Capítulo 2

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No tempo certo

O universo é muito bem-organizado, caso queria saber. Perfeito não, infelizmente isso não é possível nem mesmo para uma força tão suprema, mas é o mais perto que se pode chegar.
Falando nisso, o novo ciclo é um dos mais bem agendados, por exemplo, uma pessoa só tem acesso a sua (s) marca (s) após uma semana do seu aniversario de 15 anos, exatamente sete dias depois, no exato horário de seu nascimento.
Jeongin se lembrava de quando ganhou sua marca, havia apenas acordado, foi em direção à cozinha para pegar um copo d'agua, mas seu pulso passou a arder, arder demais na verdade. Ao olhar para a região, notou um risco em formato de S, com o passar dos segundos, o risco correu pela sua pele, fazendo cocegas e lhe causando um arrepio. A risco aos poucos tomou forma e cor, se estendeu e se preencheu, formando uma bela rosa avermelhada.
Linda. Era a marca mais linda que sua família inteira já havia visto, todos vinham paparicar seu novo "adereço". Em todos os lugares que ia, pessoas elogiavam sua marca e diziam o quão linda ela era, isso aumentou muito o ego do yang, principalmente quando lhe diziam "isso significa que você e sua alma-gêmea vão ter uma longa história juntos", isso o deixava esperançoso.
Bom, isso até aquele maldito dia, a partir daquele dia ninguém mais elogiou sua marca por um bom tempo. "você vai encontrar sua alma-gêmea no tempo certo" parecia papo de idiota.
Apesar de não ter uma boa relação com sua marca, jeongin foi quem acalmou ni-ki quando veio a dele, isso os aproximou, os fez bons amigos, innie foi o irmão que o garoto sempre quis.
Por isso mesmo, foi pra ele que ni-ki ligou naquele dia novamente, dois anos depois que viraram realmente amigos, foi a primeira pessoa que lhe veio à mente, yeji estava em casa, no quarto ao lado, mas ele ligou para o yang. É claro que quando o mais novo disse que era uma emergência, jeongin veio correndo sem pensar duas vezes.
Assim, adentrou a casa sem nem bater na porta, apenas subiu as escadas até o quarto do mais novo. Escancarou a porta com um kit de primeiros socorros em mãos e o número da polícia prédiscado na outra.
- o que houve? É muito grave? O corte é muito fundo? A dor é muito grande? Eu ligo pra ambulância ou pra polícia? – disse sem pausa
- eu uso a preta ou a branca? – ni-ki segurava dois cabides com camisetas grandes, do tipo que ele gostava
- o quê?! – travou por um instante
- o que combina mais com uma noite de irmãos?
- espera aí, nishimura – estendeu a palma pedindo "pause" – você me chamou aqui pra te ajudar a escolher a droga de uma camiseta?
- é – deu de ombros
- se eu te pego na porrada, moleque – fingiu avançar sobre seu pescoço
- ai, viado, se acalma
- garoto, eu vim praticamente voando, eu tava de bike ni-ki, eu nem sabia que podia pedalar tão rápido, eu moro a cinco bairros daqui, é no mínimo uma hora de caminhada, é na subida E EU FIZ EM QUINZE MINUTOS, eu quase atropelei uma senhora, eu nem parei no sinal, quase fui atropelado e passei numa poça de lama
- tu é dramático, hein
- nossa, mas agora eu lembrei o motivo pelo qual eu trabalho com criança e não com adolescente – massageou a têmpora se jogando sobre a cama.
Ni-ki se sentou ao seu lado soltando um suspiro prolongado, logo, o mais velho viu que havia algum problema, o garoto geralmente não era assim.
- ai, que foi, nini? – levantou se apoiando sobre os cotovelos na cama
- não é nada demais, besteira
- que mané besteira, moleque, manda pro pai
- é o meu irmão...
- ele te fez mal? Te falou alguma coisa? Olha que eu pego aquele metidinho na pancada e é dois tempos – estralou os dedos, mesmo que fosse brincadeira, já quejeongin não matava nem mosca
- não, innie – riu da expressão do amigo – eu amo muito ele, mas a gente nem se conhece direito, minha mãe e eu viemos morar aqui quando eu tinha 11 anos, mas logo que eu cheguei, ele foi embora, nem foi um ano... a gente só se falava pelo face-time nas datas especiais, mas nunca tivemos um tempo para nos conhecermos de verdade, a gente se zoa, mas é meio... é
- e agora que vocês se veem com mais frequência você está pilhado com isso, né? – o garoto assentiu – não precisa, meu bem, você é um garoto super divertido, te conhecendo e tendo já encontrado com o seu irmão, acho que vocês vão se dar super bem
- eu também acho, mas para garantir que eu não vou entrar em parafuso, eu te chamei – sorriu
- sim, e eu já estou indo, a camiseta preta é a melhor – se levantou
- quem disse que eu te chamei pra escolher camiseta? Tu vai passar essa tarde aqui comigo
- o quê? Por quê?
- porque eu e ele vamos assistir filmes de terror, comer pizza e jogar FIFA, são as coisas que você me ensinou innie, você é meu mestre, eu preciso de você aqui
- mas nini, seu irmão é um saco – reclamou emburrado – ele é tão... tão – fez gestos como se esmagasse ele, arrancando risos do mais novo
- vai mano, por favor – juntou as mãos suplicando – sabe que você é mais meu irmão que ele né?
- ei, não apela – rolou os olhos derrotado – para com essa cara de gatinho do Shrek, eu fico
- YAY! – abraçou o mais velho
- olha que isso é meio gay, hein
Ambos riam quando alguém deu três batidas na porta, e adentrou.
- ih, é o amigo da yeji – hyunjin cruzou os braços se escorando sobre a porta
Um arrepio percorreu ambos os corpos assim que fizeram contato visual, mas é claro que nenhum deles se pronunciou sobre isso.
- hyun, tudo bem se o innie ficar com a gente?
- claro, vai ser legal ter mais um, quanto mais melhor – sorriu gentil – não acha, innie?
- meu Deus, como eu deixei o ni-ki me convencer a ficar? – disse baixo para si
Desceram para a sala, onde já havia um Playstation conectado à TV, mais dois controles plugados.
- bom, eu não sabia que teríamos companhia, então vocês dois revezam em perder pra mim – se jogou sobre o sofá
- até parece que eu vou perder – ni-ki pegou um dos controles, determinado – eu vou te esmagar
Uma pena que não rolou, o garoto era bom, muito bom, deixou jeongin imensamente orgulhoso, o problema era que hyunjin era melhor. Pois é, ni-ki perdeu uma, duas, três... ele quase ganhou na quarta, mas é, ele perdeu, que saco.
Foi naquela quarta rodada que ele entregou o controle para jeongin, alegando que ia pedir pizza, mas ambos os mais velhos sabiam que ele praguejar contra hyunjin com yeji – que também amava falar mal dos outros, coisa de fofoqueira, sabe.
Se sentou perto de hyunjin de forma que pudesse ficar de frente para o monitor da TV.
- pronto para perder de lavada, innie?
O mais novo arqueou a sobrancelha, o olhou de cima a baixo e voltou o olhar para o monitor com cara de nojo.
- o dia que eu perder pra você eu mudo de nome
- pois se prepare para se chamar Jorginho
Ambos os garotos tinham um olhar determinado e firme na tela, era muito mais em jogo do que um simples prêmio virtual, era algo sobre o ego. Sim, dois homens adultos com sua dignidade em jogo, e o jogo era FIFA 2019. Patético.
O jogo foi sem dúvida acirrado, a cada gol trocavam algumas farpas e provocações, carregadas de acidez. Felizmente, o yang não precisou mudar de nome, porque venceu o mais velho, por três gols.
- HÁ! Eu ganhei, otario! Será que hyunjin combina com Ronaldinho? É, você tem cara de Ronaldo, Ronaldinho Hwang soa bem – provocava o garoto que ainda tinha a face incrédula presa na tela
- quer revanche? – disse virando a cabeça lentamente, continha um sorrisinho de desafio
- claro, mas eu ganhei, então eu escolho o jogo, e vai ser a corrida do sonic – exclamou sorrindo, pegou o controle para trocar o jogo
- mas é jogo pra perdedor
- por isso você vai jogar
- é jogo pra mané
- cala a boca, Ronaldinho – mantinha os olhos prestando atenção no jogo que procurava
- jeongin, é jogo de criancinha – cruzou os braços emburrado
- e qual o problema? Crianças são incríveis!
- crianças são pequenos demônios – ao pronunciar isso, jeongin virou-se bruscamente
- ih, se fodeu, falou isso pro cara que trabalha com criança – yeji exclamou ao passar pela sala, em direção à porta de saída – boa sorte, tá lascado
- o que você falou sobre as crianças?
O mais novo mantinha a face incrédula, não sabia explicar se eram os óculos alguns milímetros mais baixo que o normal, de forma que ele o olhasse por cima destes, ou se eram as mangas do suéter arregado, talvez até mesmo a forma séria como falava... não importava, para hyunjin, aquilo era estranhamente atrativo.
