Capítulo 2

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Lembrando que a Karla não era muito religiosa, ela acreditava que existia reencarnação apenas.

Camila Cabello Point Of View
Salém, Massachusetts
19 de agosto de 1692

Estava sentada no sofá conversando com Janet, quando ouvi batidas fortes na porta. Estranho, será que Lorenzo esqueceu a chave novamente?

ㅡ Deixa que eu abro. - Janet anunciou.

Ih, tô sentindo que boa coisa não é.

ㅡ Aqui é a Residência de Karla Estrabão e Lorenzo Morgado correto? - Estremeci
com a pergunta que fizeram a Janet.

Não é possível que hoje seja o dia da minha morte, é? Ainda não estou pronta e Lorenzo está trabalhando.

ㅡ Sim, o que posso fazer pelos senhores?

ㅡ Chame Karla Estrabão,imediatamente.

ㅡ Posso saber o motivo ? - Insistiu Janet.

ㅡ É melhor você não saber, a não ser que queira ter o mesmo fim que ela.

Senti um bolo na garganta, estava suando frio. Antes que pudesse processar já estava escrevendo um recado para Lorenzo. Eu não poderia ir sem me despedir.

Querido, Lorenzo ...
Escrevo lhe pois estou prestes a morrer, não tive tempo de lhe abraçar uma última vez. Eu lamento que nossa história de amor tenha terminado tão tragicamente, não se culpe, você não sabia que isso iria acontecer hoje. Se soubesse teria ficado em casa, eu sei. Te conheço o suficiente para saber que não vai aguentar a dor da minha morte, então peço desculpas. Eu jamais escolheria te deixar, você é a pessoa que eu mais amei durante toda a minha vida. Meu sonho sempre foi ter filhos com você, mas infelizmente não podemos ter, espero que me perdoe por isso também. Tente seguir em frente, ache alguém que te faça tão feliz quanto você me fez durante todos esses dez anos de compromisso. Nunca esqueça que eu te amei até o meu último suspiro, juro por tudo que é mais sagrado que eu vou te encontrar em nossas próximas vidas. Adeus, Lorenzo.
Com amor, Karla.

Guardei o bilhete dentro de um terno do meu marido e fui até a porta, enquanto minha querida amiga tentava argumentar com os policiais.

ㅡ Ela é inocente, vocês precisam acreditar! - Afirmou com afinco.

ㅡ Ninguém é inocente, senhora. Agora por favor, chame-a ou deixe que entremos para buscá-la. - O policial rechunchudo reclamou insatisfeito.

ㅡ Não é necessário, já estou aqui. - Falei fitando firmemente os policiais que me olhavam incrédulos. Eu queria mostrar a minha coragem, já que é pra morrer que seja com dignidade.

ㅡ Karla, o que você tá fazendo? Não pode ir! - Janet questionou com os olhos cheios de lágrimas.   ㅡ Eu não posso perder minha melhor amiga.

ㅡ Você vai ficar bem, eu te amo maninha.

Abracei minha irmã de consideração e sequei suas lágrimas com a minha mão.

ㅡ Deixei um bilhete para Lorenzo, está dentro do terno branco. Por favor entregue. - Sussurrei em seu ouvido, deixando um beijo em sua bochecha.

Sorri ao vê-la assentindo com a cabeça, segurei sua mão uma última vez e fui embora acompanhada por dois policiais.

A fogueira estava montada na praça, bem perto de onde eu morava. Infelizmente Janet poderia assistir tudo...
Ela vai ficar destruída, sou a mais próxima de uma familia que ela teve.

Os policiais me arrastaram para um cela com várias outras mulheres consideradas bruxas. Me encostei na parede e fechei meus olhos, me perdendo em pensamentos.

ㅡ Eles todos vão queimar no fogo do inferno por matar mulheres inocentes. - abri os olhos ao ouvir uma voz suave ao meu lado.

Observei a mulher de baixa estatura, loira e com os olhos pretos. Ela me olhava profundamente, era capaz de ver minha alma.

ㅡ Eles são incapazes de enxergar quem é inocente ou culpado.

ㅡ Calem a boca! Você é a próxima - O padre apontou para mim.

Os policiais me puxaram para fora da cela e levaram para o centro da praça, comecei a reclamar e me mexer tentando sair dali, mas já tinha se tornado impossivel. Cerca de cinco homens ficaram a minha volta para impedir qualquer tentativa de fuga. Eu havia decidido me entregar realmente, porém a sensação de morte eminente é aterrorizante.

ㅡ Amarrem ela lá em cima, e acendam a fogueira!  - Um deles gritou, ja não sabia mais quem era quem, havia tantas pessoas olhando. Algumas pareciam irritadas e protestaram e outras gostavam e pronunciavam palavras horrendas para mim.

Comecei a chorar quando me amarraram na fogueira, gritei de dor assim que o fogo me queimou de fora para dentro. Era possível sentir minha pele derretendo, tudo estava tão quente. O cheiro da minha pele queimada me deixou nauseada. Meus gritos de desespero se tornaram cada vez mais alto, pedi mentalmente forças a qualquer tipo de Deus ou entidade que pudesse me ajudar nesse momento.  Já não conseguia enxergar nada a minha frente, por que eu não parava de chorar. Meus dedos dos pés derreteram completamente, quando o fogo chegou nas minhas pernas, perdi totalmente o rumo e acabei desmaiando ou talvez tenha morrido, não sei ao certo.

Beyond time  ㅡ CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora