Capítulo 15

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   Virtuoso

   É engraçado como o ser humano ama distorcer as coisas, como diz aquele ditado popular: quem conta um conto aumenta um ponto. Espalharam por aí que quem é virtuoso, ou quem tem várias virtudes, é uma pessoa talentosa, com bastante dinheiro e rodeado de pessoas, aquele que nunca deixa se abalar e têm uma vida cheia de prazeres. Balela. Ser virtuoso significa ser capaz de ter o discernimento, de tomar decisões justas, agir com a cabeça no lugar, não se deixar levar nem pelo excesso nem pela falta.
   Jeongin sempre foi uma pessoa que se deixa levar pela emoção, sem pensar em nada, se ele se sente ameaçado de alguma forma, ele foge, se ele quer rir – mesmo em um momento inoportuno – ele ri, se ele quer chorar, mesmo que haja milhares de pessoas a sua volta, ele chora. Ele é assim, no topo do mundinho dele, com uma coroa de papel na cabeça assinada como ‘rei dos idiotas’ e ele fica preso ali, em algum tipo de egoísmo, sem saber como descer daquele topo, ele queria visitar o chão um pouco, mas é difícil, ele só queria ser um pouco mais centrado, sensível de um jeito diferente, ele realmente queria ser virtuoso.
   O tempo passava diferente no jardim de infância, no palácio mental dele, que em partes era o próprio inferno astral, abriu tantas portas que podia fazer uma retrospectiva de todos os momentos altos e baixos de sua vida, gabaritaria em uma prova sobre si mesmo – o que é engraçado, já que um tempo antes, ele nem sabia porquê seu pai ele não tinham uma boa relação.
   Ele só deixou o jardim de infância quando teve certeza de que acordar, seria a decisão mais virtuosa naquele momento, então ele abriu mais uma porta, mas dessa vez essa porta era a verdadeira janela da alma, ele abriu seus olhos.
   Foi estranho acordar depois de tanto tempo em coma, ele não sabia quanto tempo havia se passado ao certo, mas sabia que era muito tempo, porque a tinta do cabelo de yeji já havia desbotado e devia ser uma quinta, já que as unhas não estavam feitas, ela fazia as unhas às sextas – mal sabia ele que, por mais que realmente fosse quinta, ela não fazia as unhas fazia três semanas.
   É claro que ao acordar, tudo foi festa, com yeji, com os médicos, com as enfermeiras, aparentemente, o caso dele chamou a atenção de muitas pessoas no hospital que oraram e mandaram boas energias para si, ele nunca se sentiu tão amado. Ele precisou ficar mais uns dias se recuperando, mas receber um abraço de sua família, de yeji e de seungmin, depois de tanto tempo, e depois de tudo o que viu nas portas, era muito bom.
   Foi ótimo voltar para casa e receber uma surpresa dos meninos, mas doeu saber que hyunjin não estava ali e que era completamente culpa sua, mas era melhor assim.
   Não era...?
   Yeji percebeu que o amigo parecia um pouco abatido, mas ele afirmou que era apenas um pouco de cansaço e o fato de ele não poder beber pela recomendação do médico. Poxa, doutor, só um shot...
   Com uma semana, era quase como se tudo houvesse voltado ao normal, tirando algumas coisas... tipo, o fato de todos a sua volta o tratassem como se ele fosse um boneco de porcelana, seungmin que estava assustadoramente mais carinhoso, e... bom, a falta de hyunjin. Mas não falaria dele, era melhor assim.
   Não era...?
   Deixou esses pensamentos de lado, chacoalhando a cabeça. Desde que havia voltado coma, ele estava pensando demais, tipo, muito. Sua cabeça havia se tornado um saco, a voz daquela maldita raposa o fazia perguntas idiotas que o deixavam confuso. Era chato vestir uma roupa e pensar em mil motivos pelos quais ele não deveria usá-la, também era ruim quando pensava em dizer algo e lhe vinha a mente diversas formas às quais aquilo lhe faria parecer idiota, e era mais difícil ainda... bom, o mais difícil era quando hyunjin lhe vinha à mente e ele ecoava em si, as lembranças se repetiam como um disco riscado e suas palavras sortidas eram ouvidas em si, de novo e de novo, tentando se encaixar de alguma forma, tentando fazer sentido, enquanto jeongin se ocupava tentando fazer com que elas não fossem verdade, porque era melhor assim.
   Não era...?
   Jungwon adentrou o quarto encontrando o irmão encarando o chão, apenas parado, pensando... pensando muito, pensando demais. Já havia o visto assim diversas vezes, acontecia cada vez mais, mas tentava se manter otimista para não o deprimir.
