Capítulo 16

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Narradora Point Of View

New York, Estados Unidos
15 de Maio de 2018

ㅡ Vim te visitar, meu amor.

Michelle soltou uma risada alta, o que não passou despercebido por Keana, que levantou uma de suas sobrancelhas. Com um sorriso irônico no rosto, atravessou a sala com os saltos batendo contra o chão, seu olhar firme fixado na mulher à sua frente, sentada em seu lugar.

Inevitavelmente, a ex-companheira de Lauren tremeu, mesmo que discretamente. Seu olhar ainda era desconcertante e visceral, causando um embrulho em seu estômago. No mesmo instante, sentiu um arrependimento por tê-la procurado após tanto tempo.

ㅡ Eu não sei quem teve a incompetência de deixar você entrar na minha sala. Evidentemente, será demitido. - Afirmou com empáfia. ㅡ Se você ao menos tivesse o bom senso de se manter longe de mim e assumir o papel de uma boa ex, seria ótimo.

Lauren agarrou o braço da mulher e a afastou de sua cadeira, sentando-se ali. Ligou o computador e organizou os papéis em sua mesa, ignorando a presença da pessoa à sua frente. Keana, por sua vez, acomodou-se no sofá, cruzou as pernas e apoiou a cabeça no encosto. Issartel preferiu, por alguns segundos, focar em si mesma, caso contrário teria um colapso ao pensar que o toque de sua ex-mulher em seu braço continuava presente, mesmo após todos os anos. Ah, como sentia falta daqueles toques.

ㅡ Vou lhe perguntar novamente, pois seu cérebro deve ter delay: o que você está fazendo aqui? - Questionou com indiferença, não demonstrando estar afetada com a presença da ex-tóxica.

Pareceu voltar à realidade ao ouvir a voz rouca, que soava tão incomodada. Arrumou a postura no lugar e a fitou de cima a baixo, sem disfarçar. Sentia tanta falta do corpo macio de Lauren em contato com o seu, o cheiro de rosas e o hálito de menta. Se culpava por tudo que tinha feito a ela, e agora queria uma chance de consertar as coisas.

ㅡ Está ficando surda também, minha filha?

ㅡ E-eu queria conversar com você... - Respondeu em voz baixa, como se estivesse confessando um segredo.

ㅡPois eu não quero, pode ir embora.

Os olhos de Lauren se mantiveram na leitura que tentava prestar atenção, grifava com um marcador as partes mais importantes de seu caso, enquanto tentava dispensar Keana.

ㅡ Eu me arrependo de tudo que aconteceu, Lo. Só quero uma chance.

Embora o tom de voz pareça sincero, Lauren sabia das artimanhas e mentiras de Marie. Não poderia acreditar em uma palavra que saiu de sua boca. Todos os dias, lidava com clientes mentirosos que atuavam tão bem quanto sua ex, mas não tinham escrúpulos.

ㅡ Não seja ridícula, você e eu sabemos que, se pudesse, me prenderia em nosso antigo apartamento novamente, só para que eu não saísse com minhas amigas. Seu ciúme obsessivo é a razão dos meus problemas nos relacionamentos. Eu não vou cair nessa, Keana.

Keana se levantou, tentando se aproximar, mas foi contida com um simples aceno de mão. Sabia que, naquele lugar, seria obrigada a sair. Talvez em outra oportunidade, pensou.

Morgado sofreu por dois anos em seu casamento, sendo dependente emocionalmente e sem perceber as obsessões ciumentas. Quando a conheceu, tudo era perfeito: gentil, amorosa, protetora e amigável. Casaram-se e foram morar juntas, e a nutricionista obrigou a esposa a trancar a faculdade de direito para cuidar da casa e, futuramente, de seus filhos. Verônica tentou alertar a melhor amiga sobre o relacionamento tóxico que enfrentava, mas o amor era cego. Achava que Keana a amava demais e queria se dedicar ao casamento, mesmo que sacrificasse sua profissão. As palavras manipuladoras controlavam todas as suas ações. Isso até o primeiro tapa, o primeiro empurrão que desencadeou vários outros. Foi aí que ela abriu os olhos e, com a ajuda de suas amigas, fez as malas e saiu de casa. Não permitiria ser agredida pela mulher que jurava amar.

Beyond time  ㅡ CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora