Capítulo 14

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Efêmero

   O discurso de que tudo passa já até passou, não se tornou obsoleto, é só tão citado que se tornou cansativo, mas é verdade. A brevidade das coisas é surpreendente, mesmo quando queremos que algo dure para sempre, é impossível, é improvável, é contra as leis do universo.
   Quer saber? Foda-se o universo, talvez seja culpa dele que corremos atrás do tempo com tanto afinco, a maioria das pessoas teme a morte inevitável, tentando se agarrar aos prazeres materiais, mesmo sabendo que daqui não se leva nada, por isso é tudo tão breve, tão restrito, tão sucinto, tão efêmero.
   Hyunjin vinha estando aéreo, também estressado e nervoso, era tudo sobre a forma como o tempo parecia estar correndo tão rápido para o yang e tão lento para ele. Era como se os dias se passassem como um raio no hospital, tipo, já fazia duas semanas que jeongin estava lá, quase três, era muito tempo para alguém ficar hospitalizado, até preocupante. Ao mesmo tempo, o tempo parecia se arrastar para hyunjin, que só queria acelerar as coisas para que logo jeongin estivesse novamente envolto em seus braços e abraços.
   Ultimamente, estar na faculdade soava como um tempo perdido, principalmente em aulas teóricas, ele queria descontar toda a sua raiva diretamente na arte, mas não podia o fazer estando sentado entre quatro paredes com mais 50 adolescentes, lápis e papel na mão. Odiava ir para a faculdade naquele momento, mas não largaria, porque tinha um sonho – e porque innie ficaria decepcionado, ele pensava.
   Falando em decepção e raiva,Kim johnny era um afro-coreano que estudava em sua sala, não costumava se envolver muito com os alunos, era mais calado e faltava grande parte das aulas teóricas. Hyunjin não o julgava, ele era um homem negro em meio a diversos amarelos e brancos, o preconceito era certeiro, e isso fazia o estomago do hwang se revirar de nojo por conviver com aquelas pessoas.
   Era comum o bullying com a diversidade, sinceramente, esperava mais de alunos de artes, pelo menos uma mente mais aberta, mas aquilo não rolava. Inclusive naquele dia, mal entrou na sala e pôde presenciar aquela cena desgostosa. Benjamin e mais dois garotos haviam colocado um pacote bem embalado que simulava uma pack de drogas na bolsa de johnny, que segurava o pacote com as mãos, sem saber como aquilo havia parado ali.
     - omo! Olha aquilo! O johnny trouxe a encomenda pra escola – o inglês colocou a mão na frente da boca fingindo surpresa – saiu da favela atrasado e não deu tempo de entregar, foi, neguinho? Fumado do caralho
   Podia ver nos olhos do kim que estava bravo, furioso na verdade, chateado, tremia e apertava aquele pacote com tamanha força que os nós de suas mãos estavam aparentes. Queria esmagar aqueles desgraçados na porrada, mas se o fizesse, provavelmente seria preso. Coreia de merda.
   Os olhos do hwang se efervesceram com toda a fúria que o consumia, já fazia mais de um ano que aqueles três moleques vinham lhe enchendo, filhinhos de papai europeus, de coreano bem pago e estudado desde cedo, diziam estar ali pela experiencia, mas era mais porque ali eles eram tratados como reis. Ingleses filhos da puta.
   Com um piscar dos olhos enfurecidos, hyunjin rangeu os dentes travando o maxilar, a passos duros e determinados seguiu na direção serrando os punhos.
     - quer atenção, filho da puta? Então toma aqui um motivo de verdade pra tirarem fotos de ti – o garoto que ria mal teve tempo de se virar quando o coreano lhe atingiu com um soco no olho
   Os alunos da sala arregalaram os olhos, a maioria se apressou a pôr os celulares para gravar.
     - anda! Levanta, desgraçado! Você não é o bonzão? Vem aqui e mostra se esse teu sangue europeu prevalece mesmo ou se essa porra azul é só por causa das merda que tu fuma
   Dizia com o pé pressionando o ombro do garoto no chão que se encolhia implorando para que parasse. Viu de soslaio um dos moleques que antes riam se aproximar.
     - xingxong, filho da puta!
   Os dois garotos que estavam com ele se apressaram a tentar bater em hyunjin, este desviava e revidava, não parou por nada nem quando um soco lhe atingiu o rosto, cortando seu lábio inferior. Talvez porque os outros dois estavam bem piores.
   De repente, o coreano foi segurado por dois seguranças, que colocaram seus braços contra suas costas, enquanto o mesmo tentava se soltar.
     - ME SOLTA, PORRA!
     - senhor hwang, tem noção do que está fazendo? Não tem vergonha não?    Nossa escola não permite esses comportamentos trogloditas! Olha o que fez com seus colegas de classe, eles são intercambistas! – o coordenador exclamou sério
     - comportamentos trogloditas? – arqueou a sobrancelha – Ah, beleza, então quando eu dou à três moleques mimados o que eles merecem, eu sou um babaca troglodita, mas quando esses filhos da puta são xenofóbicos, racistas e preconceituosos, são apenas meus colegas de classe intercambistas?
     - você está interpretando mal a situação – o homem travou o maxilar
     - claro, claro, é muito engraçado pra você ver pessoas sendo oprimidas enquanto você os negligencia, fecha os olhos pro que tá acontecendo, só engordando com o dinheiro que você arranca de cada um aqui!
   Virou-se para o garoto que era levantado por um colega, se vitimizando.
     - sabe o que é mais engraçado? Você chamar o johnny de fumado, né seu cheira pó! Aposto que seu pai ia amar descobrir o que tu faz aqui na coreia! – sorriu amargo – na moral, quem aqui não usa alguma coisa? Tu aí! Tu fuma uns bag doido, e você moça? Já te vi tomando umas pílulas interessantes... e a dona lee? Tu ainda dropa uns MD, amiga? Ei, Jeong, meu caro amigo, as parada que tu vende são perigosas, lek – limpou o lábio que sangrava com o polegar rindo das faces assustadas dos colegas – se um jovem branco é pego com drogas, é apenas um universitário querendo relaxar, se um de nós amarelos é pego com drogas, a gente leva um tapa na nuca e escuta “você não tem vergonha? O que seus pais vão pensar disso? Vai estudar para honrar sua família” e nos liberam, mas quando alguém como o johnny é pego com drogas, mesmo que nem sejam uma quantidade significante, eles apanham, são incriminados, negligenciados, e presos por nada, essa é nossa sociedade, sabe por quê? Porque babacas como vocês estão no comando, estão na política, na polícia e na justiça, que não é justa em porra nenhuma, te furam com a pena e te cortam com a espada, do governo é só tiro no cu e no dia seguinte ninguém liga, porque com o tempo a gente é obrigado a se acostumar com essa porra, então foda-se essa merda toda, quer me expulsar? Vai em frente, filho da puta, mas se liga com quem tu mexe, nem todo mundo leva tudo na boa igual eu.
   Se desvencilhando dos seguranças, saiu em direção a porta da sala.
     - s-senhor hwang, volte aqui a-agora mesmo! – o coordenador exclamou sem jeito, sua cara redonda estava vermelha de raiva e vergonha, a veia em sua testa pulsava sem parar
   Nada disse, apenas se virou mostrando ambos os dedos do meio, antes de deixar o lugar a passos largos e diretos. Pisava fundo e pesado em direção à saída da escola, sua face tomada pela raiva, o lábio inferior sangrando e a maçã da parte direita do rosto levemente avermelhada por um dos golpes que conseguiram o atingir. Nem sabia para onde ia, mas queria sumir dali.
     - ei! hwang hyunjin! – se virou ao ouvir uma voz lhe chamar, era johnny – você esqueceu suas coisas, maluco
    - ah, valeu cara – pegou a bolsa passando a mão pelo cabelo em seguida
    - cara... tua cara tá praticamente intacta – o kim riu nasalado – até que tu é bom de briga
    - eu passei um tempinho na Austrália com uns maconheiros que me disseram que nem todo mundo vai pegar leve com a gente e que isso não é nem desculpa pra apanhar e nem pra sair espalhando violência de graça, dê à césar o que é de césar – deu de ombros
     - ih, legal – olhou volta – bora sentar lá no meio fio e bater um papo?