     - eai? Tá pensando no quê? – sorriu lhe chamando a atenção
     - nada não – devolveu o sorriso – precisa de algo?
     - precisamos conversar – movia as mãos, um pouco nervoso
     - claro, bebê, sobre o quê?
     - tem algo que eu tenho que te contar faz um tempinho, mas eu não achava a maneira ou o momento certo de contar, mas acho que agora é um bom momento – ele se sentou na cadeira de frente para si, deixando o mais velho preocupado
     - pois então diga logo, ora!
     - eu... eu encontrei minha alma-gêmea
   O queixo de jeongin caiu imediatamente, a expressão de choque logo foi substituída por um grande sorriso ainda carregado de surpresa.
     - o quê? pera, quando? Com quem? Como?
     - muitas perguntas, vamos por partes –secava as mãos nervosas na calça – o nome dele é Park Jay, ele é americano e tá terminando o ensino médio – sorria nervoso – quando você ficou mal, o sunoo tentou me animar e me chamou pra sair num rolê com o ni-ki e mais uns amigos dele, eu não tava muito à fim porque não conhecia a galera e eles eram mais velhos, mas a yeji disse que eu deveria ir só pra ver o que eu ia achar e realmente, a galera era muita foda
   O mais velho sorria ao assistir jungwon rir bobo enquanto lhe contava
     - os rolês eram tipo, sair à noite pra passear por aí, conversar qualquer merda e tomar energético
     - credo, indie de tiktok – fez careta
     - quer ouvir ou não?
     - continua, por favor
     - bom, em uma dessas noites eu e o sunghoon, um dos meninos, estávamos conversando e o jay apareceu, o sunoo disse que ele não vinha antes porque tava finalizando uns trabalhos e tudo mais, só que eu não consegui nem prestar atenção no sun, sabe, assim que eu coloquei os olhos nele, eu pude sentir tudo em mim se aflorar, a minha marca não chegou a arder era mais como... como...
     - como um incomodo, tipo uma alergia, então o interior todo se revirou e virou uma bagunça de sentimentos, era como se estivesse sentindo tudo no fim da garganta, como um grande êxtase interminável misturado com um gostinho de dúvida – disse ao automático sem encara-lo, apenas mantendo os olhos em sua própria rosa
     - isso mesmo! Como você sabe? – o mais novo tombou a cabeça para o lado
     - vi na internet – riu sem graça –volta a contar
     - ah, verdade! Daí nessa noite a gente trocou uns papos interessantes, mas era muito difícil não ficar olhando pra ele, ou querer sorrir mesmo que o assunto fosse sério, ele usava um óculos de armação fina e o sorriso dele era tão... – sorriu bobo – eu fui pegar uma latinha de energético e a minha mão esbarrou na dele, e foi ali, bem ali que eu realmente senti tudo em mim queimar, meus olhos se encheram de lágrimas involuntárias, eu me senti mais fraco e ele parecia sentir o mesmo, foi quando eu tive certeza de que eu e ele éramos parte um dos outro, almas-gêmeas
     - deixa eu ver sua marca!
   O garoto levantou a camisa onde mostrava uma marca de gato preto na cintura, antes era apenas a silhueta do corpo do animal, mas agora, ele tinha um longo rabo que fazia o formato da metade de um coração na extremidade de seu corpo, se jeongin estivesse certo, deveria se completar à de jay.
     - jungwon... – seu irmão o abraçou sorrindo – seu garotinho bobo, você está apaixonado, que fofo
     - o quê? apaixonado? Não – riu nervoso, logo desistindo de lutar contra isso – apaixonado? É... talvez eu realmente esteja apaixonado
     - ai que bom! Você já contou pra ele! – sunoo apareceu, sorrindo animado ao lado de seu irmão, seungmin
     - pois é... sobre isso – jungwon tentou dizer, mas foi interrompido
     - porque você sabe que eu sou péssimo em ficar guardando segredo e a agora seu irmão já sabe que você tá namorando e...
     - namorando?! – jeongin arregalou os olhos
     - SUNOO! – o mais novo repreendeu
     - JUNGWON! – seu irmão lhe chamou a atenção de novo, soltando um riso frouxo – meu Deus, eu pensava que era meme, meu irmãozinho é boiola
     - haha muito engraçado, vou criar um grupo chamado gays e seungmin – rolou os olhos
     - ué e por acaso o min é o quê?
     - espera, o seungmin não é hetero?
     - no momento eu diria que ele é gay não praticante – sunoo respondeu
     - ah vai encher o saco do papa, vai – mostrou língua pro mais novo – eu sou bi, wonie
     - só se for de biscate
     - KIM SUNOO – jeongin caiu na gargalhada
   Não poupou risadas que foram retribuídas por todos, até pelo próprio garoto o qual vinha sendo provocado pelos amigos, era muito bom ouvir o yang rir. Para jeongin, era muito bom ter motivos para sorrir.
   Um bom motivo pra sorrir era ter seus amigos por perto. No mesmo dia, estava na varanda de casa, apenas pensado... pensando muito, como sempre, mas um grande sorriso se abriu quando avistou minho e jisungvindo em sua direção. Deu pulinhos até eles, os abraçando em conjunto, vinham se vendo mais desde o acidente, era bom os ter por perto.
     - o que traz essas duas beldades à minha humilde moradia? – questionou sem deixar o sorriso de lado
     - viemos te ver, ué – minho tentava não demonstrar tanto interesse quanto o namorado, mas a cada dia que podia ver o pequeno, agradecia internamente
   Sinceramente, ele era como uma criança que cresceu demais, agora ele estava mais magro que de costume, mas algumas coisas não mudavam, como seu cabelo ondulado e escuro, suas roupas extremamente confortáveis, seus óculos de armação grossa e aquele sorrisão de quem nunca se cansa de ser feliz. Como uma criança, que infelizmente havia passado por coisa demais.
   Os chamou para entrar e talvez tomar um chá que a mãe dele havia preparado antes de sair, mas eles não pareciam ter vindo ali para tomar chá e fofocar sobre as vizinhas que passavam o dia brigando na rua de baixo. Jeongin percebeu pelas mãos inquietas, pela forma como sorriam nervosos, como se olhavam esperando que um deles desse o primeiro passo. Franziu o cenho colocando a chaleira sobre o fogão e cruzando os braços em seguida.
     - vem cá, têm algo à me dizer?
   O casal se entreolhou antes que jisung tomasse coragem para se pronunciar.
     - innie, eu entendo que aconteceu muita coisa naquele dia, que seu pai te falou muita merda, mas assim... quando você e o hyunjin vão sentar e conversar sobre isso?
     - não têm nada que eu já não tenha dito – deu as costas novamente, se concentrando em colocar chá nas xícaras
     - vocês nem conversaram, vocês brigaram, estavam de cabeça quente, nenhum dos dois estava pensando direito, precisam discutir isso juntos
     - discutir o quê? eu já falei, eu e ele não fomos feitos um para o outro, do contrário seríamos almas-gêmeas, e não somos
     - quem te garante? – minho arqueou a sobrancelha finalmente dizendo algo, que fez o mais novo engolir seco – olha, no dia que você entrou em coma, ele falou uma coisa que fazia sentido, mas depois não quis tocar no assunto, me pergunto o que vocês sabem que eu não sei, ou melhor, me pergunto o que vocês fingem não ver, porque me parece que está o evitando com medo de descobrir que está errado
     - escuta aqui – colocou a xícara de forma bruta sobre a mesa, travando o maxilar e apontando o indicador sobre sua face–é impossível sermos soulmates, já nos abraçamos, nos beijamos, transamos, nos olhamos, ficamos de mãos dadas, e toda essa porra de casal e minha marca continua intacta, como poderíamos nos conhecer por tanto tempo sem descobrirmos?
     - tanto tempo? – o mais velho riu incrédulo –eu conheço o jisung desde o ensino médio, nós ficamos, nós transamos, nós fizemos toda essa porra de casal também, a gente namorou por mais de um ano antes de descobrirmos que éramos soulmates e você me vêm como esse papo sendo que só conhece o hyunjin há três meses?
     - eu- espera... – franziu o cenho tombando a cabeça –três meses?
     - você estava inconsciente por quase um mês então eu nem sei se conta, mas é, três meses
   Jeongin ainda processava a informação quando se sentou encarando o chão. É claro que ele sabia o tempo que havia ficado no hospital, mas pensar que ele havia perdido um mês de sua vida era... era horrível.
     - innie – jisung lhe chamou – o mais sensato é você dizer tudo isso que quer dizer para o hyunjin, não estamos pedindo que voltem a ser amigos, ou ficantes ou seja lá o que eram, estamos pedindo que não seja injusto, ele merece saber exatamente o que você pensa, ele precisa dessa luz, porque sinceramente, ficar no escuro está o matando...