- eu falei, innie, que eu não gosto de crianças, porque elas são pequenos demônios – sorriu no final, era arriscado, mas queria ver onde isso dava, o garoto tirou os óculos
- escuta aqui –se aproximou pondo uma mão, a mesma que segurava os óculos, sobre o encosto do sofá atrás do hwang e a outra usava para apontar o dedo indicador sobre sua face – crianças são seres maravilhosos, estão apenas no inicio da vida e tudo o que elas querem é uma chance de poderem absorver o melhor do mundo agora, então se você não gosta de crianças, você provavelmente é um idiota amargurado e traumatizado com uma infância difícil, se for o caso, procura um psicólogo e não enche!
Eram cerca de cinco centímetros entre seu rosto e o de hyunjin, que mal ouviu a bronca, sinceramente, o amigo de sua irmã era incrivelmente gostoso, como não reparou antes?
- você tá solteiro? – disparou
- quê?!–yang arregalou os olhos com o cenho franzido
- família, a pizza vai demorar, então eu fiz pipoca de micro-ondas, tudo bem que eu queimei ela, mas eu tenho certeza que ainda tá boa e... – ni-ki mirou o olhar na proximidade dos mais velhos – má hora?
- de jeito nenhum, nini – jeongin se afastou, voltando a procurar pelo jogo – quer me ver acabar com o seu irmão em um jogo de criança?
- essa é boa, eu vou te fazer comer poeira
O yang voltou ao seu lugar ao lado de hyunjin, virando-se com um sorriso de canto.
- quero ver tentar
Foi como uma projeção da rodada com ni-ki, mas dessa vez, hyunjin perdia e perdia feio. A campainha tocou, chamando a atenção do mais novo, que saiu para atendê-la.
- você vai ver, eu vou ganhar de você!
- ah, mas essa eu quero ver –jeongin riu
- tá duvidando?
- dú-vi-do – virou-se para o garoto
- então deixa eu pegar esse seu controle – se esticou para pegar o remoto do yang
- nem vem – riu se desviando
Começou uma pequena luta para ver quem ficava com aquele controle, hyunjin avançava e jeongin sempre se esquivava, as provocações eram feitas a cada segundo e o ar de seus pulmões já era exclusivo para as risadas que soltavam a cada movimento.O personagem de Jeonginno jogo já havia batido em uma arvore, o jogo estava pausado, mas quem ligava? Ele não.
Em um momento oportuno, hyunjin se ajoelhou sobre o sofá, esticando o braço para o controle que jeongin colocou fora de seu alcance, bem para trás. Sem que percebesse estava sobre o yang, tendo esse mesmo joelho sobre suas pernas, que pareceu só se dar conta naquele momento, também. As risadas se cessaram, de forma que fosse audível apenas as respirações ofegantes.
O mais velho intercalava o olhar entre os olhos e a boca do mais novo, sentia como se tudo no seu corpo trabalhasse apenas para deixá-los mais próximos, se sentia quente, uma onda de energia corria pelo seu corpo. Lindo, yangjeongin era lindo demais. Subiu o olhar até a mão que segurava o controle, foi assim que avistou quela rosa, era um desenho lindo, perfeito, digno do Yang.
- bela rosa – com a cabeça, indicou o desenho em seu braço, hyunjin falava baixo, de forma que o corpo inteiro de jeongin passou a reagir
- e você? É solteiro?– arqueou a sobrancelha, subindo o olhar
- tá interessado? – desceu a mão em direção ao próprio cabelo de forma que o tirasse do rosto
- não. – em um movimento rápido, avançou sobre o hwang, de forma que suas costas colassem no outro braço do sofá – só queria saber se vou ganhar de um homem compromissado
O yang usou o próprio joelho para segurar o tronco de hyunjin colado ao sofá, voltou ao jogo e em segundos ultrapassou a linha de chegada, enquanto o hwang resmungava inconformado por ter caído em uma armadilha.
- viu? – segurou seu queixo – é assim que se ganha em um jogo de criança – soltou-lhe uma piscadela
- a maquininha do cara quebrou, daí eu tive que fazer um pix pra loja, que merda, vou dar só uma estrela – ni-ki reclamou, parando estático com a pizza em mãos – repito, se for má hora EU SAIO, É SÓ AVISAR
- nini, meu anjo-
- é por isso que eu não me misturo com viado – deu as costas indo para a cozinha
- innie–voltou sua atenção à hyunjin, que empurrou suas costas sobre o sofá saindo de baixo de si – eu tô sim solteiro
Saiu dali com um sorriso, maldito sorriso, atingiu jeongin como a droga de uma flechada, ele não se sentia assim usualmente, nunca mesmo, o que tinha naquele garoto de tão especial?
Não importava, não sabia, só sentiu que precisaria esperar, manter a calma, tudo se resolve, no seu tempo.


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