - você tá bem? – o lee questionou manso, sem a intensão de o alarmar
     - tô, eu só preciso ver o innie, ele precisa de mim –mentia, ainda estava tonto, se sentia cansado como se houvesse corrido uma maratona, mas já se levantava procurando seus sapatos
     - hyun, você não pode...
     - ele é meu bebê, é claro que eu posso, houve um engano, vocês vão ver
     - algum problema por aqui? O seungmin já tá lá na recepção e... – minho percebeu que o amigo havia acordado – hyunjin... como se sente?
     - o seungmin? Cadê ele? Eu preciso que ele me leve para ver o innie
     - você sabe que não é possível, hyunnie
     - ah, minho, me mama, vocês ficam nesse papo de que eu não posso, nem faz sentido! Eu aposto que ele tava confuso, talvez ele tenha falado o contrário, eu era a pessoa que podia entrar e ele não ouviu direito
    - hyunjin, eu sou seu amigo, você sabe que eu te amo muito, então presta atenção – jisung se aproximou, parecia que ele podia chorar, mas que estava aguentando firme pelo seu amigo –o que aconteceu com o jeongin, o encontro com o pai, o que lhe foi dito, o acidente... isso é de verdade muita coisa, ele precisa de um tempo, de espaço, precisa pensar um pouco, aquilo o pegou desprevenido e ele só quer poder pensar sem te machucar se ele estiver de cabeça quente... ele tá bem, hyun, o seungmin falou que ele logo recebe alta e vão poder conversar.
     - eu não posso fazer isso de novo – seus olhos se enchiam de lágrimas – eu escutei o minho naquele dia, eu saí do telhado, eu não ouvi o que o innie tinha pra dizer, eu acreditei que tinha todo o tempo do mundo, mas não era verdade, eu percebi isso agora, eu preciso falar com ele – se levantou rápido
     - não, você precisa descansar – com um movimento um tanto brusco, que deixou minho um pouco triste, o pôs na cama de novo pelos ombros – olha, eu entendo...
     - não, porra! Você não entende! – aumentou o tom de voz ao sentir que as lágrimas que antes eram presas em seus olhos, agora rolavam por sua face –aí do teu lado tem o seu namorado, vocês estão juntos, vocês se amam e sabem disso, os dois estão bem e podem passar quantas noites quiserem abraçados e ninguém vai poder dizer nada, porque vocês são almas-gêmeas, e isso é um saco, porque o garoto que eu mais amo nesse mundo está em um quarto de hospital bem agora, eu não sei como ele está e meu interior se revira em culpa sempre que eu penso que poderia ter salvado ele se tivesse o segurado por mais dois minutinhos, mas eu não consegui, como também não sei se ele me ama, e também não posso ver se ele está bem, não posso espalhar beijinhos nos machucados dele e dizer que tudo vai ficar bem, e parece que tudo em mim dói sem ele, quando eu o vi ser atropelado, era como se eu houvesse sentido aquele golpe que o fez ser jogado longe, senti em minha alma, mas é claro que você diz que entende – riu de forma dolorosa – você tá aí, nesse exato segundo eu tô vendo a sua mão apertando a do jisung, você são almas-gêmeas, um casal lindo de verdade, e todo mundo apoia, até o universo, vocês dividem os sentimentos, a alma, aposto que até dividem a porra da dor e...
   Por um segundo, o mundo todo ficou silencioso. Se engasgou em palavras tentando processar o que seu coração lhe dizia.
     - hyunjin...? – chan se aproximou, naquela altura, todos os seus amigos já haviam enchido o quarto
     - a dor... você dividem a dor... – balbuciou secando as lágrimas
   Sua mente se tornou uma explosão de cores, lembranças e informações, peças de quebra-cabeça.
   “eu amo raposas!” ouvia a voz de jeongin naquele telhado
   “sim, você e o innie só tem dois anos de diferença” yeji lhe disse uma vez na cozinha
   “eu tinha 18 anos e fui à um tatuador...” era sua própria voz
   “jeongin tinha 16 quando a rosa se partiu”
   Então as informações chegavam como foguetes e partiam sua mente ao meio.
   “jeongin gosta de raposas, tem olhos de raposa, gosta do pequeno príncipe e eu tenho uma marca de raposa...”
   “eu gosto de rosas, meu primeiro quadro foi uma rosa, eu também gosto do pequeno príncipe e o jeongin tem uma marca de rosa...”
   “vocês dividem a dor...”
   “quando eu o vi ser atropelado, era como se eu houvesse sentido aquele golpe que o fez ser jogado longe, senti em minha alma...”
   “quando o vi pela minha primeira vez, senti minha marca doer, me senti tonto e extasiado...”
   “minha... marca? Eu senti isso na minha... alma? Ele...”
     - ele é minha alma gêmea – disse baixo para si
     - o que disse, hyunjin? – o mais velho deles questionou
     - seungmin! Seungmin, vem cá, por Deus, me ajuda! Eu preciso ver o innie! – exclamou ignorando o mais velho
     - ele tá com a yeji e você não pode ir... – o kim mordeu o lábio inferior
     - não, não, é diferente, eu só preciso que ele me escute, pode até mesmo só ligar para ele, eu preciso dizer algo a ele, meu Jesus, como fui burro – bateu na própria testa respirando descompassado
     - hwang, se acalma, você não tá falando nada com nada, explica
     - a marca dele! Ela sangrou naquele dia por culpa minha! Foi quando eu fiz a tatuagem, eu tentei renegar meu destino, poxa... estava tão na minha cara! Quando o pai dele estava lá, eu podia sentir sua angústia, quando ele foi atropelado eu senti em mim! Na minha alma!
     - do que você está falando? – todos prestavam atenção ao garoto que levantou ficando bem de frente para seungmin
     - ele é minha alma-gêmea, min! – o segurou pelos ombros olhando em seus olhos – eu não sei como explicar ou provar, mas eu sinto isso de verdade, e se você me deixar vê-lo eu sei que...
     - gente! – yeji apareceu na porta, alarmada, seu rosto estava vermelho e seu corpo todo tremia
     - o que houve? Você está bem? – chris franziu o cenho
     - é o jeongin – disse chorosa – ele não tá bem, eu não sei o que aconteceu...
     - m-mas, o que houve? Como?
     - estávamos só conversando e eu tinha percebido que ele não parecia estar respirando muito bem, então ele comentou de uma dorzinha no peito, mas disse que não era nada, então ele foi ficando pior e a gente reclamou pra enfermeira, mas antes que ela pudesse voltar com um médico, ele desmaiou e eu não sei o que está acontecendo, os médicos vieram correndo e falando rápido, palavras estranhas e difíceis...
     - e onde ele está?
     - na sala de cirurgia, e-eles falaram um nome difícil... eu não consigo me lembrar – fez careta tentando se recordar – cisto! Pseudocisto pulmonar pós-traumático, ele v-vai fazer uma cirurgia e-e eu não sei o que acontece depois, não sei se demora, não sei se ele vai ficar bem, se é perigoso ou...
   Ela não terminou a fala, hyunjin caiu de joelhos no chão, desacreditado.
   Costumamos dizer que tudo vai ficar bem, mesmo quando não é verdade, quando não temos certeza, é apenas uma mentirinha branca para aliviar o clima, mas às vezes, mentirinhas brancas podem custar vidas.

Total de Palavras: 3014 palavras.

What You Can't CoverOnde histórias criam vida. Descubra agora