     - e-e como ele tá? – havia prometido para si mesmo que não perguntaria sobre isso, mas saiu sem pensar, pela primeira vez em muito tempo ele não pensou
     - quer sinceridade ou café com leite? – o lee exclamou
     - minho?! – hanlhe estendeu um tapa na coxa o repreendendo
     - sinceridade. – jeongin surpreendeu jisung
     - ele tá mal, innie, ele tá muito solitário, seungmin viu ele há um tempo, mas só isso, ouvi dizer que tá mais magro,que treina até tarde no estúdio da faculdade e que só sai pra treinar pra apresentação de sábado,não tá no dormitório desde o acidente, não queria receber noticias suas, mas não porque não te ama, é porque te ama demais, o bastante para respeitar sua decisão de que ele não poderia o ver, aliás, que merda você tinha cabeça?
     - mas que porra, minho, tem como parar de falar assim com o garoto?
     - mas ele...
     - eu tive meus motivos – o yang cortou os dois – se hyunjin me visse, precisaríamos conversar e eu não quero vê-lo chorar novamente
     - então não o faça chorar
     - mas ele choraria apenas por me ver chorar
     - não chore.
     - fica difícil quando eu estou falando pra quem eu mais amo que a gente não pode ficar junto! – soltou o que vinha estando preso em sua garganta – mas que porra, eu amo tanto ele, amo tanto que dói, amo tanto que tive vontade de voltar correndo e limpar suas lágrimas no dia do acidente, e era o que eu faria, mas eu fui atropelado se não se lembram, assim, eu entendi que era um sinal do universo, não somos um do outro e minha cota de egoísmo já basta para mim
     - espera, você também ama ele? – han se aproximou manso
     - amo, é claro que amo, eu só quero o bem dele, poxa, se eu fosse morrer hoje eu pediria mais cinco segundo só pra me perder no brilho daqueles olhos uma última vez
     - você chegou perto demais da morte, me admira ainda não aprendido que não se pode deixar para amanhã o que se pode fazer hoje –o lee não entendia a dificuldade do caso
     - é que é difícil, parte de mim o quer perto, quer cheirar o cabelo que eu por vezes menti dizendo que era fedido quando na verdade eu amava afundar a face nele e sentir o corpo dele próximo ao meu, eu queria beijar a boca que eu ouvi dizer que me amava e nunca retribuí, eu queria segurar as mãos que não quiseram me deixar partir, eu queria tanto, mas tanto, o segurar entre meus braços não deixar que fosse nunca mais, mas o problema não é a parte que o atrai para mim, é a parte que o repele –soluçou – da raposa eu gosto, porque a raposa o quer perto de mim, mas sou eu quem o mantém longe, sou eu que me imponho limites, sou eu o desgraçado afetado por uma infância fodida, o hyunjin não merece amar alguém assim, talvez se eu fosse um pouco mais da minha raposa, mas eu perdi ela, ela tá presa lá no jardim de infância, e eu nunca me senti uma ameaça tão grande para mim mesmo
   Chorou com a cabeça baixa fazendo o casal se entreolhar diversas vezes sem saber o que fazer. Se ajoelharam de frente para ele, han segurou sua mão e lhe limpou as lágrimas.
     - eu não entendi bulhufas do que você falou, mas acho que peguei a ideia – sorriu cúmplice–sabe o que é ser virtuoso, innie?
     - não...
     - é alguém justo, que sabe tomar boas decisões, que as faz bem pensadas, que pensa tanto nos prós como nos contras e os pesa na balança para ver o que vale a pena, talvez você deva ouvir essas vozes na sua cabeça, só um pouquinho, mesmo que doam, elas vão te dizer prós como vão te dizer contras, você é um moço cheio de virtudes, jeongin, você é inteligente o suficiente para saber o que é certo ou errado sobre o que seu pai te disse
   Lhe abraçou por alguns segundos antes de levantar seu queixo.
     - se quiser, podemos te acompanhar quando for falar com ele, tome seu tempo, mas pense sobre isso, ok?
   Jeongin assentiu, ele faria isso, ele pensaria, era o que mais vinha fazendo. Pensando. Pensando... pensando muito.
   Ele passou a terça pensando nisso, passou a quarta e todos os dias da manhã semana até a quinta. Ele não parava de pensar nisso, era como se sempre pudesse pensar em duas coisas ao mesmo tempo, o dia a dia e hyunjin.
   Aquele nome uma vez teve gosto de mel, de quero te ver amanhã de novo, de que uma despedida nunca seria necessária, apenas um até mais tarde.   Era sobre beijos molhados, selinhos estralados, assistir filmes abraçados,fazer sexo com a luz acesa para não perder um segundo daquela vista, olhar as estrelas de mãos dadas, falar mal dos outros e rir cúmplices, beber cervejas e reclamar da vida, fazer ligações até que um deles dormisse, se prender em no olhar um do outro sem pretensão de fugir dali. Mas agora jeongin só queria fugir, e aquele nome, era quase uma maldição.