     - ué, lek? Tu não tem aula não?
     - você também né, mané, mas cá estamos, então nada melhor do que filosofar no meio fio
Hyunjin riu o acompanhando até onde uma arvore cobria com sombra.
     - sabe, as coisas que você falou hoje me fizeram perceber que é ridículo eu continuar suportando isso quando eu posso fazer algo à respeito, tipo, não se trata só de mim, enquanto babacas como eles não tomarem uma boa taca, nada vai mudar e pode ser que mais gente aqui e lá fora passe pelo mesmo que eu, então se eu posso fazer algo, eu vou
     - e o que vai fazer?
     - eu falei com a minha irmã, ela é advogada e a namorada dela édo departamento de atendimento à grupos vulneráveis (DAGV) e pode me ajudar, eu também conheço uma galera que disse que já passou pelo mesmo aqui, dá pra meter um processinho legal na faculdade e na galera que vem cometendo o preconceito
     - isso é incrível, johnny! – sorriu sinceramente
     - viu só, o pai tem uns contatos – ele fez uma pose que arrancou risos do hwang
   Um silencio se instalou por alguns segundos até que hyunjin baixou a cabeça e perguntou algo – mais para si mesmo do que para o próprio johnny.
     - o que você faz sobre as pessoas que te machucam?
     - nada.
     - o quê? Como assim?
     - eu não faço nada, ué, eu apenas espero que elas passem, tudo nessa vida passa, já ouviu falar sobre efemeridade? – negou com a cabeça – é o conceito do que é breve, e as pessoas na nossa vida vêm e vão, apenas as boas ficam, o resto é tudo efêmero, então temos que deixar isso para lá e focar em quem nos ama e nós amamos também
     - mas então... – mordeu o lado interior da bochecha respirando fundo – e então o que eu faço quando quem eu mais amo também é quem mais me machuca?
   Johnny franziu a sobrancelha tombando a cabeça.
     - então me conta essa historia direito pra eu analisar com calma, eu tenho o dia todo
   O hwang não sabia se deveria se abrir completamente para um completo estranho, mas o kim parecia ser uma pessoa legal, confiável, gentil e centrada. Soltou um longo suspiro antes de começar a contar a história, detalhe por detalhe de tudo o que se passou entre ele e jeongin, desde que se conheceram naquele shopping.
   Johnny se extasiou com a história, tudo sobre a forma como se encontraram, se tornaram amigos, era só um lance e acabaram se apaixonando, tudo sobre aquilo lhe causou arrepios. Hyunjin gesticulava contando a história, ria nas partes engraçadas, sorria ao lembrar do que viveram e acabou deixando lágrimas solitárias caírem à medida que as coisas se tornavam tensas. Ao fim da explicação, soltou as mãos sobre o colo, soltando todo o ar que teve medo de libertar. Se sentiu mais leve.
     - deixa eu entender – o kim se localizava – você se apaixonou pelo amigo da tua irmã e depois de dois meses juntos ele sofreu um acidente e não quer mais te ver?
     - no momento não é que ele não quer, ele nem pode, está em coma – sorriu sôfrego
    - e por que ele fugiu?
    - porque foi criado à partir de um relacionamento abusivo que encheu a cabecinha dele de traumas, eu não sabia disso antes, mas o melhor amigo dele me contou
     - mas então por que raios ele putou contigo?
    - porque o pai dele só fala merda e fez ele retroceder anos de terapia
    - porra, moleque... tu nem ficou à fim da ultima bolachinha do pacote, foi pacote completo mesmo, traumas, daddyissues e agora, coma – refletiu com um tom de humor – e como ele é como pessoa?
     - ele sempre foi tão... – suspirou lembrando
   Hyunjin’s P.O.V (flashback)
   Estávamos sentados sobre um banco na praça, eu tinha meus olhos fechados com a cabeça para trás, apenas deixando que o vento tomasse minha face. Os abri minimamente para checar o que jeongin fazia e o garoto tinha um bocado de flores miúdas em mãos, ele as despetalava murmurando algo baixinho.
     - o que é isso?
