Os terrenos da Mansão Malfoy brilhavam serenamente sob uma espessa camada de neve fresca, que deve ter caído enquanto ele estava fora. Suavizou a paisagem austera e abafou suas bordas ásperas, fazendo Draco parar enquanto passava pelas grandes e imponentes janelas no corredor do segundo andar da ala leste. Ali, perto daquele grande carvalho, ele construiu seu primeiro boneco de neve quando tinha cinco anos, sob a entusiástica supervisão de sua mãe e ali, onde a neve parecia um pouco mais plana, estava o tanque de peixes enterrado sobre o qual seu pai o ensinara a patinar no gelo. Na solidão gritante provocada pelos dias silenciosos de inverno, ele se lembrou deles com mais força do que o habitual e mesmo agora, parado diante da janela fria, ele podia ver seus fantasmas, deslizando sobre a neve, sorrindo e acenando para ele. Ele podia ouvi-los chamando seu nome.
O sorriso de sua mãe sempre o lembrava do nascer do sol e sua risada era a da brisa de verão. Ele não estava surpreso que hoje, de todos os dias, ele os visse com mais clareza. Sua mãe sempre amou neve recém-caída e seu pai a amou feliz. Era em dias como este que eles estavam ancorados com mais segurança no mundo dos vivos; eles nem sempre estavam por perto, mas quando estavam, ele se sentia um pouco menos isolado.
"Draco... a neve está linda hoje... venha brincar comigo." Ele sorriu e estendeu a mão aberta sobre o vidro, duro e frio sob sua palma. O eco das palavras dela zumbiu em sua memória tão quente e ricos, como tinham sido no passado, quando ela estava viva. "Saia e brinque comigo!" Ela ria, suas feições refinadas relaxando em um sorriso feliz e animado. O manto forrado de pele e luvas vermelhas que ele tinha dado para ela no Natal quando ele tinha oito anos. E ela parecia tão feliz. Ao olhar para as figuras etéreas no gramado coberto de neve, ele se perguntou quando o sorriso do fantasma dela ficou tão nebuloso. Ele não conseguia mais distinguir a cor dos olhos dela. Não eram azuis, como o céu calmo da tarde? A tonalidade deles havia se perdido com o tempo e por um momento ele de repente não conseguia respirar pela perda.
— Eu não posso. Você não é minha mãe; você é apenas uma sombra. — Seu coração doeu com o conhecimento, mas de uma maneira familiar, da mesma forma que fazia toda vez que ele tentava se afastar das formas incorpóreas que o assombravam por quase três anos. Às vezes ele não conseguia. Às vezes ele os respondia, ouvia-os em vez de se afastar. Não importava de qualquer maneira; a dor era sempre a mesma. O pior era que eles não eram fantasmas de verdade, não como o Barão Sangrento ou Nick Quase Sem Cabeça. Eles não podiam ser vistos por mais ninguém porque eram feitos de sua própria dor e solidão. Ele sabia disso e mesmo assim...
"Venha... venha, Draco... a neve... venha brincar comigo , meu querido..." era sedutora, a voz, assim como ele se lembrava dela e o espantava às vezes que ele ainda não tinha cedido e tentado juntar-se à sua pais. Três anos era muito tempo para ficar sozinho com nada além de fantasmas. Ele tinha pensado sobre isso muitas vezes, sobre como seria fácil. E então ele pensava nos olhos verdes brilhantes e em como eles ficavam quando lhe diziam para não desistir. Agora ele podia olhar para a neve brilhante e as figuras de seus pais que não eram reais e ele só se sentia triste. O vidro ao redor de sua pele começou a embaçar com o calor de seu corpo e ele quase podia sorrir quando respondeu.
— Outra hora, mãe. — Ele respirou. — Lembra daquele menino de olhos verdes? Ele está aqui e precisa de alguém agora... eu pretendo ser esse alguém. Eu devo ficar aqui. — Parecia estranho dizer as palavras em voz alta, mesmo que elas estava queimando em sua mente por alguns dias. Como se carregassem mais peso, tornou-se quase uma promessa, se não diretamente para Harry, então para si mesmo. Seus fantasmas não podiam ouvi-lo, é claro. Eles nunca responderam às suas palavras, mesmo quando ele tentou conversar com eles. Eles apenas proferiram frases que ele sabia que os ouvira dizer enquanto estavam vivos. Ainda assim, foi bom dizer isso em voz alta e ele se virou para olhar no corredor para a porta atrás da qual Harry agora residia. Um homem que tinha seus próprios fantasmas, aqueles que o estavam atormentando mais solidamente do que Draco jamais teve. Para si mesmo, ele sussurrou: — Ele.
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Miles to go before I sleep [pt/br] • drarry
FanfictionQuando Pansy procura Draco quase três anos depois da guerra para pedir sua ajuda com nada menos que um Harry Potter abusado e frágil, o que ele poderia fazer além de dizer sim? Afinal ele estava apaixonado por Harry desde os onze anos. ≻───── ⋆・ 。゚☆...