   Passar pela praça do centro lhe lembrava do hwang, por isso ele pegava o caminho mais longo para o ponto de ônibus. A rua de trás da sua casa o lembrava dele, porque foi onde hyunjin o carregou nas costas enquanto ele das reclamações alheias, por isso, só ia pela rua da frente. A casa de yeji o lembrava dele e sabia que ele estava lá, então nunca mais foi lá. Jogos de vídeo game, filmes assustadores, ligações até tarde, festas cheias, trancinhas, flores, rosas, tinta à óleo, dança, absolutamente tudo tinha gosto, som, cheiro e essência de hwang hyunjin, por isso os evitava, não porque não queria vê-lo, ele só queria tanto que doía não conseguir.
   Era fim de tarde na faculdade, pegava suas coisas partir para casa, quando ouviu duas garotas conversarem e se aproximou como quem não quer nada, apenas para ouvir.
     - você viu que um aluno da faculdade de artes do instituto aqui perto vai se apresentar no teatro de Seul? – uma delas comentou
     - mentira! Nem ouvi, e fala aí, quem ele é? – a outra questionou
     - ai eu não lembro o nome, espera, segura aqui meu caderno, eu tenho o Instagram dele – ela deu o material para a amiga – aqui, não diz o nome, mas o endereço é @hwang_jin, já vi gente chamando ele de hyunjin, acho que é esse o nome dele
     - puts, mó gatinho, será que ele tem namorada? – elas riram em uníssono
   Hyunjin. Hwang hyunjin. Elas estavam falando dele. Ele conhecia o Instagram do hwang, tinha muitos seguidores, de verdade, muita gente apreciava o trabalho dele e agora aparentemente, ele havia ficado com o papel principal na apresentação pela qual ele audicionou e seus seguidores só aumentavam. Quando estavam “juntos”, jeongin precisava confessar que sentia um pouco de ciúmes, a maioria daquelas pessoas apenas o seguiam pela sua aparência e hyunjin merecia mais do que comentários como “visual <3” ele merecia ser exaltado pelo talento que tinha.
     - bom, se tu tá interessada, é melhor entrar na fila
     - ué, por quê? Ele namora?
     - primeiro que ele tem MUITA gente querendo o mesmo que você, amiga –riu com a expressão da outra – e mais, há alguns meses ele vinha postando fotos de mãos dadas com alguém, parecia um garoto, mas ele nunca mostrava mais que as mãos
     - que misterioso...
     - tem mais, tem um murmurinho de que um importante critico americano vai estar aí na apresentação dele no sábado, o gatinho pode ganhar uma puta promoção e partir direto para os USA
     - eita que subiu na escada da fama rápido...
   Jeongin não pôde ouvir mais, elas se afastaram, mas era como se a voz delas ainda estivesse colada ao seu ouvido. O hyunjin podia... ir embora? Vinha estando afastado dele, prometeu para si mesmo que não se aproximaria novamente, mas pensar que ele poderia perder completamente o contato com o hwang lhe causou arrepios.
   Virtuoso, ele seria virtuoso.
   Saiu do local à passos apressados discando o número de jisung. Assim que o mais velho atendeu, ele não cumprimentou, nem avisou, foi direto ao ponto.
     - beleza, eu quero ver o hyunjin e quero que vão comigo
     - é sério?! Meu Deus, que bom innie!
     - é, mas você não pode contar pros meninos e nem para ele
     - quer fazer uma surpresa?
     - só não quero que nenhum deles criem muita expectativa em uma simples conversa
     - ah... onde e quando você quer fazer isso?
     - sábado, no teatro.
     - mas-
   Não esperou pela resposta do outro, não tinha energia o suficiente para desenvolver um diálogo elaborado, aquilo ali era o que seu corpo o permitia no momento. Ele só queria chorar, não podia acreditar que realmente faria isso.
   Yang jeongin vinha sendo uma pessoa pensante. Ele pensava... pensava muito, mas não era do jeito bom, era do tipo que pensa demais, mais do que o próprio organismo pode aguentar, é uma preocupação excessiva, um nervosismo descontrolado, uma ansiedade sufocante, e tudo isso estava o matando. Porém, pela primeira vez, tomar uma decisão por pura compulsão, pareceu ser um grande ato de virtude.

Total de Palavras: 3740 palavras.

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