     - shh, só falta mais duas– ele exclamou concentrado – minha mãe diz que quando estiver indeciso sobre algo, deve decidir fazendo isso – voltou ao movimento de partir as flores –bem-me-quer, mal me quer, bem-me-quer, mal... mal me quer?
   Suas sobrancelhas se franziram como duas virgulas para cima, quase que inconscientemente, um bico se formou em seus lábios. Eu não sabia exatamente o que o afligia sobre essa decisão, mas eu não gostava da ideia de vê-lo triste.
     - ei, faltou uma – apontei para o banco cheio de pétalas
     - qual? – procurou em volta
   Assim que ele se virou, fiz questão de surpreendê-lo com beijo rápido, que o fez dar um pulinho de susto.
     - hwang hyunjin, seu idiota! – riu sem graça
     - cala a boca, você amou – novamente me aproximei, colando nossos lábios por mais tempo dessa vez
     - você não pode me beijar assim em qualquer lugar – me olhou de soslaio cruzando os braços
     - é jogar verde pra colher maduro mais tarde – soltei-lhe uma piscadela
     - já falei que essa noite eu vou ficar com a yeji para assistirmos um filme juntos, vou te ver só outro dia
     - aff, como você é chato – cruzei os braços
     - você que é muito insistente
     - quem não chora não mama ué... e eu no caso já fiz os dois
     - HYUNJIN-
   Eu não sabia exatamente se sua face estava avermelhada pela minha exclamação ou pelo tanto que ria. Eu gostava de vê-lo sorrir assim, jeongin feliz significava eu feliz, era isso que importava.
   Eu também não passava muito longe, mas por ele eu sorriria a minha vida inteira, se isso fosse o trazer para mais parto de mim, eu sorriria até minhas bochechas rasgarem, até que todas as piadas do mundo deixassem de fazer sentido, até que as estrelas se alinhassem mais uma vez, porque tê-lo para mim era tudo o que eu mais queria.
     - disse que já chorou também... é verdade? – ele me questionou com os olhinhos brilhando
     - já
     - e por quê?
     - é só que... às vezes, te amar dói demais – sorri o deixando sem resposta
De novo.
   Fim do P.O.V
     - ele é... – hyunjin soltou um suspiro – é o garoto mais perfeito em gentil que eu já conheci em toda a minha vida, ele se importa tanto com todo mundo, mesmo que às vezes ele não faça questão de mostrar, ele é muito dependente de quem ama e ao mesmo tempo parece que pode deixar todo mundo para trás sem problemas, ele me faz rir para caralho e chorar escondido, me faz querê-lo comigo para sempre... ele é bem complicado, mas de um jeito que me faz querer descobrir mais sobre ele, sabe
     - caralho, mané – o kim exclamou – tu tá fodidamente apaixonado
     - e agora? O que eu faço, oh sábio johnny?
     - nada.
     - quer que eu deixe ele passar? – exclamou espantado – eu não quero que ele passe
     - não foi o que eu disse, e aliás, não é decisão sua se ele passa ou fica, isso é com ele. O que eu quero dizer é que, no momento, vocês não podem conversar, não podem se resolver, seria injusto se você tomasse uma decisão sem saber o lado dele direitinho, então, o melhor a se fazer é manter as esperanças, orar para a melhora dele, caso acredite em alguma divindade, e seguir sua vida sem depender disso, eu sei que é difícil, mas você não pode parar só porque ele precisou parar, aposto que se ele te ama, gostaria que não deixasse suas coisas para amanhã, lembre-se, o tempo assim como as pessoas, é efêmero.
   Refletiu sobre aquelas palavras alguns bons minutos. Ficou ali conversando com johnny e discutindo sobre a merda na vida deles com tom de humor. Depois disso, se despediu do mesmo, seguindo seu caminho.
   Na verdade, não havia caminho certo, vinha fazendo isso fazia um tempo, ele apenas zanzava pela cidade, andando e refletindo, às vezes parando para chutar um poste e gritar frustrado, escorregando por ele e chorando de forma audível. Se sentia sozinho.
   Ele não estava mais no dormitório com os amigos, estava na casa de seus pais, não havia se mudado, apenas precisava de um tempo, era muito difícil saber que eles podiam ligar para o hospital e checar como o pequeno estava, mas ele não podia. Com alguns dias do acidente, ele havia aceitado a decisão do mais novo de que ele não o visse, e para respeitar isso, ele preferiu não ficar no apartamento para que evitasse a tentação de vê-lo. Por isso agora estava em casa, mas estava sozinho.
   Yeji vinha ficando na casa da senhora yang, ajudando jungwon com as tarefas, com a casa, cuidando dele nesse momento difícil enquanto a mãe de jeongin estava com ele no hospital. Sem sua irmã, se sentia sozinho.
   Realmente esperava que esse sentimento que o consumia como um buraco negro um dia passasse, esperava que fosse efêmero. Ou que simplesmente o engolisse de uma vez.
   Chutando pedrinhas em uma rua de ladeira, mal notou quando um garoto parou de frente para ele, mas quando pôde, elevou os olhos a ele.
     - seungmin? – apertou os olhos para vê-lo melhor por culpa da pouca iluminação da rua
   O kim segurava duas sacolinhas de mercado, mas soltou as duas e correu em sua direção. Hyunjin se assustou quando foi surpreendido por um grande abraço apertado. Pois é, kim seungmin nunca havia o abraçado na vida, ele não gostava, hyunjin também não gostava de ser abraçado assim, mas sabe quem eles dois gostavam de abraçar? Yang jeongin, e ele estava longe de ambos.
   Apertou o corpo do mais novo contra o seu, sentindo o quão valioso é um abraço para quem precisa de um. Deixou que algumas lágrimas escapassem, ouvindo seungmin confessar que sentiu sua falta.
   Se afastaram depois de uns minutos, o kim voltou e pegou as sacolas que havia soltado mais cedo, voltando a ficar de frente para o hwang.
     - soju e meio-fio?
     - soju e meio-fio – sorriu fraco
   Era uma expressão dos 8 amigos, havia sido criada lá na Austrália quando eram apenas 6, significava comprar um bom álcool e chorar as magoas na calçada de algum bar ruim.
   Assim o fizeram, compraram bebida e se sentaram à beira da rua, para hyunjin, aquela era a segunda vez no dia. Queria perguntar, queria muito perguntar, mas não sabia se deveria.
     - min...
     - ele está melhorando, yeji acabou as provas hoje e vai pra lá amanhã, assim a mãe dele pode passar um tempo com o wonie, não tá sendo fácil pra eles, mas até que estão lidando bem. Um médico disse que se tudo der certo, vão tirá-lo da intubação amanhã e ainda essa semana ele acorda
   O coração do hwang automaticamente se encheu de um sentimento que não podia explicar, mas era bom, era muito bom, acho que se chama esperança.
     - eu sinto muito, sabe, por você não poder vê-lo... mas ele vai acordar e vamos todos poder conversar e vai dar tudo certo – seungmin sorria otimista e isso chamou a atenção de hyunjin, que nada disse
     - obrigado, sabe, por me contar, eu não queria perguntar para não ferir as decisões dele
     - eu sei, por isso eu contei, o innie é meio cabeça dura, mas é uma boa pessoa
     - é sim... – concordou ficando em silêncio por alguns instantes –vocês são amigos há um tempão, não é?
     - desde que éramos piticos, eu vi o innie passar por muita coisa e sempre tentei dar o meu jeitinho, eu não acreditava que realmente fosse ajudar, mas eu tentava
     - você foi tipo... um irmão mais velho?
     - não, eu SOU um melhor amigo, eu ensinei muito, mas também aprendi muito, era uma relação de dupla-troca, tudo era aprendizado, ele me ensinou tudo de mais bonitosobre esse mundo, e eu mostrei tudo de mais ordinário, como filmes de animação, o ensinei a andar de bicicleta, a como lamber o sorvete sem derrubar da casquinha e a até a beijar na boca!
     - o quê? – riu surpreso – como assim, mano?
     - bom...
   Flashback
   Seungmin e jeongin estavam em um quarto trancado, apenas dois adolescentes, um de 14 anos e o outro de 15, o mais velho deles só se passava de tímido, mas era bem namorador, já havia tido váriesnamoradinhespor aí. Safadinho.
   A pedido de jeongin, o ensinaria o básico para que ele pudesse então ter o famigerado primeiro beijo com alguém que fosse importante.
   Seungmin explicava um passo a passo simples e bem básico para que não assustasse o garoto de primeira. Em determinado momento, o mais novo avançou sobre si lhe dando um selinho e se afastando rapidamente.
     - innie! – comprimiu os lábios surpreso
     - desculpa, desculpa, você disse que precisava ser com alguém especial e eu não conheço nenhum menino especial e-e... – se embolava em palavras de forma que fez seungmin rir
     - tudo bem, tadinho do boiolinha – fez um biquinho zombando de jeongin – ok, já que você quer fazer isso, vamos fazer direito pro seu primeiro beijinho não ser um desastre igual o meu foi quando eu era mais novo
   O yang mordeu o lábio inferior nervoso, não sabia exatamente o que fazer, na verdade, o kim não era lá um bom professor, mas preferia aprender com ele do que com qualquer outra pessoa, pois acreditava que seria pior.
   O mais velho lhe deu cedeu espaço para que ele mesmo se aproximasse, assim, o mais novo, mesmo sem graça, segurou um dos lados de seu rosto, para então colar seus lábios levemente.    Apenas ficaram daquela maneira por uns instantes até que jeongin perdesse a vergonha e movesse os lábios. Foi apenas um beijo simples finalizado por alguns selinhos.
   Ao se afastar, o mais novo encarou seungmin, ainda nervoso.
     - innie... você beija bem, tem como me beijar de novo? – o kim sorriu, jeongin riu se sentindo aliviado
     - claro que não, minnie – negou ainda sorrindo
   Seungmin se sentia orgulhoso pelo menor mesmo pelas coisinhas mais bobas, queria que ele desse um passo de cada vez em seu tempo e a cada mini passinho de bebê, ele já o elogiava pelo que fez, porque se importava como seu melhor amigo.
   Flashback off
     - ele até criou uma musiquinha depois, sabe, pra ele lembrar do que fazer
     - é serio?
     - sim, deixa eu lembrar, era...

   "Começamos com selinhos, que têm gosto de desejo
   Te espalho mil beijinhos, que têm gosto de beijoPorque segurar seu rosto, me faz ter borboletas
   E te trazer pra perto, me deixa simplesmente à beira

   De te beijar por mais tempo, de te segurar mais perto
   De aprofundar esses toques, que têm gosto de desejo
   De apronfundar esse selar, que tem gosto de beijo"

   Hyunjin ouviu palavra por palavra da musiquinha de adolescente, sorrindo bobo e sentindo o rosto esquentar, não pôde deixar de imaginar se um dia jeongin a cantaria para si.
     - que fofinho – hyunjin exclamou sorrindo da forma mais apaixonada que um ser humano já pôde – ouvi dizer que o jeongin usava aparelho quando mais novo
     - USAVA! – o mais novo sorriu animado – era tão fofinho, tão bebezinho, tão cute cute
   O hwang sorria ao ouvir seungmin exclamar animado, aos poucos, contando várias histórias de jeongin quando mais novo, elas o faziam rir, o faziam imaginar um jeongin diferente, como se agora o pudesse ver de outro ângulo, de uma outra perspectiva.
   Uma vez o yang afirmou já o ter visto nú de todas as formas possíveis, e era verdade, nada a se negar, mas o que tinham era mais que isso. Hyunjin já havia tirado suas roupas, mas a cada dia mais desejava o despir de barreiras, de medos, de fronteiras entre eles, queria ser verdadeiro, queria receber verdade, queria ser confiável, queria receber confiança, ele queria amar e mais que tudo no mundo, ele queria ser amado de volta.
   Queria receber toda sinceridade de jeongin, mas esperaria pelo tempo dele, mesmo que ele caminhasse à passinhos de bebê, mesmo que levasse a vida toda, mesmo que não tivessem garantia do amanhã. Tudo isso porque o amava, e de tudo isso, de todo inferno astral que vinha passando, de toda a dor e sentimento de solidão, esse amor era a única coisa que desejava que não passasse, que permanecesse, que não fosse breve, temporário, ordinário, efêmero.

Total de Palavras: 4077 palavras.

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